_
_
_
_
_
Pandemia de coronavírus
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O jogo dos mesmos erros com a variante indiana no Brasil

Não faltaram alertas, mas, de novo, houve imobilismo que custará vidas. O Brasil administra e tolera mortes, não está interessado em conter a covid-19

Paciente com suspeita de estar com covid-19 é atendido no Rio.
Paciente com suspeita de estar com covid-19 é atendido no Rio.PILAR OLIVARES (Reuters)

Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise. Se você quer apoiar nosso jornalismo, clique aqui para assinar.

Um ano e seis meses depois da eclosão da pandemia de coronavírus no Brasil entramos num looping perverso. Os jornalistas repetem os alertas que escutam dos epidemiologistas e especialistas e, não tendo mais remédio, também noticiamos as reaberturas de comércio no primeiro sinal de que os números de mortes e internações por covid-19 baixaram um pouco, apenas um pouco, nos hospitais. Estamos num novo ciclo agora, com os mesmos erros sendo repetidos, passo a passo. A angústia da vez, que acompanha a alta dos números que levam São Paulo a ter, de novo, mais de 80% dos leitos de UTI ocupados, é o impacto que a variante indiana do vírus terá no país. Tudo isso no contexto em que o Brasil estacionou num patamar alto de mortes pela doença e ainda mantém um ritmo errático de vacinação.

Mais informações
(FILES) In this file photo taken on March 26, 2021 a COVID-19 patient is treated in a hospital set up at a sports gym, in Santo Andre, Sao Paulo state, Brazil. - The COVID-19 coronavirus has claimed more than one million lives in Latin America and the Caribbean, where vaccination is proceeding too slowly to halt the pandemic, unlike in places like the United States and Europe, which are already seeing a way out of the crisis. (Photo by Miguel SCHINCARIOL / AFP)
PODCAST | Miguel Nicolelis: A terceira onda chegou e com ela a variante indiana
Rio de Janeiro's Health secretary Daniel Soranz applies a dose of Pfizer/BioNTech coronavirus disease (COVID-19) vaccine to a pregnant citizen to mark the beginning of its administration in Rio de Janeiro, Brazil May 4, 2021. REUTERS/Ricardo Moraes
Busca por atestados falsos para vacinar contra covid-19 preocupa médicos: “Não é só uma receitinha, é fraude”
Un sanitario toma muestras a una mujer para una prueba PCR, en el hospital militar de Sevilla.
Mesmo assintomáticos, vacinados e curados de covid-19 podem transmitir o vírus

Há semanas o colapso da Índia domina o noticiário, mobilizando os países a pelo menos tentar impor alguma barreira sanitária nas fronteiras, por mar, terra e ar. Por aqui, muito pouco, e olha que há documenta experiência internacional a respeito. Mais uma vez, com o Planalto jogando contra, mas também com os governos estaduais imóveis, esperamos dar errado primeiro. Nesta quarta, quando o Brasil já contabiliza ao menos sete casos da nova variante indiana, algo começou a se mexer. A Prefeitura de São Paulo enviou uma comunicação na qual informa em que, após reunião com a Anvisa, vão começar a fiscalizar o aeroporto de... Congonhas, grande hub de circulação interna. Mas e Guarulhos, a maior porta de entrada dos estrangeiros no país? Pois bem. Há uma portaria que veta voos diretos da Índia desde 14 de maio. E pede um teste tipo PCR prévio dos passageiros. Nesta semana, provou-se como a estratégia não é suficiente. De Guarulhos saiu um passageiro que veio da Índia que vinha com PCR negativo e foi testado para a nova variante. Foi autorizado a viajar a Campos dos Goitacazes, no Estado do Rio, antes de o resultado de que de fato carregava a nova cepa ficasse pronto... Em vários países isso simplesmente não seria possível. Os passageiros teriam de ficar em quarentena antes de poder circular.

O erro na conduta é mais grave pelo resto que já sabemos. Há meses o Brasil convive com um apagão da vigilância genética. Não testa o suficiente nem tem como analisar o tipo de vírus causador da doença. Por que seria diferente com a variante indiana? Nesta quarta, enquanto placidamente admitia que o país se prepara a terceira onda, o ministro Marcelo Queiroga confirmava a demissão da infectologista Luana Araújo, que permaneceu apenas dez dias no comando da recém-criada Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Motivo? Não foi aprovada “politicamente” pelo Planalto.

Enquanto o looping se renova, às custas de novas milhares de vidas a cada volta, seguimos tristes e brasileiros, como diz o meme, e vemos o futuro se desenhar em outros países, após vacinação em massa e lockdown sério.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_