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Pandemia de coronavírus
Coluna
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Bolsonaro está doente da alma

Sua soberba ficou, se isso é possível, mais evidente na maneira arrogante e provocadora com que anunciou que foi contaminado

Bolsonaro após anunciar que seu exame deu positivo para covid-19, nesta rterça-feira.
Bolsonaro após anunciar que seu exame deu positivo para covid-19, nesta rterça-feira.
Juan Arias
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AME9264. BRASILIA (BRASIL), 28/06/2020.- Simpatizantes del presidente de Brasil, Jair Bolsonaro, marchan este domingo en una muestra de apoyo al mandatario y como respuesta a la jornada de manifestación nacional convocada también para hoy en contra de su Gobierno, en Brasilia (Brasil). EFE/ Myke Sena
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(FILES) This file photograph taken on May 20, 2020, shows a bottle and pills of Hydroxychloroquine as they sit on a counter at Rock Canyon Pharmacy in Provo, Utah. - The United States has delivered two million doses of the antimalarial drug hydroxychloroquine (HCQ) to Brazil to fight COVID-19, the White House said on May 31, 2020, though the drug has not yet been proven effective against the coronavirus. (Photo by GEORGE FREY / AFP)
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Mais do que doente de coronavírus, o que aflige o presidente Jair Bolsonaro é algo muito mais grave, é uma doença da alma, uma doença sem cura.

Do vírus ele poderá se curar ou morrer, como todo mundo. No entanto, o mal que nele é grave é sua soberba, sua teimosia em querer negar as evidências. Primeiro, enquanto se gabava de sua condição de atleta e exibia sua imunidade, levando os outros a acreditar que era uma simples gripe que a ciência e a medicina exageravam e que ele não tinha nada a ver com os mortos. E enquanto os cadáveres se amontoavam e cresciam as lágrimas daqueles que perdiam seus entes queridos, Bolsonaro continuava rindo e minimizando o risco de contágio.

Sua soberba ficou, se isso é possível, mais evidente na maneira arrogante e provocadora com que anunciou que sim, que foi contaminado. Ao dar a notícia, nunca fora visto rindo com tanto gosto. Parecia até feliz. E manifestou sua felicidade ao afirmar que, no fim das contas, o coronavírus era “uma chuva” que iria molhar todo mundo. E chegou a provocar a ciência e a medicina recomendando novamente o uso da cloroquina, cuja eficácia não só não foi comprovada, como seu uso poderia piorar o quadro dos pacientes com o vírus.

Exatamente no momento em que poderia ter demonstrado à nação com um gesto de humildade que havia se equivocado ao minimizar a doença que de alguma forma tinha se vingado dele, permaneceu fiel à sua teimosia e soberba ao afirmar que se está exagerando a força da pandemia. E voltou a repetir que mais importante que as mortes e mais urgente é que todos voltem ao trabalho para render culto ao deus da economia.

Enquanto ouvia o presidente falar, em minhas veias sentia pena, raiva e vergonha por este país que merecia nestes momentos de tragédia nacional, com 66.000 mortos, uma palavra de consolo e não de arrogância de quem detém a mais alta autoridade do Estado.

Bolsonaro alardeia ser católico, evangélico e se importar mais com a Bíblia do que com a Constituição. Deveria saber que nesses textos fica evidente que todos os pecados podem ser perdoados, menos o da soberba que pressupõe que a pessoa se coloca acima de Deus. O vírus de Bolsonaro é de um gênero diferente dos milhões já contagiados. O seu é diabólico.

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