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Duplo atentado do Estado Islâmico provoca matança durante a evacuação de Cabul

Um terrorista se explodiu entre a multidão nos arredores do aeroporto, enquanto uma segunda bomba era detonada em hotel próximo. Há dezenas de mortos, entre eles 12 soldados norte-americanos

Uma mulher ferida chega ao hospital depois das duas explosões desta quinta-feira perto do aeroporto da capital afegã.
Uma mulher ferida chega ao hospital depois das duas explosões desta quinta-feira perto do aeroporto da capital afegã.WAKIL KOHSAR (AFP)
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O alerta dos EUA sobre um ataque terrorista iminente nas proximidades do aeroporto de Cabul foi confirmado duas vezes nesta quinta-feira. Os ataques adicionaram confusão ao turbilhão de esforços de evacuação e uma imagem, a de militares norte-americanos mortos, que o presidente Joe Biden nunca teria desejado, diante das críticas à retirada caótica do Afeganistão. Dezenas de mortes —incluindo 12 militares dos EUA, conforme confirmado pelo Pentágono— e feridos é o saldo de um duplo ataque suicida perpetrado em torno do campo de aviação. Um oficial de saúde afegão elevou o número para 60 mortos e 140 feridos, em declarações à BBC, enquanto o The Wall Street Journal calculou o número de afegãos mortos em 60.

O primeiro ataque ocorreu na entrada principal do complexo, onde durante dias se reuniu uma multidão ansiosa por fugir do país, quando um homem-bomba detonou a carga explosiva em seu colete enquanto era inspecionado no controle de acesso, sob o comando de militares norte-americanos. A segunda, também cometida por suicídio, ocorreu ao lado de um hotel localizado a dois quilômetros de distância. O Estado Islâmico (EI), inimigo declarado do Talibã, assumiu a responsabilidade pelos ataques. As novas autoridades em Cabul foram rápidas em condenar o ataque.

“Embora estejamos tristes com a perda de vidas, continuaremos nossa missão (...) Ainda há uma série de ameaças ativas” em torno do aeroporto, de um possível ataque com foguete a um ataque com carro-bomba, disse do Pentágono o general Kenneth Mckenzie, chefe do Estado-Maior, aludindo à evacuação de norte-americanos e colaboradores afegãos de Cabul. Após as explosões, “os milicianos do Estado Islâmico abriram fogo contra civis e forças militares” na área, informou o alto comando.

De acordo com o porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, o número de mortos pode subir para 20. “Entre 13 e 20”, disse à agência France Presse. Mujahid condenou “veementemente” o ataque. “Aconteceu em uma área onde as forças dos EUA são responsáveis pela segurança”, especificou em sua conta no Twitter, embora na prática seja uma informação que pode ter nuances. Milicianos talibãs guardam o exterior do aeroporto, enquanto a supervisão do interior do complexo está a cargo dos Estados Unidos, com um destacamento de 5.200 soldados autorizados pelo presidente Biden para garantir a segurança da evacuação.

A Casa Branca dará continuidade aos planos de evacuação, descartando qualquer modificação do prazo de retirada, que termina em 31 de agosto, em decorrência do duplo ataque. O general Mckenzie, que elevou para mil o número de cidadãos norte-americanos ainda no Afeganistão, destacou que “apesar de estarmos tristes com a perda de vidas, continuaremos nossa missão”, aludindo à repatriação de americanos e colaboradores afegãos. “A ameaça do Estado Islâmico é completamente real e esperamos que ataques como este se repitam”, disse o chefe do Estado-Maior, que garantiu que seu país “perseguirá” os responsáveis pelos ataques.

O presidente Joe Biden foi informado sobre os eventos durante sua reunião diária com membros da equipe de segurança nacional, que contou com a companhia, desde Guam, da vice-presidenta, Kamala Harris, em uma viagem oficial pela Ásia. A notícia obrigou ao adiamento da importante reunião que o presidente manteria com o primeiro-ministro israelense Naftali Bennett. Outras aparições programadas na Casa Branca também foram adiadas.

Apesar do alerta emitido na noite de quarta-feira pela legação dos EUA em Cabul, pedindo aos seus cidadãos que evitem a transferência para o aeroporto, devido ao risco iminente de um ataque terrorista, um diplomata ocidental confirmou à Reuters que as entradas do campo de aviação ainda estavam desabadas devido a uma multidão ansiosa para escapar à medida que o prazo de evacuação se aproxima na próxima terça-feira.

Pouco antes da explosão, o porta-voz do Pentágono negou relatos que apontavam para o fim precoce das evacuações devido à ameaça terrorista. “Continuaremos a evacuar o maior número possível de pessoas até o final da missão”, tuitou Kirby.

Desde que o Talibã entrou em Cabul, no dia 15, dezenas de milhares de afegãos se reuniram ao redor do aeroporto na esperança de entrar furtivamente em um dos voos que os Estados Unidos e seus aliados organizaram para evacuar seus cidadãos e seus colaboradores. As multidões dificultaram a tarefa e causaram tumultos, enquanto tiroteios causaram dezenas de mortes.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, justificou na última terça-feira a não prorrogação do prazo de evacuação para além de 31 de agosto devido à “crescente ameaça de ataque do ISIS”. Essas é a sigla em inglês usada para designar o grupo terrorista Estado Islâmico, mas no Afeganistão existe um braço local dessa formação chamado ISIS-K (da próvíncia de Khorasan), ao qual os norte-americanos atribuíram atualmente a intenção de preparar um ataque.

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Desde então, os EUA, o Reino Unido e a Austrália pediram a seus cidadãos e aos afegãos que planejam evacuar para evitar o aeroporto e aguardar em áreas seguras. Os serviços secretos dos EUA detectaram indícios de que o grupo, responsável por alguns dos ataques mais brutais que o Afeganistão sofreu nos últimos anos, planejava aproveitar para marcar um gol duplo: atacar tanto os norte-americanos quanto o Tali∫an, com os quais rivalizam. E, além disso, desferir um sério golpe ao presidente Biden, que terá que encaixar a volta para casa de alguns de seus soldados dentro de um caixão. Nesta quinta-feira ocorreu o segundo ataque mais mortal contra as tropas norte-americanas no Afeganistão.

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