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Israel e Hamas intensificam ataques na pior crise desde 2014

Exército israelense atinge a cúpula das milícias islâmicas com assassinatos seletivos de vários comandantes, enquanto estas continuam lançando foguetes sobre o sul e o centro do país

Juan Carlos Sanz
Várias colunas de fumaça sobem sobre Khan Younis, na Faixa de Gaza, depois de um bombardeio da aviação israelense, na quarta-feira. Em vídeo, destroços em Gaza vistos de um drone.
Várias colunas de fumaça sobem sobre Khan Younis, na Faixa de Gaza, depois de um bombardeio da aviação israelense, na quarta-feira. Em vídeo, destroços em Gaza vistos de um drone.YOUSSEF MASSOUD (AFP)
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Israel e o Hamas se lançaram em uma guerra aberta depois de dois dias de hostilidades gerais. Pelo menos 65 palestinos, entre milicianos e civis, incluindo 14 crianças, e sete israelenses (entre eles uma mulher de nacionalidade indiana) morreram em cerca de 500 operações da aviação israelense e como consequência do disparo de cerca de 1.000 foguetes pelas milícias palestinas. A escalada desencadeada após o disparo de projéteis sobre Jerusalém na segunda-feira entrou na madrugada desta quarta-feira em uma perspectiva de guerra generalizada com bombardeios maciços do Exército israelense, a derrubada de edifícios de várias alturas pelos mísseis da aviação e assassinatos seletivos de chefes das milícias islâmicas do Hamas e da Jihad Islâmica. Ao menos meia dúzia de comandantes morreu em suas bases ou casas por conta da ofensiva aérea. O Governo israelense declarou estado de emergência na cidade de Lod, a 15 quilômetros de Tel Aviv, diante dos tumultos causados pelos protestos da minoria árabe contra a intervenção militar. O enviado da ONU para a região, Tor Wennesland, afirmou que está trabalhando com ambas as partes para restaurar a calma.

Enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou o Exército a “fazer pagar o preço de seu sangue” pelos ataques contra israelenses, o líder máximo do Hamas, Ismail Haniya, convocou todos os palestinos a uma cruzada por Jerusalém em um comunicado divulgado nesta quarta-feira. A retórica bélica faz vislumbrar que as hostilidades durarão ao menos vários dias, sem perspectivas de alcançar uma trégua, apesar das tentativas de mediação internacional, principalmente do Egito, do Catar e das Nações Unidas.

De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, é a maior escalada do conflito entre ambas as partes desde a guerra que atingiu o território de Gaza em 2014. Só nesta madrugada mais de 200 foguetes foram disparados de Gaza em direção ao sul, para cidades como Beersheva, e o centro de Israel, na região de Tel Aviv. Em Lod, na área central, um homem de 52 anos e sua filha de 16 morreram depois que a casa em que moravam recebeu o impacto direto de um míssil. A última vítima israelense é um motorista, ferido no ataque de um míssil antitanque disparado pela Jihad Islâmica junto à fronteira de Gaza. O escudo defensivo antimísseis israelense, chamado de Cúpula de Ferro, realizou várias interceptações.

“Se você não chega ao refúgio, está perdido”

Duas das vítimas dos projéteis das milícias palestina são uma mulher indiana de 32 anos e a idosa de 90 anos de que cuidava, na cidade israelense de Ashkelon, na fronteira norte da Faixa. Seu vizinho Eli Landu, um carteiro de 62 anos, disse a um grupo de veículos de comunicação, entre os quais o EL PAÍS, que não havia refúgio na casa delas, que era antiga. “Só se tem 30 segundos para chegar ao refúgio; do contrário, você está perdido”, explica Landau a cerca de quinze quilômetros da fronteira de Gaza, com um horizonte de colunas de fumaça ao fundo. As explosões dos bombardeios israelenses se sucedem incessantemente.

As Forças Armadas israelenses reforçaram as áreas de fronteira do enclave palestino com batalhões de infantaria e tanques. Mais de 3.000 reservistas foram mobilizados pelo comando da Divisão Sul, que opera na região, para reforçar com serviços de inteligência as unidades de combate. O chefe do Estado-Maior, o general Aviv Kochavi, deu luz verde para que as unidades operacionais executem assassinatos seletivos de comandantes das milícias palestinas, vários dos quais já perderam a vida, segundo porta-vozes de suas organizações.

A vida cotidiana parou na Faixa de Gaza no último dia do Ramadã, esta quarta-feira, enquanto os moradores aguardam os avisos que o Exército israelense emite antes do bombardeio de edifícios ou de posições das guerrilhas islâmicas ―vários imóveis foram destruídos na terça-feira, entre eles um bloco de 13 andares que abrigava um escritório político do Hamas. Os moradores da região foram alertados com uma hora de antecedência. Conforme informou o Exército israelense, a aviação atingiu nas últimas horas a casa do comandante da Cidade de Gaza, Basa Misa, a de Khan Younis, Rafah Salameh e a do chefe do aparato de espionagem da milícia, Muhammad Yizuri.

No sul e no centro de Israel, onde ondas de dezenas de foguetes continuaram caindo durante a noite, um milhão de alunos tiveram as aulas presenciais suspensas e foram enviados para casa para terem aulas online. Enquanto isso, a Frente Interna do Exército (Proteção Civil) ordenou que todos os habitantes dessas regiões, mais da metade da população do país, permanecessem em suas casas e perto de refúgios antiaéreos.

Carro da polícia israelense em chamas depois de uma manifestação contra a ofensiva de Israel, na terça-feira na cidade de Lod, ao sul de Tel Aviv.
Carro da polícia israelense em chamas depois de uma manifestação contra a ofensiva de Israel, na terça-feira na cidade de Lod, ao sul de Tel Aviv.- (AFP)

A crise também se espalhou para a Cisjordânia, onde houve confrontos com o Exército nos postos de controle de fronteira e, pela primeira vez, também para cidades de Israel com maioria de população árabe. É o caso de Lod, próxima de Tel Aviv, onde confrontos entre moradores judeus e árabes causaram ao menos um morto. O Governo de Israel declarou estado de emergência na localidade. Em confrontos com a polícia de fronteira, corpo militarizado enviado para reforçar a segurança, 12 manifestantes ficaram feridos.

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Infraestruturas básicas, como o Aeroporto Internacional Ben Gurion, ao sul de Tel Aviv, foram afetadas, assim como o oleoduto Eilat Ashkelon, atingido por foguetes lançados da Faixa de Gaza.

A onda de violência que estourou em Jerusalém durante o mês do Ramadã, onde mais de 300 palestinos ficaram feridos na segunda-feira em confrontos com a polícia na mesquita de Al Aqsa, se espalhou para o enclave de Gaza, que teve três devastadoras batalhas desde que o Hamas tomou o poder no território em 2007. Junto com os protestos contra as barreiras policiais colocadas no Ramadã na Porta de Damasco, principal acesso ao bairro muçulmano da Cidade Velha, a mobilização dos cidadãos para deter os despejos no bairro de Sheikh Jarrah, que tinham sido promovidos perante a justiça por uma associação de colonos ligada à extrema direita, estava por trás da origem da explosão em Jerusalém durante o mês sagrado do Islã.

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