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Alberto Fernández cede à pressão de Cristina Kirchner e troca seis ministros

Presidente argentino entrega a chefia de Gabinete ao indicado da sua vice e consegue uma trégua na crise política que paralisava o Governo

Alberto Fernández e Cristina Kirchner, em evento no dia 16.
Alberto Fernández e Cristina Kirchner, em evento no dia 16.ALEJANDRO PAGNI (AFP)
Federico Rivas Molina
Argentina
Photo released by Telam of Argentine President Alberto Fernandez leaving the Casa Rosada in Buenos Aires on September 15, 2021. - Five cabinet ministers and other senior officials in the government of Argentina's President Alberto Fernandez offered to step down Wednesday after a poor showing for the ruling coalition in weekend primary elections. (Photo by Julian ALVAREZ / TELAM / AFP) / - Argentina OUT / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / TELAM / JULIAN ALVAREZ " - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS
Briga entre Alberto Fernández e Cristina Kirchner paralisa o Governo argentino
01 March 2021, Argentina, Buenos Aires: Alberto Fernandez (L), president of Argentina, delivers his State of the Nation address to mark the opening of the 2021 congressional session. Photo: Prensa Senado/telam/dpa
01/03/2021 ONLY FOR USE IN SPAIN
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Alberto Fernández finalmente cedeu à pressão de Cristina Fernández de Kirchner e mexeu no seu Gabinete de ministros. Após cinco dias de guerra aberta entre o presidente da Argentina e sua vice, a crise palaciana que paralisou o país termina com um triunfo da mulher que, mais uma vez, demonstrou deter o poder. Alberto Fernández sacrificou nessa queda de braço o seu chefe de gabinete e homem de máxima confiança, Santiago Cafiero, e pôs no seu lugar o governador de Tucumán, Juan Manzur, o homem que Cristina Kirchner propôs para o cargo numa carta aberta que publicou na quinta-feira em suas redes sociais. Nesse texto, a ex-presidenta mirou também no porta-voz presidencial, Juan Pablo Biondi, a quem acusou de manipular a imprensa contra ela. Biondi pediu demissão no dia seguinte.

Outros cinco ministérios mudaram de mãos. Mas os cinco kirchneristas que na quarta-feira apresentaram sua demissão ao presidente continuam em seus cargos. Também segue firme o ministro da Economia, Martín Guzmán, há um ano encarregado de renegociar com o FMI uma dívida de 44 bilhões de dólares contraída pelo ex-presidente Mauricio Macri em 2018. Durante a semana, Cristina Kirchner procurou Guzmán para lhe esclarecer que não era verdade que estivesse pedindo sua cabeça, como dizia a imprensa local.

A mudança de ministros foi uma exigência de Cristina Kirchner para relançar o Governo depois da derrota nas eleições primárias de domingo passado. Os candidatos do governismo para as eleições legislativas de 14 de novembro perderam em 18 dos 24 distritos do país. O resultado teve o efeito de um tsunami na Frente de Todos, a coalizão peronista que levou Alberto Fernández ao poder. A insistência do presidente em sustentar sua equipe até as eleições legislativas, nas quais previsivelmente os peronistas perderão o controle do Congresso, dinamitou a tensa relação que já marcava a dupla do Executivo.

Cristina Kirchner ordenou então aos ministros que a representam que apresentassem sua renúncia para pressionar por uma mudança. Fernández cedeu à pressão. Perdeu no caminho seu homem de maior confiança, Juan Pablo Cafiero, que ocupará a Chancelaria, mas com sala fora da Casa Rosada, e aceitou o nome proposto por Kirchner para substituí-lo. A renúncia de seu porta-voz é também um duro golpe: cada ataque kirchnerista contra Biondi era considerado no Executivo como um disparo direto contra Fernández.

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Nos demais cargos há velhos conhecidos do kirchnerismo. Aníbal Fernández, duas vezes chefe de Gabinete de Cristina Kirchner, volta ao Governo como ministro da Segurança Pública; idem quanto a Julián Domínguez, ex-presidente do Congresso que ocupará a pasta de Agricultura. Também retorna Daniel Filmus, ex-ministro de Educação agora a cargo de Ciência. Quem fica no mesmo cargo é Eduardo ‘Wado’ de Pedro, o ministro do Interior, responsável pelo relacionamento com as províncias. De Pedro é o mais poderoso kirchnerista do Gabinete, e foi ele quem iniciou a crise desta semana ao apresentar sua renúncia. Os quatro ministros que o acompanharam na manobra também permanecerão em seus postos.

Com as mudanças, restam apenas duas mulheres entre os 21 integrantes do Gabinete: Carla Vizzotti, na Saúde, e Elizabeth Gómez Alcorta, como ministra de Mulheres, Gêneros e Diversidade. Sabrina Frederic, que ocupava a pasta da Segurança Pública, deixou o Executivo.

Alberto Fernández se negava a aceitar as mudanças, convencido de que seria melhor esperar até 14 de novembro. Mas o kirchnerismo pressionou para apressar alterações que considera “básicas”. Cristina Kirchner disse claramente na sua carta de quinta-feira: “Vocês acham mesmo que não é necessário, depois de uma derrota destas, apresentar publicamente as renúncias, e que se conheça a atitude dos funcionários e funcionárias de facilitar ao Presidente a reorganização de seu governo?”.

A pressão teve resultados. Resta ver agora se o Gabinete anunciado nesta sexta-feira será apenas uma transição, ou servirá de cura as feridas deixadas na briga entre Fernández e Kirchner. A coalizão esteve em perigo, até que a balança se inclinou em favor da vice-presidenta. Da lista de nomes surge um presidente mais fraco e com menos margem para tomar decisões próprias. A grande incógnita é se, pelo menos, isso servirá para reverter parte do desastre eleitoral de domingo passado.

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