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Rússia expulsa 10 diplomatas dos EUA e sugere que embaixador volte para Washington, em resposta às sanções

Moscou não descarta a possibilidade de tomar medidas “dolorosas” contra empresas norte-americanas, mas não fecha a porta a um encontro entre Putin e Biden

María R. Sahuquillo
O presidente russo, Vladimir Putin, em uma teleconferência em Moscou, na sexta-feira passada. /
O presidente russo, Vladimir Putin, em uma teleconferência em Moscou, na sexta-feira passada. /Alexei Druzhinin (AP)

A Rússia respondeu nesta sexta-feira às sanções da Administração Joe Biden por ciberataques e interferência nas eleições dos EUA. O Ministério das Relações Exteriores russo anunciou nesta sexta-feira a expulsão de 10 diplomatas dos EUA e impôs sanções a oito funcionários, em uma medida que espelha a aplicada pelos Estados Unidos, de acordo com o chanceler Sergey Lavrov. Além disso, “recomendou” ao embaixador dos EUA que retorne a Washington para “consultas”, fórmula que não está incluída na Convenção de Viena —os países chamam seu próprio embaixador para consultas em sinal de protesto— e que na prática significa uma expulsão disfarçada. Moscou, no entanto, evita responder às sanções contra sua dívida soberana —a Casa Branca proibiu as instituições financeiras dos EUA de comprar e negociar a nova dívida estatal russa e títulos emitidos pelo Banco Central da Rússia —, embora tenha observado que não descarta a possibilidade de empreender mais medidas “dolorosas” contra empresas norte-americanas.

O Governo russo manterá outras medidas “de reserva”, disse Lavrov em entrevista coletiva, na qual destacou que a Rússia não quer um aumento da tensão em suas já abaladas relações com Washington. As sanções dos EUA, observou Lavrov, são “uma ação totalmente hostil e não provocada”. O ministro ameaçou expulsar outros 150 diplomatas “se a troca de cumprimentos continuar”, afirmou, com ironia.

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Nessas sanções de Biden contra a Rússia, que ele acusa de ingerência nas eleições do ano passado e de ciberataques nos órgãos centrais de sua Administração, os EUA expulsaram 10 diplomatas russos, impuseram medidas contra 32 pessoas e entidades e sancionaram seis empresas russas, acusadas de colaborar com o hackeamento. O Kremlin nega envolvimento nos ataques. Além disso, proibiu suas instituições financeiras de adquirirem novas dívidas do Governo russo no mercado primário (o que, no entanto, deixa a porta aberta para que o façam em mercados secundários). Uma medida que a Rússia não tomará no momento “por razões óbvias”, disse Lavrov. “Não temos endividamento comparável ao dos Estados Unidos”, afirmou o ministro.

A resposta russa é sobretudo diplomática. No mês passado, Moscou chamou para consultas seu embaixador em Washington, Anatoly Antonov, depois que Biden declarou em uma entrevista que considera Putin “um assassino”, e ele ainda não voltou a seu posto. Agora, a Rússia sugere que os Estados Unidos façam o mesmo, disse a Chancelaria russa. O embaixador John Sullivan, nomeado pelo republicano Donald Trump, foi confirmado no cargo por Biden. “É óbvio que a situação atual, extremamente tensa, resultou na necessidade objetiva de que os embaixadores de nossos países estejam em suas capitais para analisar a situação e realizar consultas”, afirmou o Ministério de Relações Exteriores em uma nota.

Na lista de oito autoridades norte-americanas sancionadas, a Rússia incluiu o procurador-geral Merrick Garland, o diretor do FBI, Christopher Ray, e a diretora da Inteligência Nacional, Avril Hayes. Moscou proibirá russos e cidadãos não norte-americanos em geral de trabalhar em missões e legações diplomáticas dos EUA no país. Além disso, encerrará o programa que oferece vistos expresso a funcionários do Departamento de Estado dos EUA e diplomatas e também restringirá suas viagens e movimentos dentro da Rússia. Moscou também alertou que fechará organizações e fundos financiados pelo Governo dos Estados Unidos —que, como outras entidades estrangeiras, já tinham muita dificuldade de operar no país por causa de leis, controles e restrições cada vez maiores— e os acusou de intromissão na política interna russa.

O Governo russo põe na mesa medidas para responder às sanções de Biden —muito simbólicas, mas não cruciais e consideradas um primeiro alerta sério—, mas não fecha a porta à proposta do presidente dos EUA de realizar uma cúpula em um país europeu. A Rússia, disse o Kremlin, tem “reações positivas” ao convite. O chanceler Lavrov insistiu em que a Rússia quer evitar uma “maior escalada” com os EUA, mas também que não hesitará em ampliar as restrições: “Nenhuma onda de sanções ficará impune”.

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