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Kremlin justifica a privação do sono de Navalny como parte da “disciplina” na prisão

O porta-voz de Putin afirma que despertar o adversário a cada hora para verificar se não fugiu é uma medida de segurança normal e que os presídios estrangeiros adotam ações “mais brutais”

Vladimir Putin durante uma reunião no Kremlin em Moscou, na última quarta-feira.
Vladimir Putin durante uma reunião no Kremlin em Moscou, na última quarta-feira.Alexei Druzhinin (AP)
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Russian opposition leader Alexei Navalny and his wife Yulia are seen at the passport control point at Moscow's Sheremetyevo airport on January 17, 2021. - Russian police detained Kremlin critic Alexei Navalny at a Moscow airport shortly after he landed on a flight from Berlin, an AFP journalist at the scene said. (Photo by Kirill KUDRYAVTSEV / AFP)
Opositor russo Alexei Navalny é detido ao aterrissar em Moscou

O Kremlin não vê tortura no tratamento dado a Alexei Navalny na prisão. O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, destacou nesta sexta-feira que as medidas tomadas contra o proeminente oposicionista na colônia penal onde está detido, após ter sido condenado a mais de três anos de prisão, são regulamentares e que as prisões estrangeiras adotam ações “mais brutais”. Navalny, que sobreviveu a um grave envenenamento em agosto passado na Sibéria, do qual acusa como mandatário o líder russo, Vladimir Putin, denunciou que sua saúde na prisão se deteriorou de forma alarmante porque as autoridades penitenciárias não lhe fornecem atendimento médico adequado e acusou os guardas de torturá-lo, privando-o de sono.

As autoridades declararam Navalny “em risco de fuga”, apesar de o oposicionista ter regressado da Alemanha — onde recebeu tratamento hospitalar pelo atentado que sofreu com uma neurotoxina de origem militar— ciente de que certamente seria detido ao chegar a Moscou, onde foi acusado de violar a liberdade condicional de uma antiga sentença, justamente por estar fora do país. A cada hora durante a noite, um guarda acorda o ativista anticorrupção para verificar se não fugiu. Algo que o porta-voz do Kremlin considerou normal: “É provável que seja parte do sistema de manutenção da disciplina e da ordem nas instalações”, disse Peskov a repórteres. “Essas várias manifestações de disciplina nas prisões de outros países do mundo estão frequentemente associadas a atos muito mais brutais e desumanos”, acrescentou o porta-voz de Putin.

Navalny está preso em uma colônia penal, um tipo de presídio em que os detentos têm que trabalhar. Peskov também rejeitou o pedido de libertação feito pela mulher do oposicionista, Yulia Navalnaya, ao presidente russo, a quem ela também pediu que Navalny possa receber a visita de um médico especialista para tratá-lo da forte dor nas costas e dormência total de uma perna.

O líder da oposição, que na quinta-feira denunciou a situação em uma carta que seus advogados entregaram às autoridades penitenciárias, falou sobre sua saúde em um comentário publicado por sua equipe em sua conta no Instagram. Outro exemplo de que mesmo numa colônia penal o Kremlin tem dificuldade para silenciar seu mais feroz crítico, cuja prisão em janeiro passado provocou os maiores protestos na Rússia em uma década. No texto, o ativista de 44 anos fala sobre seus temores de que sua saúde se agrave tanto que sua perna precise ser amputada.

Alexei Navalny, em um tribunal de Moscou, em fevereiro.
Alexei Navalny, em um tribunal de Moscou, em fevereiro. AFP

Navalny afirma que o objetivo de tudo isso é tentar “deliberadamente” fazer sua saúde piorar para retirá-lo definitivamente de circulação. “Uma vez Mikhail Khodorkovsky, que cumpriu 10 anos de prisão, me disse: ‘O principal é não ficar doente lá dentro. Eles não vão te tratar. Se você fica gravemente doente, morre’”, escreve o político, que cita aquele que foi o homem mais rico da Rússia, condenado por crimes econômicos e que sempre garantiu que sofreu perseguições políticas que ainda hoje, vivendo no exílio em Londres não terminaram.

A União Europeia expressou preocupação com a saúde do líder oposicionista. O porta-voz de Josep Borrell, alto representante da Política Externa da UE, Nabila Massrali, pediu nesta sexta-feira que as autoridades russas lhe forneçam tratamento médico e acesso a seus advogados e exigiu que a Rússia o liberte e investigue o envenenamento que quase custou sua vida e que, segundo Bruxelas, o Kremlin tinha que saber. Moscou, que rejeitou todas as acusações, se recusou a abrir um processo criminal pelo atentado a Navalny.

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