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Dezenas de afegãs se manifestam em Herat para pedir um lugar no Governo talibã

As ativistas reivindicam seu direito de trabalhar ante a incerteza sobre a postura que os islamistas adotarão

Imagem do protesto incomum de mulheres ocorrido em Herat nesta quinta-feira. Em vídeo, a manifestação e declarações das ativistas, com legendas em espanhol. Vídeo: AFP | REUTERS
Ángeles Espinosa
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People evacuated from Kabul, Afghanistan, walk through the terminal before boarding a bus after they arrived at Washington Dulles International Airport, in Chantilly, Va., on Monday, Aug. 30, 2021. (AP Photo/Jose Luis Magana)
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Taliban forces patrol at a runway a day after U.S troops withdrawal from Hamid Karzai International Airport in Kabul, Afghanistan August 31, 2021. REUTERS/Stringer     TPX IMAGES OF THE DAY
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Várias dezenas de mulheres afegãs se manifestaram nesta quinta-feira em Herat, oeste do Afeganistão, para reivindicar seu direito de trabalhar e pedir a participação feminina no novo Governo talibã. A corajosa demanda acontece um dia após um alto comandante da guerrilha afirmar que elas serão levadas em conta, mas não para o Executivo nem para nenhum outro cargo de responsabilidade. A preocupação sobre seu futuro está levando muitas profissionais a abandonar o país, agravando a fuga de cérebros.

As mulheres se concentraram em frente à sede do Governo provincial em Herat, a terceira maior cidade afegã, com cartazes dizendo “Não tenham medo, estamos todas juntas” e “Nenhum Governo pode sobreviver sem o apoio das mulheres”, segundo imagens divulgadas pela mídia local. Esta última mensagem se tornou um lema recorrente das ativistas afegãs.

“Sem mulheres no Governo e uma participação significativa na estrutura de poder, o país é como um pássaro com uma só asa. Um pássaro pode voar com apenas uma asa? É claro que não”, tuitou reiteradamente Fawziah Koofi antes de abandonar o Afeganistão nesta semana, diante da crescente insegurança que sentia.

Uma das organizadoras do protesto incomum de Herat, Basira Taheri, disse à agência France Presse que quer que os talibãs incluam mulheres no novo Governo. “Queremos que nos consultem. Não vemos nenhuma mulher em suas reuniões”, acrescentou.

As perspectivas não são animadoras. Às vésperas do anúncio do novo Governo, o número dois do Escritório Político do Talibã em Doha, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, declarou à BBC que, embora as mulheres possam continuar trabalhando, talvez não haja lugar para elas no futuro Governo ou em outros cargos executivos. No entanto, esse será sem dúvida um fator que os países ocidentais levarão em conta na hora de reconhecer ou não o regime talibã.

Entre as manifestantes havia ativistas dos direitos das mulheres, funcionárias públicas, trabalhadoras e estudantes. Com o novo regime, elas temem perder os avanços conseguidos nas últimas duas décadas. Três semanas depois que os talibãs tomaram Herat, os líderes locais do grupo ainda não esclareceram que regras vão impor. Em sua ditadura anterior (1995-2001), eles confinaram as mulheres em casa e as proibiram trabalhar fora.

Agora as informações são contraditórias. Alguns dirigentes disseram que as mulheres poderão estudar e exercer suas profissões, “respeitando a lei islâmica”. No entanto, há relatos de funcionárias públicas impedidas de ocupar seus cargos e, em alguns outros lugares, como no polígono industrial de Herat, elas também não são aceitas. O vice-governador talibã dessa província, o clérigo Shirahmad Ammar, disse que “está sendo aguardada uma decisão dos líderes”.

Para as afegãs, não há tempo a perder. “Muitas mulheres são a única fonte de renda de suas famílias. Impedi-las de trabalhar coloca suas vidas em perigo”, disse uma ativista de Cabul que acompanhou com interesse a manifestação de Herat. Também já ocorreram alguns protestos nesse sentido na capital desde a chegada dos fundamentalistas islâmicos. “Os talibãs não podem governar um país sem 30% de sua força de trabalho”, declarou a ativista Pashtana Zalmai, que disse estar disposta a usar uma burca, mas assinalou que não vai ceder quanto ao direito das mulheres e meninas à educação.

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