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China e os EUA se comprometem a cooperar na luta contra a mudança climática

Os dois países acertam reforçar o encaminhamento do Acordo de Paris e colaborar para promover o sucesso da cúpula virtual sobre o aquecimento convocada para quinta-feira por Biden

Congestionamento em Pequim, China, em 15 de abril.
Congestionamento em Pequim, China, em 15 de abril.WU HONG (EFE)
Macarena Vidal Liy

Em meio às tensões generalizadas na relação entre os Estados Unidos e a China surgiu um raio de luz. Os dois países se declararam “comprometidos a colaborar” na luta contra o aquecimento global, tanto dentro do Acordo de Paris como em outras frentes. O anúncio foi feito após três dias de conversas entre o enviado norte-americano para o clima, John Kerry, e seus homólogos chineses em Xangai, enquanto a China e os EUA permanecem em atrito por questões como os direitos humanos na região de Xinjiang e Hong Kong, além das pressões de Pequim sobre Taiwan e sua guerra tecnológica.

“A China e os Estados Unidos, junto com outros países, estão comprometidos a colaborar entre si e com o restante para combater a crise climática, para responder com a seriedade e urgência necessárias”, indica um comunicado conjunto, na versão distribuída pelo Ministério chinês de Ecologia e Meio Ambiente. Isto inclui fortalecer suas ações respectivas e cooperar em frentes multilaterais como a Convenção Marco Zero das Nações Unidas sobre Mudança Climática e o Acordo de Paris.

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Kerry e seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, prometeram no comunicado que os dois países ―os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo―, adotarão medidas específicas e mais ambiciosas ao longo da década para reduzir as emissões segundo os objetivos do acordo de Paris de 2015, que pretende manter o aquecimento global abaixo de dois graus em relação aos níveis pré-industriais e tentar limitá-lo a 1,5 grau.

O representante norte-americano ―primeiro cargo de alto escalão da Administração de Joe Biden a viajar à China desde a posse do novo presidente―, chegou a Xangai na quarta-feira sob rígidas medidas de segurança contra a pandemia da covid-19. Durante sua estadia na segunda maior cidade chinesa, Kerry se alojou em um hotel fechado ao público onde se reuniu com Xie Zhenhua e o vice-primeiro-ministro Han Zheng por videoconferência. Mantiveram, desse modo, conversas que representam o restabelecimento do diálogo entre as duas principais potências poluidoras, após uma interrupção de quatro anos durante o mandato de Donald Trump nos Estados Unidos. Uma etapa em que Washington se retirou do cenário global de luta contra a mudança climática e a China se apresentou como um líder confiável contra o problema.

Biden deu uma guinada de 180 graus em relação à política de seu predecessor, que retirou seu país do Acordo de Paris com o argumento de que prejudicava as empresas norte-americanas. O mandatário realizará nas próximas quinta e sexta-feira uma cúpula virtual sobre a mudança climática que servirá para preparar a reunião da ONU em Glasgow sobre clima (COP26) prevista para novembro. Segundo a Casa Branca, líderes de 40 países estão convidados.

“O comunicado conjunto da China e dos Estados Unidos”, indicou em um tuíte Li Shuo, assessor sênior sobre clima na organização ecologista Greenpeace, “frisa o compromisso inequívoco dos dois países para colaborar na luta contra a crise climática. É um firme passo à colaboração, em meio a enormes desafios geopolíticos”. Previamente, o especialista afirmou que a reunião de Xangai demonstra que “em relação à mudança climática, o desacoplamento (entre a China e os Estados Unidos) não é factível e sensato”.

Ainda que o comunicado conjunto indique que os dois países “esperam com expectativa” a cúpula virtual do clima convocada por Biden para o final desta semana, o texto não especifica se o presidente chinês, Xi Jinping, acabará participando. “Esperamos que participe”, declarou Kerry neste domingo aos jornalistas, em sua visita posterior a Seul. “Evidentemente, cada país tomará suas próprias decisões”, disse, contemporizador. “Não queremos obrigar ninguém. Queremos cooperação”.

O ex-secretário de Estado, que chamou de produtivas suas conversas com os representantes chineses em Xangai, afirmou que durante as reuniões as duas partes abordaram a possibilidade de que a China melhore o compromisso, anunciado em setembro pelo próprio presidente Xi Jinping, de chegar à neutralidade de carbono em 2060, e chegar ao seu pico de emissões de carbono antes de 2030.

Washington, espera-se, deve anunciar seus próprios objetivos de redução de emissões ao final da cúpula virtual desta semana. Xi Jinping pode optar por anunciar uma melhora dos seus até mesmo antes, em outra reunião internacional: o Fórum Econômico de Boao, iniciado neste domingo na ilha chinesa de Hainan e no qual o líder chinês tem prevista sua participação. Na sexta-feira, enquanto em Xangai Kerry e os representantes de Pequim se reuniam, Xi Jinping fez uma reunião por videoconferência com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, para também falar da crise climática.

“Acho que é a primeira vez que a China declarou que se trata de uma crise”, disse Kerry na Coreia do Sul sobre o resultado das reuniões de Xangai. “A linguagem (do comunicado) é muito firme... podem ver que concordamos com elementos essenciais sobre o rumo que devemos tomar”, disse.

No comunicado conjunto, Washington e Pequim incluem entre as medidas a tomar a curto prazo o fortalecimento dos “investimentos e financiamentos internacionais”, para apoiar a transição à energia verde nos países em desenvolvimento. Também preveem a eliminação gradual da produção e o consumo de hidrofluorcarbonetos, gases utilizados principalmente em refrigeração, ares-condicionados e aerossóis.

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