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No encalço do agente secreto mais procurado das Américas: “Mudava de apartamento a cada três meses”

Colaboração entre a Polícia Nacional da Espanha e a agência antidrogas dos EUA leva à prisão de ‘El Pollo’ Carvajal

Hugo Carvajal
O momento da detenção de Hugo Carvajal em Madri, procurado pela Justiça para ser extraditado aos EUAPOLICÍA NACIONAL (Europa Press)
Patricia Ortega Dolz
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Hugo Armando Carvajal, popularmente conhecido como El Pollo Carvajal (61 anos), estava fugindo havia quase dois anos desde que abandonou sua casa de Madri, após saber que o tribunal da Audiência Nacional (mais alta instância judicial espanhola) havia mudado de parecer e autorizava sua extradição aos Estados Unidos, como exigiam as autoridades norte-americanas. Chefe do serviço secreto venezuelano durante anos, ele era acusado de ser o elo entre a guerrilha colombiana das FARC e a Venezuela, num plano desenhado pelo ex-presidente Hugo Chávez para “combater os EUA inundando-os de cocaína”.

Os oficiais da DEA (agência antidrogas dos EUA) tentaram seguir seus passos escorregadios desde então. Até que reuniram indícios suficientes para concluir que ele estava num apartamento de Madri, num terceiro andar da rua Torrelaguna, curiosamente próximo do complexo policial de Canillas. Ali os agentes da DEA e os da Unidade de Droga e Crime Organizado (Udyco) da Espanha finalmente montaram uma operação há dois dias. Carvajal foi preso na noite de quinta-feira. “Estou há dois anos trancado em apartamentos. Mudava a cada três meses, menos nesta ocasião, em que fiquei oito”, confessou aos policiais o agente secreto mais procurado das Américas, enquanto era algemado.

Os 10 milhões de dólares (52,3 milhões de reais) oferecidos pela DEA a qualquer pessoa que pudesse revelar seu paradeiro permitiram a chegada de várias informações, que foram comprovadas “uma por uma” pelos policiais da unidade de Fugitivos. “Averiguamos se ele tinha saído do país e se estava em Andorra. Havia sido localizado em diversos pontos da Espanha, mas finalmente a informação mais concreta foi esta última: ele estava em Madri e tinha uma pessoa que o auxiliava”, disseram fontes policiais. Essa pessoa era uma mulher venezuelana. “Em teoria, o apartamento estava em nome dessa mulher. Era ela quem lhe dava tudo de que necessitava. Nenhum vizinho o tinha visto.”

El Pollo “não saía de jeito nenhum, só se aproximava da varanda de noite”, disseram as fontes policiais. Mas os agentes puderam perceber que, quando a mulher deixava o apartamento, continuava havendo movimento lá dentro. “Ouviam-se ruídos, e as luzes se acendiam quando ela não estava.” Os policiais inclusive esperaram a mulher sair e lhe ofereceram uma quantia milionária por sua confissão: “Ela não quis, foi embora.” Pouco depois, no entanto, os agentes notaram que ela avisou familiares e amigos de Carvajal que ele havia sido localizado.

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Sentindo-se encurralado, o agente secreto —que se despediu de sua mulher, Angélica, há dois anos dizendo “Estarei bem, cuide das crianças” (ele tem oito filhos de dois casamentos)— se aproximou da janela do imóvel e foi visto pelos agentes, que inspecionavam a zona. Pouco depois, os policiais o algemaram. Foi encontrado trancado no último quarto do apartamento, com uma faca na mão.

Assim terminou outra de suas longas fugas. Antes já havia escapulido das autoridades norte-americanas com a ajuda do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. Depois fugiu do sucessor, Nicolás Maduro, que o considerava um traidor, e se instalou em Madri.

Embora as informações da DEA indicassem que Carvajal poderia ter feito uma cirurgia plástica para mudar de aspecto, os agentes que o detiveram, pela segunda vez, não confirmaram esse dado. “Ele está igual”, disseram. El Pollo tinha sido solto antes, quando inicialmente a Audiência Nacional considerou que o motivo de sua extradição respondia a “motivos políticos”. Na época, saiu triunfante da prisão de Estremera (Madri), esperado pela família na porta. Agora, após um espinhoso e polêmico périplo judicial, que inclui denúncias de pressões aos juízes da Audiência Nacional, ele voltou a cair —e está de novo à espera de sua extradição aos EUA.

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