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Pandemia de coronavírus
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Cemitério em São Paulo. A foto que jamais gostaríamos de publicar

Evitar sair de casa neste instante é fundamental. É a arma que temos para ajudar a preservar a própria saúde e ao mesmo tempo preservar a vida de outros

Carla Jiménez
Coveiros no cemitério Vila Formosa, em São Paulo.
Coveiros no cemitério Vila Formosa, em São Paulo.AMANDA PEROBELLI (Reuters)

Há uma decisão muito difícil em tornar pública uma foto como esta. Desde o início da crise começamos a nos policiar, pensando em quem está perdendo pessoas neste momento duro e na sensibilidade necessária para abordar a pandemia do coronavírus. Quais fotos, quais palavras adotar para abordar um assunto tão doloroso. Não são números de mortes. São pessoas, histórias, afetos, memórias sagradas. A foto acima fica no cemitério Vila Formosa, na zona oeste em São Paulo. Tantas covas abertas, uma ao lado da outra, são o retrato de uma pandemia avassaladora. Já são 299 brasileiros mortos pelo Covid-19, segundo o Ministério da Saúde, e quase 8.000 infectados. O problema é que há, ainda, inúmeros óbitos cujas vítimas apresentaram sintomas similares àqueles que contraíram o vírus, mas seus familiares não tiveram a chance de confirmar. Os números oficiais são defasados, como o próprio Ministério reconhece, mas não por um princípio de má fé. Não há testes, nem infraestrutura médica, para confirmar. Um problema que tanto o Brasil como o mundo estão encarando. Não há material médico para importar.

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Esse quadro devastador do coronavírus foi visto primeiro na China, depois na Itália e na Espanha. Chegou há poucos dias aos Estados Unidos. E começa a se impor no Brasil, como revela a foto de Amanda Perobelli, fotógrafa da Reuters. Um alerta que ilustra as projeções do Ministério da Saúde, de que o país entrará num pico de contaminações e mortes nas próximas três semanas.

Há mais mortes do que o esperado, por uma pandemia que execra o mundo todo, e pela qual muitos não podem nem se despedir direito de parceiros, pais, tios, amigos, vivendo a pior dor de suas vidas, sem uma pausa para o ritual do luto. Caixões estão chegando fechados aos cemitérios, para evitar que familiares corram o risco de se contaminarem. O vírus fica no corpo mais 72 horas depois do óbito. Outros países viram crescer os casos de contágios em velórios, o que fez o mundo delimitar a cerimônia fúnebre ao enterro acompanhado por poucas pessoas.

Esta é a foto que marca o momento grave que o Brasil está vivendo, embora ainda exista uma parcela da população que duvida. Decidimos publicá-la como um alerta de algo que o país pode, se não evitar, atenuar. Se muitos de nós viveremos cenas assim, há uma chance de reduzir a catástrofe pensando no coletivo. O vírus é agressivo, facilmente transmissível, e se chega aos pulmões, pode matar em poucos dias por insuficiência respiratória ou cardiopatia, principalmente os idosos com doenças prévias. Mas pessoas de outras faixas etárias também se contaminam e podem precisar de hospitalização numa hora tão nefasta. Evitar sair de casa neste instante é fundamental. Como disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é a "arma que gente tem” para ajudar a preservar a própria saúde e ao mesmo tempo preservar a vida de outros. Inclusive a dos médicos, enfermeiros e profissionais de saúde em geral que estão colocando em risco a própria existência para dar conta de tantos enfermos ao mesmo tempo. Solidariedade. Podemos viver essa dor com empatia pelo coletivo e aprender com ela, para que a humanidade não precise passar por isso novamente.

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