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Talibã reforça seu rápido avanço com a tomada de Kandahar, segunda maior cidade do país

EUA enviarão milhares de soldados para retirar quase todo o seu pessoal da embaixada em Cabul

Família afegã deslocada pelo conflito em Cabul, nesta quinta-feira. Em vídeo, imagens de Ghazni e afegãos fugindo do conflito.
Família afegã deslocada pelo conflito em Cabul, nesta quinta-feira. Em vídeo, imagens de Ghazni e afegãos fugindo do conflito.Paula Bronstein (GETTY)

O avanço do Talibã no Afeganistão parece incontrolável, e ainda mais rápido do que se esperava no primeiro semestre, quando começou a retirada definitiva das tropas internacionais que durante 20 anos contiveram a milícia fundamentalista. Nas últimas horas, o grupo assumiu o controle de Kandahar, no sul do Afeganistão, informam fontes do governo local à Reuters. Esta cidade, a segunda maior do Afeganistão (614.000 habitantes), é o lar espiritual do Talibã e grande feudo da etnia pashtun.

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In this photo released by China's Xinhua News Agency, Taliban co-founder Mullah Abdul Ghani Baradar, left, and Chinese Foreign Minister Wang Yi pose for a photo during their meeting in Tianjin, China, Wednesday, July 28, 2021. Wang met with a delegation of high-level Taliban officials as ties between them warm ahead of the U.S. pullout from Afghanistan. (Li Ran/Xinhua via AP)
China e os talibãs consolidam aproximação
Chaman (Pakistan), 09/08/2021.- Pakistani security officials stand guard as people stranded at the Pakistani-Afghan border wait for its reopening after it was closed by the Taliban who have taken over the control of the Afghan side of the border at Chaman, Pakistan, 09 August 2021. Taliban'Äôs shadow governor for Kandahar province on 05 August issued a statement that announced the closing down of the border with Pakistan at Chaman, and said Islamabad should relax rules for crossing the frontier. (Abierto, Afganistán) EFE/EPA/AKHTER GULFAM
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A queda de Kandahar nesta sexta-feira acrescenta uma nova vitória às colhidas na véspera, uma das jornadas de maiores avanços dos insurgentes desde o início da sua atual ofensiva, em maio: na quinta-feira o Talibã tomou Ghazni, cidade-chave no acesso rodoviário a Cabul (que fica a apenas 150 quilômetros), e Herat, a terceira maior cidade do país. A milícia integralista também passou a dominar Qala-i-Naw, no noroeste do país, antiga base de tropas espanholas, e Lashkar Gah, na província de Helmand, que passou semanas sitiada.

Os Estados Unidos, temerosos de que os insurgentes se plantem às portas de Cabul em menos de 90 dias, anunciou o envio de 3.000 soldados para garantir a segurança enquanto retira a maior parte do pessoal da sua Embaixada na capital, onde apenas permanecerá uma equipe mínima, segundo o Departamento de Estado.

O porta-voz Ned Price salientou que as tarefas diplomáticas e consulares serão mantidas com o pessoal remanescente. O Pentágono informou ainda que mantém seus planos para concluir a retirada militar até 31 de agosto, apesar de em menos de uma semana os fundamentalistas terem assumido o controle de 12 capitais provinciais.

Os insurgentes se deslocam rapidamente, conquistando território quase diariamente à sua passagem, e neste momento controlam quase um terço das capitais provinciais – a última a cair foi Firozkoh, na província de Ghor. Apenas quatro grandes cidades, incluindo Cabul, continuam sob controle do Governo, e duas delas estão sendo fortemente assediadas pelo Talibã.

Em alguns casos, as conquistas foram fáceis, pela pouca resistência apresentada por líderes locais que dão como inevitável a vitória do Talibã. Em outros lugares, porém, ocorreram intensos combates contra as forças do Governo, que já não contam com o potente apoio aéreo antes assegurado pelas tropas estrangeiras. Atualmente há combates em 9 das 34 províncias afegãs, onde nas últimas 24 horas 217 combatentes talibãs morreram e 108 ficaram feridos, segundo o balanço diário do Ministério da Defesa do Afeganistão.

A tomada de Ghazni, no sudoeste, é vital porque amplia as chances de chegar a Cabul. Essa localidade é decisiva porque dá acesso à rodovia que liga a capital a Kandahar, o que significa que os fundamentalistas controlam os principais acessos estratégicos do norte e o sul depois da queda da cidade de Pul-e Khumri, há dois dias. “Ghazni caiu nesta manhã [de quinta-feira], e as forças de segurança se retiraram da maior parte da cidade”, anunciou Amanullah Kamrani, subchefe do Conselho Provincial local. O Talibã entrou na cidade provenientes de várias direções e tomou a maioria dos edifícios governamentais, como a casa do governador e a sede da polícia.

A conquista de Herat não é menor. A cidade é um dos principais centros comerciais e eixos do Afeganistão, ao compartilhar fronteira com o Irã e o Turcomenistão. Tropas espanholas passaram 14 anos na base de Herat, até 2015, quando encerraram sua missão. Qala-i-Naw também caiu nesta quinta nas mãos do Talibã, e “a maioria das forças de segurança se retirou para a base provincial do Exército”, segundo um deputado da província de Badghis no Parlamento nacional, que pediu anonimato, informa a Efe.

Chefe do Exército

O presidente afegão, Ashraf Ghani, fez na quarta-feira uma visita-relâmpago a Mazar-i-Sharif, a grande cidade do norte sitiada pelo Talibã, para tentar coordenar uma resposta que freie o avanço da guerrilha. Na mesma noite, um novo chefe das Forças Armadas, o general Hibatullah Alizia, assumiu o comando das tropas governamentais.

Cabul ainda não sofre uma ameaça direta do avanço do Talibã, mas a inesperada velocidade da ofensiva, que se acelerou nas últimas duas semanas, gera dúvidas sobre a capacidade do Governo afegão para controlar a situação, e até quando. Washington não só calcula que o Talibã poderia tomar Cabul em menos de três meses como também que a cidade pode ficar isolada bem antes, num prazo de 30 a 60 dias.

Apesar disso, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ressaltou que não reverterá a retirada das tropas. O porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA, John Kirby, limitou-se a reconhecer nesta quinta a “deterioração da situação”. Por outro lado, reiterou o apelo de Biden às autoridades locais para que confrontem a ofensiva do grupo fundamentalista. “Nós nos empenhamos em melhorar a competência e a capacidade [das forças de segurança] afegãs no campo [de batalha], mas em algum momento a competência e a capacidade devem ser questão dos próprios afegãos”, afirmou.

Enquanto isso, o conflito já está provocando um êxodo de pessoas que fogem dos combates e dos talibãs. A ofensiva deixou pelo menos 250.000 desabrigados desde seu início, em maio, e cerca de 80 % deles são mulheres crianças, alertou nesta sexta o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Esse êxodo se soma a 150.000 pessoas que já tiveram que deixar seus lares entre janeiro e maio, elevando a 3,3 milhões o total de deslocados internos no país centro-asiático, segundo as cifras fornecidas nesta sexta-feira pela porta-voz do ACNUR, Shabia Mantoo.

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