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Justiça da Bolívia prende a ex-presidenta Jeanine Áñez por sedição e terrorismo

Mandado também abrange cinco de seus ex-ministros e a cúpula militar que em 2019 pediu a renúncia de Evo Morales. “A perseguição política começou”, diz ex-mandatária

Jeanine Áñez, quando era presidenta interina da Bolívia, em foto de arquivo.
Jeanine Áñez, quando era presidenta interina da Bolívia, em foto de arquivo.DPA
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16 November 2020, Bolivia, La Paz: Luis Arce Catacora (L), Bolivia's newly elected president, greets officers during the appointment ceremony for a new military command. Photo: ---/ABI/dpa
16/11/2020 ONLY FOR USE IN SPAIN
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BOL01. VILLAZÓN (BOLIVIA), 09/11/2020.- El expresidente de Bolivia Evo Morales (c) saluda a simpatizantes a su llegada hoy a Villazón, población boliviana en la frontera con Argentina. El exmandatario boliviano Evo Morales (2006-2019) cruzó este lunes por la mañana la frontera con Bolivia después de casi un año viviendo en Argentina, en un acto que contó con la presencia del presidente argentino, Alberto Fernández. EFE/ Paolo Aguilar
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A polícia boliviana prendeu na madrugada deste sábado a ex-presidenta interina Jeanine Áñez, acusada de sedição (insurreição ou incitação à revolta) e terrorismo pelos fatos que em novembro de 2019 culminaram na saída antecipada de Evo Morales do poder e sua fuga em novembro de 2019. “Informo ao povo boliviano que a senhora Jeanine Áñez já foi presa e está atualmente nas mãos da polícia”, anunciou o Ministro de Governo, Eduardo del Castillo, nas redes sociais. A prisão ocorre horas depois de a Justiça ter ordenado sua captura.

As ordens também abrangem membros de seu gabinete de ministros e a cúpula das Forças Armadas da época. As prisões foram aceleradas por ordem de um promotor, que acusou formalmente todos os chefes do Exército e da polícia que pediram publicamente a renúncia de Morales. As autoridades suspeitam que parte dos procurados esteja fora do país. “A perseguição política começou. O MAS [Movimento pelo Socialismo, partido no Governo] decidiu voltar aos estilos da ditadura. Uma pena porque a Bolívia não precisa de ditadores, precisa de liberdade e soluções”, escreveu a ex-presidenta Áñez em sua conta no Twitter antes de ser detida.

O dia em que a cúpula militar pressionou pela saída de Morales em uma entrevista coletiva foi registrado em vídeo. Na gravação, o comandante-chefe das Forças Armadas, Williams Kaliman, “sugeria” ao presidente “que renunciasse ao seu mandato, permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade para o bem de nossa Bolívia”. O militar justificou ter tomado tal posição por causa da “escalada do conflito” que o país atravessava diante dos protestos pela suposta fraude nas eleições presidenciais de outubro.

Kaliman agora é procurado por supostos atos de “terrorismo, sedição e conspiração”. Também está sendo procurado o general Sergio Orellana, que, como sucessor de Kaliman, comandava as Forças Armadas quando a senadora da oposição Jeanine Áñez assumiu a presidência interina do país. Orellana terá ainda que responder pela morte de 30 pessoas em protestos contra a presidenta interina que foram duramente reprimidos pelas forças de segurança. Por este último caso, um comandante militar e um comandante da polícia têm prisão domiciliar. Segundo investigações policiais, o ex-comandante Orellana deixou o país no final do ano passado e agora mora na Colômbia.

O ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Flavio Arce, o único que se apresentou voluntariamente às autoridades, foi imediatamente preso. Agora ele espera conseguir a prisão domiciliar, como fizeram os outros altos oficiais militares processados no passado. Outro procurado é o ex-comandante Yuri Calderón, que em novembro de 2019 se declarou em rebeldia contra o Governo Morales. A polícia revistou sem sucesso duas casas para encontrá-lo. Os registros apontam que ele não saiu legalmente do país.

Os mandados de prisão também alcançaram o setor político. Rodrigo Guzmán, ex-ministro de Energia de Jeanine Añez, foi preso, apesar de não constar até agora na lista de réus. Sua família denunciou “sequestro estatal”. O ex-ministro da Justiça Álvaro Coímbra também acabou preso. A detenção dos ex-ministros surpreendeu a opinião pública boliviana, pois o processo até então se concentrava em julgar os momentos anteriores à renúncia de Evo Morales e suas causas.

Um dos aspectos relevantes deste caso é a natureza dos crimes atribuídos aos detidos. Na Bolívia, sedição e terrorismo têm penas de cinco e 20 anos de prisão, respectivamente. O Ministério Público adere, assim, à tese dos governistas, que dizem ter ocorrido em 2019 um “golpe de Estado”. A oposição apresenta outro argumento, segundo o qual os acontecimentos políticos foram tão explosivos que acabaram arrastando as instituições para participarem de um “levante popular” contra a reeleição de Morales.

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Um dos líderes da oposição, Samuel Doria Medina, criticou a justiça por continuar a “perseguir chefes militares”. “O presidente [Luis Arce] comete um erro ao permitir que promotores politizados concorram para usar os direitos humanos para ganhar pontos com o Governo. As relações com as Forças Armadas são uma delicada questão de Estado”, afirmou no Twitter.

De acordo com a ação original, o julgamento deveria incluir também dois civis: a líder dos protestos contra Morales e o governador eleito de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, e seu pai, um conhecido empresário, acusados de terem pago policiais para se unirem ao motim. Um fato grave que precipitou a queda do governo do MAS. Os promotores não os acusaram até agora, embora tenham tentado duas vezes convocar Camacho como testemunha. Em ambas as ocasiões, o político transformou os atos judiciais em que teria que testemunhar em manifestações políticas multitudinárias.

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