_
_
_
_
_
Pandemia de coronavírus
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

O Brasil invisível e anônimo que carrega a dor da pandemia

Os anônimos que se expõem ao perigo para que o país não paralise merecem ser lembrados para sempre como exemplo não só de civilização, mas de grandeza de alma e de coração

Entregadores de aplicativo protestam por melhores condições de trabalho, em 1º de julho, no Rio.
Entregadores de aplicativo protestam por melhores condições de trabalho, em 1º de julho, no Rio.RICARDO MORAES (Reuters)
Juan Arias
Outros artigos de Juan Arias
Tercio Galdino, 66, and his wife Aliceia, 65, wear their protective 'space suits' as they walk on the sidewalk of Copacabana Beach amid the outbreak of the coronavirus disease (COVID-19) in Rio de Janeiro, Brazil, July 11, 2020. REUTERS/Ricardo Moraes
O coronavírus é o grito desesperado da Terra ferida
Metges i sanitaris saluden els veïns des de la terrassa de l'hotel Terrassa Park, reconvertit en hospital.
Um Nobel da Paz póstumo para os profissionais da saúde vítimas do coronavírus?
AME4443. RÍO DE JANEIRO (BRASIL), 21/04/2020.- Un barbero de la favela de Mandela trabaja con tapabocas este martes durante la pandemia COVID-19, en la zona norte de Río de Janeiro (Brasil). EFE/Antonio Lacerda
O coronavírus dos ricos e o coronavírus dos pobres

Quando esta guerra contra o coronavírus terminar, todos os trabalhadores invisíveis e anônimos terão que ser condecorados, a maioria entre os mais pobres, que estão se sacrificando para que o país não pare.

É o Brasil que merece nosso respeito, gratidão e amor. É um Brasil sem guerras ideológicas, de direita e de esquerda, que se sente unido por uma mesma responsabilidade para com o país. Esse Brasil heroico que mantém o país funcionando e evita milhares de vítimas. É o que não distribui armas para se matar, mas serviços para que a maioria da população possa pensar em se proteger melhor do contágio. É esse exército que todas as manhãs deixa a segurança de sua casa para que os mercados, as farmácias, o serviço de coleta de lixo, os transportes e a segurança pública continuem funcionando. E toda essa nuvem de sacrificados entregadores para que não falte comida à grande maioria das pessoas.

São os que no anonimato cuidam dos hospitalizados, bem como os coveiros que até substituem os parentes dos mortos no carinho que eles não podem lhes dar na despedida.

E existe esse outro exército anônimo de pessoas de todas as categorias que estão ajudando de mil maneiras aqueles que ficaram sem nada e não têm nem o que comer. Penso nos meus amigos César e Fátima que cozinham todos os dias para que 100 crianças de famílias carentes de uma pequena cidade na região dos Lagos, no Rio de Janeiro, possam comer um prato de comida quente todos os dias. É esse rio de generosidade que está correndo pelas veias de milhares de brasileiros. E é o Brasil não envenenado pela política do ódio e para quem a dor alheia está acima das ideias políticas e religiosas.

É o Brasil que nos momentos de dor nacional descobre seus melhores sentimentos de empatia e compaixão pelo próximo que sofre. É o Brasil que faz com que nos momentos dramáticos de calamidade e de luto seja capaz de mobilizar dentro de si o mais sublime do ser humano, como a capacidade de detectar a dor dos outros.

E não falo de religião. Nos Evangelhos, na parábola do bom samaritano, Jesus elogia o ateu que passando ao lado de um ferido o leva consigo para curá-lo, enquanto critica o religioso que, pelo contrário, havia passado sem nem sequer parar diante do homem ferido. Não é uma questão de religião, mas de ter um coração de sangue ou de pedra.

E é esse rio de generosidade nos momentos dramáticos da vida de um povo o que o torna digno de ser recordado na história. Esse Brasil anônimo que está se sacrificando e se expondo ao perigo para que o país não paralise merecerá ser lembrado para sempre como um exemplo não só de civilização, mas de grandeza de alma e de coração.

Muitos deles também serão vítimas da pandemia e nos terão deixado o exemplo de sua dignidade como cidadãos e pessoas. Para nós deverão continuar vivos em nossa gratidão e recordação. Este é o melhor exemplo de civilização que poderemos ensinar às crianças nas escolas.

Informações sobre o coronavírus:

- Clique para seguir a cobertura em tempo real, minuto a minuto, da crise da covid-19;

- O mapa do coronavírus no Brasil e no mundo: assim crescem os casos dia a dia, país por país;

- O que fazer para se proteger? Perguntas e respostas sobre o coronavírus;

- Guia para viver com uma pessoa infectada pelo coronavírus;

- Clique para assinar a newsletter e seguir a cobertura diária.

Registre-se grátis para continuar lendo

Obrigado por ler o EL PAÍS
Ou assine para ler de forma ilimitada

_

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_