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Oito partidos fecham pacto para formar novo Governo e retirar Netanyahu após 12 anos no poder em Israel

Acordo fechado no limite do prazo envolve siglas heterogêneas e deve levar o ultranacionalista conservador Naftali Bennett ao cargo de primeiro-ministro, após confirmação pelo Parlamento

El ultranacionalista israelí Naftali Bennett, el domingo en Jerusalén.
O ultranacionalista israelense Naftali Bennett neste domingo em Jerusalém.YONATAN SINDEL /POOL (AP)
Juan Carlos Sanz
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Os líderes dos partidos de oposição de Israel chegaram a um acordo nesta quarta-feira sobre um pacto governamental sem precedentes, no limite do prazo legal concedido pelo presidente de Israel, Reuven Rivlin. Oito siglas heterogêneas se comprometeram a votar unidas na sessão para retirar do poder o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no cargo desde 2009. As acirradas disputas pela divisão dos ministérios levaram ao limite o prolongamento das negociações, fechadas pouco antes da meia-noite local —se a iniciativa fracassasse, a atribuição de designar um candidato a formar o Governo passaria ao próprio Knesset (Parlamento), onde começaria a contagem regressiva para a convocatória automática de novas eleições legislativas no próximo trimestre.

A coalizão formada por três forças da direita, duas do centro, duas da esquerda e, como grande novidade, um partido da minoria árabe, não tem precedentes nos 73 anos de história do Estado de Israel. Além de lidar com as marcantes diferenças ideológicas, o encarregado de conduzir o acordo, o centrista Yair Lapid, teve que tentar satisfazer todas as partes na distribuição do poder. Mesmo com três dúzias de pastas ministeriais em jogo, a luta continuou quando o mandato estava prestes a expirar pelo chefe de Estado entregue a Lapid há quatro semanas.

Com um acordo firmado, o presidente Rivlin deve conceder uma semana a mais para que os sócios terminem de traçar um programa de governo. Lapid, no entanto, não será o nome que será submetido ao Knesset na próxima semana, mas o ultranacionalista conservador Naftali Bennett, que decidiu contribuir com seus votos decisivos para o pacto no último domingo em troca de ocupar o cargo de primeiro-ministro no início da legislatura. Lapid se sacrificou apesar de encabeçar a segunda formação política mais votada, depois do Likud de Netanyahu, nas urnas em março. Agora ele terá que se limitar a servir como chanceler até meados de 2023, quando fará um rodízio com Bennett em seus respectivos cargos.

O partido Likud, dirigido por Netanyahu, tentou durante a jornada uma nova manobra para adiar a formação de um Gabinete alternativo. Seus dirigentes solicitaram ao presidente Rivlin que vetasse a eventual designação de Bennett como chefe do Executivo, já que ele não tinha recebido a incumbência formal para isso. Os serviços jurídicos da presidência responderam pouco depois que as leis básicas que fazem a função de texto constitucional em Israel avalizavam sua designação, sustentada por um pacto com maioria suficiente no Knesset.

A votação da moção de confiança no novo Governo está prevista em principio para o dia 9, mas o atual presidente do Knesset, Yariv Levin, do Likud, advertiu que pode adiar a sessão em uma semana por questões regimentais. As negociações de paz com os palestinos e o papel da religião no Estado são questões que ficarão previsivelmente excluídas do programa do futuro Governo, que se centrará no consenso sobre a recuperação da economia depois da pandemia e a modernização do sistema sanitário.

Ameaças de extremistas

Os deputados conservadores que se somaram à operação para apear Netanyahu do poder estão recebendo ameaças e acusações de “traição” das fileiras de grupos extremistas. O Shin Bet (serviço de segurança interna) reforçou a proteção de guarda-costas a Bennett e alguns de seus seguidores, como a ex-ministra Ayelet Shaked.

Netanyahu acusou a oposição de “pôr em perigo a segurança nacional” ao constituir um Executivo sustentado por deputados pacifistas e árabes, comunidade que representa uma quinta parte da população de Israel, poucos dias depois da escalada bélica que confrontou o Exército israelense a milícias islâmicas palestinas da Faixa de Gaza.

Nas redes sociais de Israel circula uma foto manipulada de Bennett usando roupas árabes, informa a agência Reuters, em uma imagem que recorda as divulgadas por detratores do primeiro-ministro trabalhista Isaac Rabin, que assinou os acordos de paz de Oslo com os palestinos e acabou sendo assassinado em 1995 por um extremista judeu.

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Um inesperado líder para a mudança em Israel

Na polarizada sociedade de castas de Israel, com tribos aparentemente irreconciliáveis, Naftali Bennett, de 49 anos, apresenta-se como um inesperado líder reunificador, marcando uma troca de gerações no poder após o fim da era de Benjamin Netanyahu, de 71 anos. Ultrapassou o primeiro-ministro conservador pela direita, depois de ter sido seu fiel chefe de gabinete na oposição entre 2006 e 2008, e abraçou o credo do ultranacionalismo e da defesa dos assentamentos nos territórios palestinos. Em seu afã de alcançar o topo do poder, virou-se durante mais de uma década para onde soprava o vento político, até arrebatar o cargo de quem foi seu mentor. Em uma última reviravolta em sua carreira, agora se prepara para suceder ao ex-chefe à frente de um Governo de coalizão com outros seis partidos, todos eles situados à sua esquerda.

Nascido em Haifa (no norte de Israel), em uma família de judeus que imigraram dos EUA, Bennett encarna o ideal de sucesso israelense como soldado de uma unidade de elite, à qual também pertenceu Netanyahu em sua juventude, e promotor de start-ups tecnológicas, que vendeu por uma fortuna antes de entrar para a política com um partido próprio em 2012. Também simboliza as contradições do Israel contemporâneo, como judeu ortodoxo de rito moderno, que se mostra ao mesmo tempo tolerante com a diversidade sexual.

Amparado por apenas sete deputados numa coalizão que precisará formar uma maioria absoluta de pelo menos 61 parlamentares de direita, centro e esquerda, Bennett terá que deixar de lado seus sonhos de anexar parcialmente a Cisjordânia ao Estado judaico. Desde que irrompeu no Knesset, ele quase sempre foi um aliado menor no bloco conservador de Netanyahu, que às vezes tentou fagocitar seu eleitorado e expulsá-lo do jogo político.

Apesar de seu discurso radical ―foi presidente da associação de colonos da Cisjordânia― e de suas etapas de ligação com a ultradireita mais radical da Câmara ―“Não cederei nem um centímetro de terra aos árabes”, proclamava―, Bennett em geral é visto pela opinião pública israelense como um gestor eficaz, avalizado por sua experiência de sucesso empresarial, e de orientação pragmática em sua passagem pelos ministérios de Economia, Educação e Defesa.

Casado e com quatro filhos, formou-se em Direito pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Fala inglês com sotaque norte-americano herdado dos pais e afinado à frente de várias empresas em Nova York, onde se filiou ao neoliberalismo econômico.

Seu veto à realização da quinta eleição desde 2019, estratégia que favorecia Netanyahu para se blindar de processos por corrupção, foi decisiva para aceitar a oferta do centrista Yair Lapid de encabeçar um Governo de coalizão, embora só durante a primeira metade da legislatura. Sua decisão de aderir à aliança de quase toda a oposição, que supostamente incluirá também o respaldo de um partido árabe, tratará de pôr fim aos mais de 12 anos de hegemonia de Netanyahu.

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