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Chile conclui primeira eleição direta para governador, com menos de 20% de participação

Centro-esquerda obtém 8 dos 13 cargos em disputa, incluindo o comando de Santiago

O governador eleito da região de Santiago, Claudio Orrego, comemora sua vitória na capital do país.
O governador eleito da região de Santiago, Claudio Orrego, comemora sua vitória na capital do país.ESTEBAN GARAY (EFE)
Rocío Montes

Apenas 2,5 milhões de eleitores votaram neste domingo no segundo turno da primeira eleição direta da história para os governos regionais do Chile. A cifra de participação (19,6% dos 13 milhões de eleitores habilitados) é a pior já registrada no país sul-americano, que sofre um abstencionismo estrutural, sobretudo desde que a adoção do voto voluntário em 2012. No plebiscito de outubro de 2020, que definiu a troca da atual Constituição, 50,95% participaram. No mês passado, na eleição simultânea dos 155 constituintes, além de prefeitos e governadores, a participação caiu para 43,41%. Neste domingo, o comparecimento diminuiu ainda mais por causa da covid-19, que atualmente mantém 96% dos leitos de UTI ocupados. Dada a nova onda de contágios, toda a região da capital entrou novamente em quarentena no fim de semana, apesar de as restrições terem sido suspensas para permitir o deslocamento de eleitores até as seções.

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Na votação de um mês atrás, apenas 3 das 16 regiões definiram seus governos no primeiro turno: Valparaíso ficou nas mãos da esquerdista Frente Ampla, e nas regiões de Aysén e Magallanes, no extremo sul, triunfaram os candidatos de centro-esquerda (Unidade Constituinte). Treze regiões aguardavam o segundo turno deste domingo, culminando uma eleição histórica, porque nunca os chilenos haviam elegido diretamente seus líderes regionais, que eram sempre designados pelo Executivo nacional. O Chile era um dos dois únicos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), junto com a Turquia, onde não há eleições para o âmbito intermediário de Governo, como os governos estaduais no Brasil.

A centro-esquerda ficou neste domingo com 8 dos 13 cargos em disputa, incluído o Governo de Santiago, região que concentra 40% da população chilena e é mais relevante neste país altamente centralizado. O advogado democrata-cristão Claudio Orrego, da coalizão de centro-esquerda que governou entre o retorno à democracia, em 1990, e 2010, obteve 52,7% dos votos contra Karina Oliva, uma cientista política de 36 anos, candidata da esquerdista Frente Amplo. Embora não exista uma correlação direta entre a inédita eleição de governadores e a presidencial de novembro próximo, a aliança composta pela Frente Ampla e o Partido Comunista esperava sair fortalecida para a sucessão do direitista Sebastián Piñera, mas o resultado acabou dando novas esperanças à ala moderada da oposição, que tem vários candidatos na corrida: a socialista Paula Narváez, o radical Carlos Maldonado e a senadora democrata-cristã Yasna Provoste, a de maior competitividade nesse setor, apesar de não ter oficializado sua postulação.

Mais à esquerda, os presidenciáveis Daniel Jadue (do Partido Comunista) e Gabriel Boric (da Frente Ampla) se enfrentarão numa eleição primária em 18 de junho. Ambos apoiaram com entusiasmo a candidatura de Oliva em Santiago, que teve uma votação elevada, apesar da derrota para Orrego.

O governismo, enquanto isso, ficou novamente no chão, depois de não conseguir eleger nem um terço da Assembleia Constituinte, o que na prática deixa a direita sem poder de veto no processo de redação da nova Constituição, que começa em julho. Das 16 regiões que estavam em disputa, a direita vai governar apenas Araucanía, onde se concentra o conflito entre o Estado e o povo mapuche pelo controle das terras ancestrais. É um golpe forte para os quatro candidatos do setor que pretendem suceder a Piñera: Joaquín Lavín (UDI), Sebastián Sichel (independente), Ignacio Briones (Evópoli) e Mario Desbordes (RN).

A apuração em Santiago era aguardada com expectativa, sobretudo depois dos resultados de maio passado, quando os eleitores castigaram os políticos tradicionais, tanto de direita como de centro-esquerda, que lideraram a transição para a democracia desde 1990. Há um mês, a aliança entre o Partido Comunista e a Frente Ampla ficou com 28 assentos na convenção constituinte, a Lista do Povo, de independentes de esquerda, com 26; a centro-esquerda com 25, e a direita, unida em uma só chapa, elegeu só 37, insuficiente para vetar qualquer norma constitucional. Neste domingo, no Chile, o descontentamento social não foi capitalizado pela esquerda, ao menos na capital. No norte, entretanto, a Frente Ampla ficou com a região de Tarapacá, e em Coquimbo a candidata independente apoiada pelo Partido Comunista triunfou contra um representante da direita.

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O governador eleito de Santiago, Claudio Orrego, que assumirá o cargo em 14 de julho, começou na política estudantil nos anos oitenta, lutando contra o regime militar. Depois foi ministro no Governo de Ricardo Lagos (2000-2006), prefeito eleito por oito anos do município de Peñalolén e intendente (prefeito) de Santiago no segundo Governo de Michelle Bachelet, entre 2014 e 2018. Com reconhecida capacidade de gestão local, sua figura está fortemente relacionada à classe política convencional, contra a qual a sociedade chilena parecia se rebelar. Sua rival, por outro lado, não era um rosto tradicional da política chilena, e sim parte de uma geração que irrompeu de diferentes frentes.

O recorde de baixa participação neste domingo reabriu imediatamente um debate sobre a necessidade de reformas eleitorais, como a redação do sufrágio obrigatório, que já está em discussão no Congresso.

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