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Venezuela chega às eleições regionais como o país mais pobre da América Latina

De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, o país sul-americano terminará este ano com um PIB per capita inferior à Nicaráguaeao Haiti, países que no ano passado eram os mais pobres da região

Mural de Hugo Chávez en Venezuela
Um homem caminha ao lado de um mural sobre o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, em 8 de novembro de 2021 em Caracas, Venezuela.MIGUEL GUTIÉRREZ (EFE)
Isabella Cota

É uma posição que país algum quer ter. De acordo com estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) per capita publicadas recentemente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), neste ano a Venezuela ficará abaixo do Haiti como país mais pobre do hemisfério ocidental. É nesse contexto que o país chega às suas eleições regionais no domingo, atravessando uma devastadora crise econômica e humanitária.

Em 2012, o PIB per capita da Venezuela era de 11.993 dólares (66.000 reais); nove anos depois, esse valor diminuiu para 1.627 dólares (9.000 reais), de acordo com os dados do FMI. Para um observador, vendo de fora do país, os números são impressionantes, mas para Jesús Casique, economista venezuelano em Caracas, a queda não é “nem um pouco espantosa”, afirma. “Em um país em que o Produto Interno Bruto acumulado em sete anos caiu 81,8%, obviamente o cálculo per capita também reflete a situação”.

Nas eleições de domingo estão em disputa 23 governos estaduais e 355 prefeituras, além de cadeiras na Assembleia Nacional. São 3.000 postos que estão em jogo e a oposição chega fragmentada após mais de vinte anos de chavismo. Ao contrário das últimas eleições, em que a oposição pediu um boicote por afirmar que seriam fraudulentas, dessa vez participarão, ainda que não como uma frente comum.

Os últimos dados do PIB que o Banco Central da Venezuela publicou são os do primeiro trimestre de 2019, mas Casique afirma que a instituição envia informação ao FMI. Dentro do país, técnicos como ele operam “com um grande obscurantismo e uma grande opacidade”, afirma o especialista, mas também conseguem fazer suas próprias análises. De acordo com cálculos de Casique, a Venezuela está há 47 meses com hiperinflação, imparável mesmo após as três reconversões feitas sob o chavismo, em que o Governo eliminou 14 zeros de sua moeda em 13 anos.

O Governo precisou relaxar os controles cambiais e penalizações aos que utilizam dólares e abriu espaço às contas de banco na moeda estrangeira, o que causou uma dolarização de fato. Isso impulsionou moderadamente a economia, estimulando a oferta aos que têm mais recursos e aumentando a desigualdade entre as classes sociais. De acordo com um estudo publicado em setembro por três universidades no país, 76,6% da população vive com menos de 1,2 dólar (6 reais) por dia e oito milhões estão desempregados.

Mas “é um erro comparar a Venezuela com o Haiti”, alerta Casique. O Haiti, uma pequena ilha com poucos recursos naturais, exposta a desastres naturais e com pouca produção nacional, tem pouco em comum, pelo menos no plano econômico, com um país de 28 milhões de habitantes e uma das maiores reservas petrolíferas do mundo. “Isso é meramente um reflexo da situação econômica, a diferença é que antes o Haiti estava abaixo da Venezuela e agora é o contrário”.

“Isso é um produto das políticas públicas estabelecidas na Venezuela”, diz Casique. “Quando um Governo expropria, espolia, ataca o setor privado, esse é o resultado, a destruição da economia nesses últimos anos foi algo bem impactante ao país”, acrescenta.

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