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Governo Bolsonaro
Coluna
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O momento mais perigoso de nossa curta vida democrática

Momentos de tensão criam o palco de reação para o grupo subversivo que sequestra e deturpa a religião, a soberania e a liberdade para justificar a violência. O terreno no Brasil é fértil para tais manipulações

Jamil Chade
Presidente Jair Bolsonaro desfila em Brasília no 7 de Setembro.
Presidente Jair Bolsonaro desfila em Brasília no 7 de Setembro.Eraldo Peres (AP)

Último recurso dos canalhas, o patriotismo entrará em cena nesta terça-feira. Levará uma bandeira repleta de cores que, ironicamente, seja talvez o único sinal de tolerância na mão daquele que a segura. Apresentado como uma falsa fundação de uma sociedade que jamais se aceitou em sua composição, o sentimento oco de pátria não passará de um instrumento de corrupção da identidade com um único objetivo: o poder.

O que está em jogo em Brasília, São Paulo ou em outras cidades do país nestes dias é certamente a sobrevivência da combalida e incompleta democracia brasileira. Mas, para o mundo, o 7 de Setembro também será um teste da força do radicalismo nacionalista de extrema-direita, travestido no Brasil de “Bolsonarismo”.

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Desde o fim do governo de Donald Trump, nos EUA, as atenções do movimento de ultradireita passaram a ser a manutenção da plataforma brasileira como terreno de ação para suas operações domésticas e internacionais. Canais financeiros e de influência foram estabelecidos, assim como redes extraoficiais de coordenação entre movimentos racistas, xenófobos e violentos. Hoje, esse espaço de atuação no Brasil para a extrema-direita está sob a ameaça, diante da força da resistência que foi capaz de encurralar a besta.

Mas é também nesse momento de tensão que se cria o palco de reação para o grupo subversivo que sequestra e deturpa a religião, a soberania e a liberdade para justificar a violência. O terreno no Brasil é fértil para tais manipulações. Não resolvemos o passado. Nem recente e nem distante. E o resultado é o autoritarismo que ressurge sem vergonha, sem pudor e gargalhando de uma sociedade já oprimida.

Uma tendência autoritária que vai se alimentar da promoção do ódio, a revanche dos covardes, como diria George Bernard Shaw.

Hoje, vivemos o momento mais perigoso de nossa curta vida democrática. Já nos habituamos a falar numa mesa de bar sobre datas de um eventual golpe, na hipótese de violência política, na visita de uma neonazista ao palácio presidencial, nas homenagens a torturadores e nos ataques contra os direitos fundamentais. Normalizou-se o crime e, com isso, cavou-se a própria cova das liberdades.

Hoje, nas instituições da República, nos almoços de família ou nas redações, quem se omitir será cúmplice. Quem se calar não poderá reclamar, quando a anestesia acabar, que vive sob um regime onde a morte se comemora e onde a vida se despreza.

Sem nenhum exagero, a realidade é que das próximas horas resultará nosso futuro. Pelos atos nas ruas, mas também pelas decisões que serão tomadas pela sociedade e suas instituições. O 7 de Setembro de 2021 é provavelmente o mais importante desde 7 de Setembro que pariu a ficção chamada Brasil. Desta vez, o que está em jogo é a promessa inegociável de termos em nossas mãos a esperança de controle de nossos destinos. E que atende por um nome: democracia.

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