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Vulcão de La Palma se torna mais explosivo e intensifica chuva de cinzas

Superfície que avançou sobre o mar altera o mapa da ilha espanhola, após crescer cerca de 17 hectares até o final da manhã desta quinta-feira

Guillermo Vega

O vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma (Espanha), não apenas mantém sua contundência após a chegada da lava ao mar como também se tornou mais explosivo e intensificou sua chuva de cinzas nas últimas horas, disseram fontes do Instituto Geográfico Nacional (IGN). Os especialistas advertem que há explosões na vertente norte do cone principal. Essa nova situação poderia provocar desmoronamentos no cone no curto prazo, algo previsto pelos cientistas mobilizados na ilha. A vulcanologista María José Blanco, do IGN, disse em coletiva nesta quinta-feira que a morfologia do cone “mudou e pode continuar mudando”.

O Plano de Emergências Vulcânicas das Canárias (Pevolca) não vê, de fato, evidências de que “a dinâmica do processo eruptivo seja estável”, conforme foi divulgado nesta quarta-feira. Por isso, foram mantidas as zonas de exclusão marítima e terrestre e a evacuação dos moradores.

Enquanto isso, a erupção continua aumentando a superfície da ilha. “A língua de lava que alcançou o mar mantém um forte fluxo contínuo em forma de cascata”, disse Blanco. Assim, a desembocadura da lava no que era a praia de El Guirre já se estende a 17,2 hectares, ou seja, o triplo do que havia sido medido 48 horas antes. A superfície tomada do mar pela lava seria suficiente para acomodar quase quatro vezes a praça da Sé, em São Paulo (4,7 hectares). A profundidade da lava vertida no mar já alcança os 24 metros, segundo dados do Plano Especial de Proteção Civil e Atendimento de Emergências por risco vulcânico no Canarias (Pevolca). As demais línguas de lava estão praticamente paradas.

As novas estimativas fornecidas nesta quarta pelo satélite Copernicus, da União Europeia, calculam que 338,3 hectares foram destruídos em terra e ganhos no mar, e que a área coberta de cinza chega a 1.752,8 hectares (12 vezes o tamanho do parque do Ibirapuera). Até o momento, as edificações afetadas pelo magma chegam a 981, das quais 855 foram destruídas. Além disso, 29,8 quilômetros de estradas foram atingidos, e 27,4 já foram completamente soterrados pela lava.

Os dois porta-vozes do Pevolca, a própria María José Blanco e seu diretor-técnico, Rubén Fernández, demonstraram certa preocupação com a qualidade do ar. Nas últimas horas foram detectados níveis muito altos de dióxido de enxofre e sulfureto de nitrogênio, os quais, em alguns momentos pontuais, superaram os limites habituais. Blanco observou, no entanto, que esta circunstância não significa que estejam sendo superados níveis prejudiciais à saúde.

Tanto Fernández como Blanco pediram à população de Tazacorte que evite ao máximo sair à rua e, quando o fizer, que tome muito cuidado e use máscaras FFP2. Os ventos previstos, além disso, não favorecem a qualidade do ar, segundo a especialista. Por isso o confinamento da população será mantido por enquanto nos bairros de San Borondón, Marina Alta, Marina Baixa e La Condesa. “Estas medidas serão mantidas até que se possa comprovar que os níveis são adequados”, disse Fernández.

Sob a terra, os terremotos prosseguem. “A atividade sísmica continua localizada principalmente próxima de [onde ocorreu nos] primeiros dias, a profundidades maiores de 10 quilômetros. Nas últimas horas houve uma dezena de sismos. O mais forte de todos alcançou uma intensidade 3, com o que pôde ser sentido pela população. Boa parte dos terremotos acontecem no centro eruptivo.

Evolução da lava

A lava avança a dois metros por hora (há poucos dias ia a 700), informou a ministra espanhola da Ciência, Diana Morant, em uma entrevista ao canal de TV Antena 3. Entretanto, a evolução da língua magmática continua indefinida. A saída para o mar acontece pelo mesmo ponto em que o contato inicial ocorreu, no final da noite de quarta-feira, mas não se descarta que venha a seguir um novo curso. “Fazer previsões de longo prazo em um caso como este é difícil”, comentou ela.

O vulcanologista Ramón Casillas, membro do comitê científico do plano de emergências e catedrático da Universidade de La Laguna, considerou, aliás, “um pouco mitológica” a noção de que a lava ficará estável nesse caminho. “Na verdade, não tem por que ser assim. A língua de lava pode correr por outros lugares e deixar esse leito”, afirmou. “É verdade que o principal fluxo está localizado aí, mas há outros pontos onde a língua continua se movendo”, acrescenta.

Por outro lado, as autoridades tentam facilitar na medida do possível a vida dos afetados. Nesta quinta-feira alguns moradores foram autorizados a voltar a suas casas para buscar pertences, mas sempre fora do perímetro de exclusão de 2,5 quilômetros. Do mesmo modo, permite-se o acesso de trabalhadores a propriedades em El Remo, Puerto Naos e Las Hoyas para tarefa de rega e colheita de bananas e abacaxis.

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