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Medo nas ruas e ritmo frenético nos hospitais de Cabul um dia após o ataque

Apesar da ameaça de possíveis ataques, os cidadãos continuam a se aglomerar no aeroporto para tentar escapar do país dominado pelo talibã

Kabul
Um talibã monta guarda nesta sexta-feira no local onde um homem-bomba se explodiu, próximo a um portão no aeroporto de Cabul na quinta-feira.WAKIL KOHSAR (AFP)
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DEH AFGHAN, AFGHANISTAN - JUNE 22:  American soldiers from the 10th Mountain Division deploy to fight Taliban fighters as part of Operation Mountain Thrust to a U.S. base near the village of Deh Afghan on June 22, 2006 in the Zabul province of Afghanistan. The US military announced today that four American soldiers were killed in fighting after coalition forces attacked enemy extremists in north-eastern Afghanistan.  The anti-Taliban operation, mainly by American, British and Canadian forces, entered it's second week across a vast area in southern Afghanistan.  (Photo by John Moore/Getty Images)
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Kabul (Afghanistan), 27/08/2021.- Taliban stand guard as they block the road to Hamid Karzai Airport a day after deadly blasts, in Kabul, Afghanistan, 27 August 2021. Two explosions outside Kabul's international airport on 26 August left more than 60 Afghan civilians dead and 140 others wounded, while the United States military said that 12 of its personnel died. (Afganistán, Estados Unidos) EFE/EPA/STRINGER
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Cabul acordou nesta sexta-feira deserta e vazia. No dia seguinte ao ataque que matou mais de 183 pessoas (incluindo 13 militares dos EUA) e feriu mais de 200, a capital afegã parecia assustada e trancada em casa. É verdade que foi uma sexta-feira e um feriado. Mas na sexta-feira anterior, muito mais pessoas foram vistas na rua e mais lojas foram abertas.

No portão da Abadia do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, onde ocorreu o ataque, o acesso era praticamente impossível. O Talibã bloqueou todas as ruas que conduzem a esta parte do campo de aviação com veículos de artilharia militar. Isso não quer dizer que as pessoas não quisessem seguir tentando sair do país, apressando as oportunidades até o último momento, já que os prazos estão se esgotando (a Espanha, por exemplo, encerrou nesta sexta-feira sua operação de evacuação, assim como outras potências europeias). Perto do controle do Talibã estava um jovem que na tarde anterior estivera no local do ataque (sem se ferir) e que nesta sexta-feira tentou novamente acessar o aeroporto.

No portão norte do aeroporto, controlado exclusivamente por soldados norte-americanos, o clima era diferente: não havia tanta gente aglomerada como nos dias anteriores, mas havia muita gente, centenas, talvez milhares, mais uma vez desafiando a possibilidade de um ataque. Chegar lá foi mais fácil porque não havia postos de controle do Talibã para passar. E as pessoas chegavam de táxi, de ônibus ou simplesmente caminhando, com malas e mochilas nas costas.

Essa calma contrastava com a atividade frenética que se vivia nos hospitais, que desde quinta-feira à noite começaram a receber um número incontrolável de vítimas e viram sua capacidade ser sobrecarregada. Muitos trabalhadores da saúde que haviam terminado seu turno vieram reforçar o pessoal em vários centros, incluindo o Hospital de Emergência de Cabul, administrado por uma ONG italiana. Alguns desses paramédicos encontraram parentes entre os feridos, que chegaram em ondas vindos de todo o aeroporto. Centenas de afegãos em busca de informações sobre suas famílias foram adicionados à avalanche inicial de feridos e cadáveres que chegaram ao hospital durante a noite. Só de madrugada as instalações recuperaram uma certa calma.

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Enquanto isso, as ruas da cidade ainda estavam vazias, com exceção desses pontos do aeroporto. Por não haver pessoas, não havia também no centro da cidade os tradicionais postos de controle de rua do Talibã, que parecia ter desertado. Em um parque central, que costuma receber centenas de pessoas que se reúnem para tomar chá em uma sexta-feira, não havia mais de 50 —outro sinal de como a capital afegã está chocada, dividida entre o medo do Talibã e o medo de outros ataques. Antes da chegada dos talibãs, a entrada neste parque custava 100 afeganes (cerca de cinco reais). Esse dinheiro era recolhido pela polícia. A partir de agora o parque é gratuito.

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