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Estados Unidos fortalecem aliança com Japão, Índia e Austrália para conter avanço da China no Indo-Pacífico

Biden se reúne na Casa Branca com os líderes dos países no âmbito do Quad, fórum que havia caído no esquecimento

María Antonia Sánchez-Vallejo
El presidente Biden y el primer ministro australiano, Scott Morrison
O presidente Biden e o primeiro-ministro australiano. Scott Morrison, em Nova York, na terça-feira.Evan Vucci (AP)
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CENTRAL, HONG KONG, CHINA - 2019/09/08: Protesters wave dozens of American flags while chanting various slogans during the demonstration.
Thousands of protesters marched to the U.S. Consulate General in support of the Hong Kong Human Right Acts. Protesters waved American flags, exhibited various placards and shouted slogans asking for U.S. involvement. Violence eventually broke out as protesters vandalized certain MTR station entrances, while police later conducted a dispersal operation. (Photo by Aidan Marzo/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)
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In this photo provided by the U.S. Department of State, U.S. Deputy Secretary of State Wendy Sherman, left, and Chinese Foreign Minister Wang Yi sit together in Tianjin, China, Monday, July 26, 2021. China came out swinging at high-level face-to-face talks with the United States on Monday, blaming the U.S. for a "stalemate" in bilateral relations and calling on America to change "its highly misguided mindset and dangerous policy." (U.S. Department of State via AP)
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Poucos no campo das relações internacionais sabiam, ou se lembravam, da existência do Diálogo de Segurança Quadrilateral, ou Quad, embora esse fórum, formado por Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália, existisse desde 2007, quando foi criado para cristalizar os impulsos de cooperação regional que surgiram depois do tsunami de 2004. Após anos em suspenso, e depois de uma tentativa de Donald Trump de revitalizá-lo em 2017, o pacto de segurança tripartite anunciado há uma semana pelos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália chamado de Aukus —um dique de contenção do expansionismo chinês no Indo-Pacífico— tirou o Quad do esquecimento.

Em março manteve uma reunião virtual, mas nesta sexta-feira o Quad se estabeleceu como uma plataforma regional de peso ao realizar uma cúpula presencial na Casa Branca da qual participaram o presidente dos EUA, Joe Biden, e os primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, Japão, Suga Yoshihide, e Austrália, Scott Morrison. Com este último, Biden se reuniu na segunda-feira em Nova York, por ocasião da Assembleia-Geral da ONU. Com os demais, ele se encontrou nesta sexta-feira na Casa Branca, com destaque especial para a reunião bilateral que manteve com Modi, a primeira pessoalmente entre os dois. A situação no Afeganistão, onde o Paquistão, principal aliado do Talibã, ganha espaço em detrimento da Índia, ampliou a importância do encontro, descrito como “histórico” por Modi, como também os movimentos da China no país da Ásia Central, como grande beneficiária da mudança de regime em Cabul para promover seus projetos de infraestrutura e reconstrução.

Embora a Casa Branca insista em qualificar o Quad como um grupo informal e em igualá-lo a outras iniciativas regionais, como a Asean —da qual a China faz parte—, a crise dos submarinos nucleares reforçou a importância estratégica dessa iniciativa. Ninguém menciona especificamente a China —nem o pacto Aukus nem o Quad—, mas o regime de Pequim é o destinatário da maioria das mensagens. Não é à toa que “um Indo-Pacífico aberto e livre, inclusivo” é a prioridade do Quad, quase seu lema existencial, como os quatro líderes reiteraram nesta sexta-feira, o que significa que sua intenção é manter sob controle as incursões indevidas da China em suas águas.

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Os três países convocados por Biden são antagonistas da China em graus variados, desde a ameaça militar que representa para o Japão, ao alinhamento diplomático de última hora da Austrália, passando pela tradicional desconfiança da outra superpotência asiática, a Índia, em relação a Pequim. De acordo com um esboço do comunicado final da reunião, a que a agência japonesa Kyodo News teve acesso, os participantes planejavam alertar contra “qualquer tentativa de mudar o status quo [nas águas] do Mar do Sul da China e do Mar do Leste da China”.

O comunicado final provavelmente usará uma linguagem mais dura sobre a situação em áreas onde a China está redobrando suas reivindicações territoriais, de acordo com a versão divulgada pela Kyodo News. As incursões de barcos-patrulha chineses nas águas das ilhas Senkaku, controladas pelo Japão —ou ilhas Diaoyu, a denominação dada pela China, que reivindica soberania sobre elas—, se multiplicaram neste ano. Há também a preocupação com uma possível escalada no Estreito de Taiwan.

O objetivo oficial e declarado da convocação do Quad —”uma reunião informal das principais democracias do Indo-Pacífico”, de acordo com altos funcionários da Casa Branca— é aumentar a cooperação em uma ampla gama de questões, como a instalação da rede 5G —outro casus belli com Pequim—, a dotação de bolsas em universidades de prestígio dos Estados Unidos, questões de pesca, fornecimento de semicondutores, combate às mudanças climáticas e contribuição conjunta para a saúde global. Em março, os quatro membros do Quad anunciaram sua meta de doar 1 bilhão de doses de vacinas contra a covid-19 até o final de 2022, reforçando ao mesmo tempo a capacidade de produção da Índia. A colaboração quadrilateral na pandemia “segue num bom caminho”, enfatizou Biden.

Há também vários grupos de trabalho na área de segurança cibernética. “Não é uma organização de segurança regional”, insistiu na quinta-feira, em entrevista por telefone a jornalistas, um alto funcionário da Casa Branca. No entanto, ele reconheceu que “a Administração Biden entende que os desafios do século 21 se desdobrarão amplamente no Indo-Pacífico, e estamos redobrando nossos esforços” para enfrentar a ameaça, de acordo com a mesma fonte.

Desde que a Administração Trump —tão beligerante em relação à China como a de Biden, embora abordem o confronto de maneiras diferentes— relançou o fórum Quad, o grupo tem realizado várias reuniões de alto nível e exercícios militares conjuntos cada vez mais importantes na zona, como os últimos, em 2020, no golfo de Bengala, a nordeste do Oceano Índico. O cenário em que, segundo Washington, se definirá o poder global no século XXI.

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