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Governo de Maduro suspende negociações com a oposição por causa da extradição de Alex Saab

Jorge Rodríguez anuncia que a delegação chavista não viajará ao México neste domingo para uma nova rodada de diálogo

Graffiti Alex Saab
Cartaz de apoio a Alex Saab em Caracas, em setembro passado.NurPhoto (NurPhoto via Getty Images)

A extradição para os Estados Unidos de Alex Saab, empresário colombiano famoso como operador financeiro do Governo venezuelano, desarmou o chavismo. Como primeira reação, o Executivo de Nicolás Maduro anunciou neste sábado que está suspensa a mesa de negociação com a oposição no México. Uma reação que mostra o enorme valor que o chavismo dá à figura de Saab. Nos Estados Unidos, o empresário, detido em Cabo Verde há 16 meses, será julgado por suposta lavagem de dinheiro relacionada com o Governo da Venezuela.

Jorge Rodríguez, chefe da delegação chavista na mesa de diálogo que ocorre no México com mediação da Noruega, foi quem anunciou a retirada. Segundo ele, a extradição representa “uma agressão inaceitável que viola princípios legais internacionais e que contradiz o ânimo construtivo pelo qual toda negociação política deve primar”.

Acompanhado por toda a equipe negociadora de Nicolás Maduro no México, ele advertiu que a Venezuela continuará usando “todos os meios disponíveis ao seu alcance” para fazer justiça com Saab. “Culpamos o governo de Iván Duque, os Estados Unidos e os setores irracionais da ultradireita venezuelana, como Leopoldo López, Juan Guaidó e Carlos Paparoni, pelo fim das conversações”, declarou. A inflamada resposta do chavismo foi a última numa tarde cheia de reações após a notícia da extradição. Os setores civis e políticos da oposição foram os primeiros a celebrarem a notícia, que deixou uma sensação de justiça cumprida.

O Governo, por outro lado, demonstra sentir os efeitos desse golpe político interposto pelos Estados Unidos, que pode levar a informações privilegiadas sobre a cartografia do chavismo para fugir das sanções internacionais e sobre seus movimentos financeiros. O Executivo decidiu disciplinadamente cerrar fileiras em torno de Saab, lutando para manter sua narrativa, segundo a qual o colombiano é um diplomata a serviço do Governo da Venezuela, representante permanente na mesa de diálogo, que foi injustamente sequestrado pelos Estados Unidos com a cumplicidade do Governo de Cabo Verde, uma ex-colônia portuguesa na costa atlântica da África.

“O Governo venezuelano repudia esta grave violação dos direitos humanos contra um cidadão venezuelano investido como diplomata e representante do nosso país perante o mundo”, diz uma nota oficial divulgada após a notícia da extradição.

Pela oposição, Julio Borges, coordenador nacional do partido Primeiro Justiça, declarou em Bogotá que a extradição “é um passo fundamental que conduz à justiça e à verdade perante o que tem sido o saque, a corrupção e a rede de crime organizado que hoje sustenta e alimenta o regime de Maduro”. Borges acrescentou que a extradição de Saab também é um chamado “a quem sustenta e é cúmplice de Maduro”. “Não importa quanto tarde, mas a justiça chega. Pode ser hoje ou amanhã, mas sempre chega”, concluiu.

Nas redes sociais abundaram as felicitações e os elogios a Roberto Deniz, jornalista venezuelano do site investigativo Armando.info, que publicou uma série de reportagens demonstrando, entre outras coisas, operações incorretas de Saab para adquirir alimentos de péssima qualidade para serem comercializados nos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), um dos programas assistenciais de Maduro. Mergulhado numa forte campanha de defesa e limpeza da imagem de Saab, o Governo foi ampliando a pressão sobre Deniz, com acusações judiciais e ameaças à sua família em Caracas. Ele se exilou em Bogotá.

Delcy Rodríguez, vice-presidenta da Venezuela, também tratou de desmentir todas as acusações contra o empresário de origem colombiana: “Diferentemente dos que promovem a produção e o tráfico de drogas como sustento do Estado colombiano e de sua economia, Alex Saab é um diplomata venezuelano inocente, vítima de sequestro e violação de seus direitos humanos, e que tem servido ao nosso país frente ao imoral bloqueio imperial”.

O chavismo tomou, além disso, outra medida de represália contra os Estados Unidos com efeito imediato. Alirio e José Zambramo, dois dos cinco gerentes do Citgo, a filial da estatal venezuelana de petróleo que comercializa seus derivados nos EUA, ambos de nacionalidade venezuelana e norte-americana, foram levados novamente para a prisão sob acusações de corrupção. Os Estados Unidos protestaram pela medida e exigiram sua libertação.

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