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Ciclone tropical Grace ameaça ações humanitárias após terremoto no Haiti

País caribenho já começou a receber ajuda internacional com socorristas voluntários para continuar busca por sobreviventes da tragédia que deixou mais de 1.300 mortos

Um grupo de pessoas remove escombros em uma rua de Los Cayos
Um grupo de pessoas remove escombros em uma rua de Los CayosOrlando Barría (EFE)
Lorena Arroyo
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Haití
Delinquência e pobreza: as feridas de um Haiti sem presidente
Haitian migrants gather before boarding a boat towards Capurgana near the border with Panama, in Necocli, Colombia, Wednesday, July 28, 2021. Thousands of migrants have been gathering in Necocli as they move north towards Panama on their way to the U.S. border. (AP Photo/Ivan Valencia)
O êxodo silencioso dos haitianos na América Latina
Paramédicos de la Cruz Roja atienden a víctimas del sismo en Los Cayos, Haití, este sábado.
Haiti segue em busca de sobreviventes do terremoto que já deixou cerca de 1.300 mortos

O Haiti parece ter se tornado um teste que mede quantas tragédias consecutivas um povo é capaz de suportar. Enquanto as áreas afetadas pelo poderoso terremoto de magnitude 7,2 ainda buscam se erguer após um saldo de cerca de 1.300 mortos, 5.700 feridos e milhares de casas destruídas —além de danos à infraestrutura e cortes nos serviços básicos— um novo fenômeno natural está no horizonte: desta vez, uma tempestade tropical ameaça prejudicar os esforços de resgate com chuvas e ventos.

O fenômeno se enfraqueceu ao avançar pelo Caribe, mas as previsões do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos são de que o ciclone Grace passará entre a noite desta segunda e a manhã de terça-feira perto da ilha de Hispaniola —território compartilhado por Haiti e República Dominicana— e deixará chuvas e ventos. “Essas fortes chuvas podem produzir inundações repentinas e urbanas e possíveis deslizamentos de terra”, indica a organização.

Como alerta Daniel Arango, coordenador de desastres do Comitê da Cruz Vermelha, isso pode afetar os esforços de busca e resgate de vítimas do terremoto. “Existe a possibilidade de que haja mais deslizamentos, visto que já ocorreram desmoronamentos por causa do terremoto. Com as enchentes, pode haver mais cortes de energia elétrica e água em decorrência das chuvas e ventos”, explica. “Será mais difícil para as pessoas que estão tentando lidar com os efeitos do terremoto.”

Nesse sentido, o diretor da agência de defesa civil do Haiti, Jerry Chandler, reconheceu no domingo que o país enfrenta outro “sério desafio” com a tempestade, sobretudo após muitos haitianos perderem suas moradias, o que os força a dormir nas ruas, onde ficam expostos às chuvas e à potencial disseminação de doenças pela falta de acesso a saneamento básico.

O porta-voz dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Haiti, Alexandre Michel, alerta que, embora seja difícil prever o que acontecerá com a depressão tropical, não é difícil imaginar que a situação se complicará. Isso acontece, principalmente, porque algumas das áreas afetadas pelo terremoto são altamente inundáveis, como é o caso de Los Cayos, uma cidade de 90.000 habitantes na costa sudoeste, a mais prejudicada pelo poderoso sismo que ocorreu no sábado.

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A organização médica já conta com equipes distribuídas pelas regiões mais afetadas pelo terremoto: o Sul, Grand’Anse, Nippes e Sudeste, que têm o maior número de mortos, feridos e casas destruídas pelo terremoto. Segundo Michel, o desastre, cujo epicentro foi próximo a Saint-Louis du Sud, a cerca de 160 quilômetros da capital Porto Príncipe, faz com que as necessidades da população nesses lugares sejam absolutas. “Primeiro, é preciso chegar a todos os locais afetados para dar os primeiros socorros”, diz em entrevista por telefone ao EL PAÍS. Ele acrescenta ainda que, por causa da destruição de algumas estradas, ainda existem locais que não foram alcançados pelas equipes de socorro, o que dificulta a contabilização dos danos.

“Em geral, é uma população que carece de tudo. Os quatro departamentos atingidos pelo terremoto já estavam separados do restante do país pela situação de insegurança com a capital. Já estavam muito debilitados economicamente há dois meses”, acrescenta Michel. A autoridade se refere à rodovia que liga Porto Príncipe à costa sudoeste, um trecho atualmente controlado por gangues armadas responsáveis por ataques e sequestros que dificultaram o transporte de pessoas e mercadorias.

No sábado, após o terremoto, o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, afirmou que a Polícia e o Exército foram deslocados para a estrada a fim de garantir o trânsito da ajuda humanitária. Enquanto isso, as Nações Unidas pedem que seja criado um “corredor humanitário” para a transferência de ajuda.

O Governo de Henry prometeu acelerar as operações de ajuda e atendimento aos atingidos. “A partir desta segunda-feira vamos agir mais rapidamente. A gestão da ajuda será acelerada. Vamos redobrar as nossas energias para fazer a assistência chegar ao maior número de vítimas possível”, escreveu o primeiro-ministro em sua conta no Twitter. Na véspera, ele visitou Los Cayos. Nesta segunda-feira, os primeiros carregamentos de ajuda humanitária desembarcados no aeroporto de Porto Príncipe começaram a chegar, assim como equipes de resgate e voluntários de diversos países que viajaram para a ilha caribenha em voos comerciais e privados.

Entre os primeiros países a ajudar o Haiti em meio a essa nova catástrofe estão os vizinhos latino-americanos: nas últimas horas, chegaram ao aeroporto de Porto Príncipe aviões com ajuda e equipes de resgate de Colômbia, Chile e México. Os Estados Unidos enviaram ajuda de primeiros socorros e um grupo de 65 socorristas com equipamentos especiais.

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