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Joe Biden chama a evacuação do Afeganistão de “sucesso extraordinário”

O presidente dos Estados Unidos defende saída como a única opção possível e avisa aos terroristas do Estado Islâmico que ainda não acabou com eles

María Antonia Sánchez-Vallejo
presidente Joe Biden saluda a militares en Afganistán
O presidente Joe Biden cumprimenta militares no domingo na base de Dover (Delaware).SAUL LOEB (AFP)
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People evacuated from Kabul, Afghanistan, walk through the terminal before boarding a bus after they arrived at Washington Dulles International Airport, in Chantilly, Va., on Monday, Aug. 30, 2021. (AP Photo/Jose Luis Magana)
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Taliban forces patrol at a runway a day after U.S troops withdrawal from Hamid Karzai International Airport in Kabul, Afghanistan August 31, 2021. REUTERS/Stringer     TPX IMAGES OF THE DAY
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Sem cerimônia alguma, nem mesmo o hasteamento da bandeira ou a formação regulamentar para se despedir do último comando de uma missão que durou 20 anos. A saída dos últimos militares norte-americanos do Afeganistão na segunda-feira foi um momento histórico silencioso que mal amenizou o caos e a violência que cercaram a retirada. O toque de clarim usual do quartel foi substituído por mensagens de Washington, onde o presidente Joe Biden e o secretário de Estado Antony Blinken confirmaram a retirada minutos após o Pentágono.

O presidente prometeu explicar à nação por que não estendeu a missão militar no Afeganistão. E assim o fez nesta terça-feira, com um discurso que sela formalmente uma intervenção com 2.400 soldados mortos —os últimos 13, na quinta-feira em um atentado suicida— e mais de dois bilhões de dólares de investimento. Biden qualificou a evacuação de mais de 124.000 pessoas como “um sucesso extraordinário”, embora tenha indicado que restam de 100 a 200 americanos no país, que seu Governo ainda está determinado a remover. “Noventa por cento dos americanos que queriam ir embora puderam fazê-lo; [agora] não há prazo para sair“, destacou. Ele também chamou a evacuação de uma “missão de misericórdia e não de guerra”, em favor de milhares de afegãos vulneráveis e “em meio a uma situação cheia de riscos”.

Mas, principalmente, destacou por que terminou a guerra. “Havia apenas uma opção, sair do país ou uma escalada militar (...) A decisão de se retirar foi o resultado da recomendação unânime dos altos comandantes militares e altos funcionários do Governo, bem como dos comandantes em campo”, enfatizou Biden. “Deixar o Afeganistão foi a melhor decisão possível para os Estados Unidos.”

“Não acredito que a segurança e as salvaguardas dos Estados Unidos seriam reforçadas pela presença contínua de nossas tropas. Os EUA conseguiram fazer no Afeganistão o que pretendíamos fazer [neutralizar a Al Qaeda e Osama Bin Laden]. A decisão sobre o Afeganistão também significa o fim de uma era de grandes operações militares para reconstruir outros países... Recuso-me a continuar uma guerra que não contribui para o interesse geral dos americanos“, disse, ao emitir um claro alerta aos grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS-K, na sigla em inglês), autor do atentado de quinta-feira: “Ainda não acabamos com vocês”. “Minha decisão é garantir que o Afeganistão não seja usado novamente como plataforma para lançar um ataque contra os Estados Unidos”, concluiu.

Do militar à diplomacia, a administração de Joe Biden deu uma guinada em sua política no Afeganistão na segunda-feira, com um claro compromisso com os canais diplomáticos para evacuar os remanescentes cidadãos norte-americanos, afegãos e de outros países —incluindo algumas centenas de britânicos— após a tomada final do controle do país pelo Talibã. A transferência da embaixada de Cabul para Doha, anunciada poucos minutos após a decolagem do último avião, é apenas o símbolo desta nova fase, marcada pela desconfiança em relação aos novos governantes afegãos.

Em duas mensagens divulgadas logo após o Pentágono ter confirmado a saída dos últimos C-17 de Cabul, com o mais alto comando militar e o embaixador a bordo, Biden e Blinken destacaram a necessária colaboração dos talibãs e seu compromisso de permitir a saída do país para aqueles que quiserem fazer isso de agora em diante. “Pedi ao secretário de Estado uma coordenação contínua com nossos parceiros internacionais para garantir a partida segura de americanos, parceiros afegãos e estrangeiros que desejam deixar o Afeganistão”, disse Biden em um comunicado na segunda-feira.

Em relação aos retardatários, assegurou, “os talibãs deram a sua palavra de que permitirão uma saída segura e que a comunidade internacional providenciará para que cumpram o que prometeram”, sublinhou; “Isso inclui a reabertura do aeroporto para permitir a saída, bem como para a chegada de ajuda humanitária”. O Talibã estuda com Catar e Turquia, prontos para dar suporte técnico, a retomada antecipada dos voos. Blinken discorreu sobre o compromisso do Talibã. “Eles terão que conquistar a legitimidade e o apoio da comunidade internacional”, declarou. Com a continuação da ajuda internacional pendente de um tópico, os Estados Unidos recomendaram nesta terça-feira aos seus cidadãos que não viajem ao país da Ásia Central, emitindo um alerta de nível 4.

Se o Talibã cumprir seus compromissos, Washington não descarta a possibilidade de conceder ajuda de longo prazo, embora por enquanto continue prestando assistência humanitária à população por meio de organizações internacionais e ONGs. Mas tudo o que envolve a interlocução e o contato com os barbudos é cercado de condicionais. Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, condicionou essa possível ajuda ao comportamento correto do novo regime de Cabul, como Biden e Blinken haviam feito na véspera.

“Depende do cumprimento de seus compromissos: seus compromissos de uma saída segura para os aliados americanos e afegãos, seus compromissos de não permitir que o Afeganistão se torne uma base a partir da qual terroristas possam atacar os Estados Unidos ou qualquer outro país, seus compromissos em relação à observância de suas obrigações internacionais“, disse Sullivan à ABC News na terça-feira.

Assim, impõe-se um compasso de espera, o tradicional wait and see (esperar para ver), que em ocasiões menos turbulentas tem sido o fio condutor da política externa de muitos países diante de conflitos imprevistos. Agora o será pela primeira vez de uma relação desigual: uma superpotência forçada a esperar, quase como um ato de fé, que um grupo insurgente faça a coisa certa.

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