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Em clima eleitoral, Governo argentino tenta aliviar o bolso dos cidadãos

Executivo de Alberto Fernández aprova medidas para reativar o consumo, como parcelamento de compras, concessão de empréstimos e redução de impostos

El trabajador de un supermercado empaca quesos en la ciudad de Buenos Aires (Argentina)
Funcionário de um supermercado empacota queijos na cidade de Buenos Aires.Demian Alday Estevez (EFE)
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El economista Javier Gerardo Milei el 3 de agosto de 2021.
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Os argentinos estão ávidos por boas notícias após três anos de crise econômica e um ano e meio de uma pandemia que matou 111.000 pessoas no país. O Governo de Alberto Fernández tentou no começo do ano frear a escalada de preços e fracassou: a inflação nos sete primeiros meses do ano já superou a meta oficial de 29%. Agora, a aposta é chegar às eleições legislativas de novembro com um clima econômico o mais favorável possível. Com esse objetivo, o Executivo aprovou uma bateria de medidas destinadas a aliviar o bolso da população enquanto tenta frear a desvalorização do peso frente ao dólar e acelerar a campanha de vacinação.

A maioria de medidas econômicas anunciadas nas últimas semanas busca seduzir a classe média, decisiva no resultado das urnas em meados de novembro e também em sua escala prévia, as eleições primárias do próximo dia 12. Isso inclui a distribuição de um bônus extraordinário de 5.000 pesos (270 reais) aos aposentados, a concessão de créditos facilitados a trabalhadores autônomos, benefícios tributários a mais de um milhão de empregados e a reabertura das negociações salariais por setores. Todo isso permitirá aos argentinos recuperar parte do salário real, que hoje está 20% abaixo do que era no final de 2017, mas à custa de um forte aumento do déficit fiscal.

Por outro lado, o Executivo trabalha também para incentivar o consumo, chave para a recuperação econômica. Desde o começo de mês, eletrodomésticos e outros produtos podem ser comprados em até 30 prestações fixas, o que significa uma importante economia para aqueles que têm um cartão de crédito, já que a inflação elevada —já se aproxima de 50% neste 2021— liquefaz rapidamente o valor.

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Após 14 meses em queda, o consumo se recuperou em julho pela primeira vez, com um aumento de 1,7%, segundo a consultoria Scentia. Ainda assim, o acumulado de 2021 mostra um saldo negativo de 6,2%, refletindo como a população prioriza as compras em atacadistas e hipermercados em detrimento do comércio de proximidade: as vendas cresceram 5,4% nos grandes estabelecimentos, ao passo que nos pequenos os números continuaram vermelhos, com um retrocesso de 1,4%.

O Governo aposta também em incentivar o turismo interno no próximo verão e reativar assim um dos setores mais castigados pela pandemia, em especial pelas restrições de viagem em vigor durante grande parte de 2020 e a proibição da entrada de estrangeiros. O programa Previaje contempla a devolução de 50% dos gastos realizados em compras antecipadas até 31 de dezembro deste ano. Em 2020, quase 600.000 turistas e 13.000 prestadores de serviços turísticos utilizaram o programa, que injetou 15 bilhões de pesos (810 milhões de reais) no setor e permitiu preservar quase 300.000 empregos, segundo dados oficiais.

Junto a essa bateria de medidas, que beneficiam em maior medida as classes médias e altas, a facção governante Frente de Todos tenta também reduzir o mal-estar social dos mais vulneráveis, que são justamente os mais prejudicados pela pandemia de covid-19. Em 2020, a pobreza cresceu para 42% da população, a cifra mais alta desde o final da crise de 2001. “Os trabalhadores informais sofreram uma queda de 322.000 postos, que se elevam a 719.000 se for incluída a queda do emprego doméstico. Paralelamente, os trabalhadores formais acumularam uma baixa de 69.000 vagas. Políticas como o ATP, o REPRO, proibições de demissões ou a dupla indenização protegem o trabalho formal”, afirmou a consultora LCG em um relatório. Após semanas de mobilizações de movimentos sociais aliados e de oposição, o Governo aprovou uma grande ampliação de recursos para o Ministério de Desenvolvimento Social, do qual dependem os principais subsídios do Estado.

Segundo o FMI, a economia argentina crescerá 6,4% em 2021. O ministro da Economia, Martín Guzmán, é mais otimista: nesta quinta-feira anunciou a previsão de uma alta de 8% no PIB. Ambos os cenários, no entanto, ficam aquém do desabamento histórico de 9,9% em 2020, apesar do discurso otimista do Governo. “A situação macroeconômica na Argentina está se tornando mais robusta mês após mês”, disse Guzmán no Conselho das Américas. O ministro destacou o crescimento dos investimentos —6,1% sem sazonalidade com relação ao último trimestre do ano 2020— e das exportações —47,1% em julho em termos interanuais— como exemplos do caminho de crescimento que o país estaria trilhando.

Entretanto, a inflação disparada, os crescentes desequilíbrios fiscais, a pendente reestruturação de dívida com o FMI e os freios à desvalorização do peso despontam como nuvens carregadas que crescerão depois das eleições. “Apesar de haver meses de crescimento pela frente, não somos otimistas em pensar que a economia começará a crescer com força”, aponta a consultoria LCG. Na opinião de seus economistas, a política de geração de renda estimulada pelo Governo, ancorada na taxa de câmbio e na reabertura das negociações salariais, “ocorre num cenário de renda muito deprimida” e com a instabilidade própria dos meses pré-eleitorais.

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