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Protesto contra indulto a separatistas catalães exige a renúncia de Sánchez na Espanha

Manifestação reuniu 25.000 pessoas em Madri e teve o apoio de partidos de direita. Líderes do movimento de independência estão presos há três anos e meio

Xosé Hermida
Manifestação na praça Colón, em Madri, contra os indultos aos presos separatistas catalães, neste domingo
Manifestação na praça Colón, em Madri, contra os indultos aos presos separatistas catalães, neste domingoDAVID EXPOSITO
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A convocação feita pela plataforma União 78 para um protesto contra os possíveis indultos aos dirigentes do procés, o movimento em prol do separatismo na Catalunha, reuniu cerca de 25.000 pessoas em Madri neste domingo, segundo a Delegação do Governo. Mas os gritos, mais do que os indultos para os condenados em si, se concentraram em exigir a renúncia do presidente do Governo do país (primeiro-ministro), Pedro Sánchez, também alvo de ataques e insultos em vários cartazes. A possibilidade de o Executivo nacional conceder o perdão aos líderes catalães, que estão detidos há três anos e meio e foram condenados a penas de 9 a 13 anos de reclusão pelos crimes de sedição e peculato, ganhou força em maio.

Em 2019, outro protesto que repudiou as negociações do Executivo com os independentistas catalães reuniu quase o dobro de pessoas —45.000, segundo a mesma autoridade. A polícia municipal apresentou outra estimativa, muito distante: 126.000 pessoas. Em 2019, os organizadores estimaram 200.000. Os líderes dos três partidos que apoiaram a concentração, PP, Vox e Cidadãos, os partidos de direita, evitaram se encontrar. Além disso, o líder do PP (Partido Popular, conservador e de oposição ao socialista PSOE, de Sánchez), Pablo Casado, ficou na entrada da praça, sem se embrenhar totalmente na multidão.

Casado, acompanhado da presidenta da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, e do prefeito da capital, José Luis Martínez Almeida, percorreu a pé os poucos metros que separam a sede de seu partido, na rua Genova, da Praça de Colón, e ali ficou na entrada, longe da parte central da concentração. Enquanto isso, na primeira fila, os seguidores do ultradireitista Vox assumiam as posições mais visíveis, com bandeiras, estandartes e um adesivo que se repetia no peito de muitos dos participantes: “Pare a invasão. Defenda a Espanha!”. Ali também desfilaram os principais líderes do Vox, muito aclamados pelo público, até se retirarem para um local mais discreto. Entre alguns dos presentes houve gritos esporádicos contra o líder do PP: “Casado, onde está o chefe?”, “Casado, safado, apoie a moção [de censura apresentada por Santiago Abascal em outubro]”. O único líder de destaque do PP que se viu nas proximidades do palco foi a ex-porta-voz parlamentar Cayetana Álvarez de Toledo, integrante da plataforma que fez a convocação da manifestação. Inés Arrimadas, líder dos Cidadãos, também se colocou em um lugar menos visível.

A tribuna e os discursos foram tomados pelos representantes da União 78, a começar pelo escritor Andrés Trapiello e terminando pela porta-voz da plataforma, Rosa Díez. Trapiello apresentou a manifestação como um “ato moral e político” para reunir, disse ele, pessoas de todas as ideologias que querem apenas defender a “ordem constitucional da Espanha”. O escritor criticou Sánchez por mudar de opinião sobre os indultos e argumentou que os motivos do protesto não dizem respeito apenas à direita: “Ninguém é facha [facista] por dizer o mesmo que o presidente dizia há alguns meses”. “Aqui há gente da direita, mas também do centro e da esquerda”, acrescentou.

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Rosa Díez começou em um tom mais de comício: “Espanhóis, todos, obrigada por estarem juntos! Espanhóis do bem, obrigada, somos a maioria!”. Díez anunciou que manifestações como aquela se repetirão nas próximas semanas em toda a Espanha. “Não vamos permitir que nossa nação seja entregue como pagamento aos grandes criminosos para que Sánchez possa dormir mais dois anos em La Moncloa [sede do Governo nacional]”, disse ela.

Os três partidos de direita voltaram à Praça Colón mais de dois anos depois que, em 10 de fevereiro de 2019, PP e Cidadãos se manifestaram e se fotografaram ao lado do Vox, então ainda uma força extraparlamentar. Desde aquele dia, os discursos de esquerda não pararam de propagar a imagem do “trio da Colón” para acusar seus rivais de terem se deixado levar pela estratégia da extrema direita. Desta vez, a convocação para a manifestação foi muito diferente. Não partiu do PP e do Cidadãos, como então, mas de uma plataforma cívica, a União 78, promovida pela ex-socialista Díez, com intelectuais de grande peso no combate aos nacionalismos periféricos. O Vox aderiu de imediato e depois, com alguma relutância, o Partido Popular e o Cidadãos. A posição do PP tem sido marcada pela hesitação: não mobilizou seus militantes de fora de Madri nem fez chamados públicas para o comparecimento ao protesto. Só os membros do PP madrilenhos aderiram sem fissuras, enquanto os demais barões territoriais situados em cargos mais moderados —os presidentes de Governo da Galícia, da Andaluzia e de Castela e Leão— justificaram as suas ausências.

A manifestação de 2019 na praça Colón foi convocada depois do anúncio de que o Governo aceitava a presença de um relator externo na mesa de diálogo com a Generalitat (Governo Catalão), medida que causou polvorosa e que o Executivo retirou poucos dias depois. No manifesto lido naquele dia 10 de fevereiro já se denunciava que Sánchez havia “cedido à chantagem” dos independentistas e que negociava seu apoio à aprovação dos Orçamentos do Estado “em troca da soberania nacional”. Nada parecido com isso ocorreu, mas acusações semelhantes foram ouvidas novamente neste domingo, agora a respeito da reconhecida intenção do Governo de perdoar os condenados pelo processo independentista catalão.

A declaração de 2019 terminou fazendo um chamado à “convocação imediata de eleições gerais”. Não demorou muito para que esses desejos fossem atendidos. Os espanhóis foram chamados às urnas no dia 28 de abril, Sánchez saiu vencedor e o PP teve o pior resultado de sua história. Já o Cidadãos deu um salto e ficou com quase a mesma representação do PP, enquanto o Vox irrompeu com mais de 10% dos votos. As eleições se repetiram em novembro e o grande resultado do Cidadãos de repente evaporou, até acabar com a carreira de seu líder, Albert Rivera. O PP se recuperou às suas custas e o Vox fez outro avanço importante, ultrapassando os 15%.

As sequelas daquele episódio condicionaram as estratégias dos partidos antes da convocação da manifestação deste domingo. PP e Cidadãos não quiseram ficar de fora do protesto contra uma medida que, segundo pesquisas, a maioria dos espanhóis rejeita. Mas, ao mesmo tempo, ambos têm feito todo o possível para evitar uma nova foto com o Vox, com medo de que o partido de Abascal capitalize o descontentamento entre os setores da direita.

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