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Casa Branca descarta compartilhar vacinas contra a covid-19 com o México e outros países

López Obrador levará a Biden o protesto pela divisão desigual das doses, mas os EUA anunciam que agora a prioridade são os norte-americanos e depois o país estará aberto a falar de outros passos

Trabalhadora empacota uma caixa da vacina Johnson & Johnson COVID-19 em uma caixa térmica para enviá-la aos centros de vacinação, na segunda-feira no Kentucky, Estados Unidos.
Trabalhadora empacota uma caixa da vacina Johnson & Johnson COVID-19 em uma caixa térmica para enviá-la aos centros de vacinação, na segunda-feira no Kentucky, Estados Unidos.Timothy D. Easley (AP)
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A relação entre os Estados Unidos e o México não é somente um assunto de diplomacia bilateral, e sim algo que afeta todo o continente americano. Joe Biden e López Obrador realizaram na segunda-feira sua primeira reunião com uma agenda que aborda questões urgentes como a divisão das vacinas da covid-19 e desafios que sempre determinaram parte dos equilíbrios da região, da imigração à segurança e a cooperação comercial. O presidente norte-americano manifestou seu desejo de começar “uma nova fase de cooperação e progresso” e seu homólogo mexicano pediu a manutenção do diálogo e uma relação de amizade.

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O Governo de López Obrador assumiu há semanas o protesto contra uma distribuição desigual das vacinas. Essa é hoje sua principal bandeira de política externa. Washington, entretanto, descartou antes do começo da reunião que os Estados unidos considerem, pelo menos nesta fase, compartilhar as doses com seu vizinho e outros países.

A luta contra a propagação do coronavírus é provavelmente a questão mais urgente nos dois países que dividem mais de 3.200 quilômetros de fronteira. “É de interesse à segurança nacional das duas nações trabalhar em estreita colaboração para combater a pandemia da covid-19”, diz um comunicado da Casa Branca divulgado na manhã de segunda-feira. “Para nós é importante, principalmente, a questão da vacina”, enfatizou López Obrador em sua coletiva de imprensa matutina. A porta-voz Jen Psaki deixou claro, entretanto, que a prioridade de Biden é que primeiro as vacinas sejam acessíveis aos norte-americanos. “Uma vez cumprido esse objetivo, falaremos com prazer de outros passos”, disse.

O presidente norte-americano e seu homólogo mexicano, contudo, se dispõem a inaugurar uma nova etapa após anos marcados pelo pragmatismo sob o mandato de Donald Trump. Os dois líderes, como disse no domingo em teleconferência com jornalistas um funcionário de alto escalão da Administração Biden, também pretendem falar sobre cooperação em matéria de imigração e sobre os esforços conjuntos para promover o desenvolvimento no sul do México e no triângulo norte da América Central. Após criticar duramente o país vizinho durante sua campanha e prometer que faria os mexicanos pagarem pela construção do muro que prometeu levantar na fronteira, Donald Trump acabou encontrando em López Obrador, que assumiu o cargo em dezembro de 2018, um decisivo e inesperado aliado em sua cruzada contra a imigração. Uma série de políticas de pulso firme, com o levantamento de um muro na fronteira como principal ação, que o presidente Biden vem desmontando desde que chegou à Casa Branca em 20 de janeiro. Biden quer fazer uma regularização maciça de imigrantes sem documentos, e pretende priorizar a atuação sobre as causas profundas, econômicas e de segurança, que fazem com que as pessoas imigrem.

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López Obrador proporá a seu homólogo um pacto para regularizar trabalhadores temporários nos Estados Unidos. É um acordo que pretende beneficiar entre 600.000 e 800.000 imigrantes mexicanos e centro-americanos nos próximos anos. “Os Estados Unidos e o México compartilham uma visão que reconhece a dignidade dos imigrantes, assim como uma imigração ordenada, segura e regular, e um compromisso compartilhado de abordar as causas fundamentais da imigração irregular”, acrescenta a Casa Branca.

Nessa mudança da política migratória, a cooperação de López Obrador seria ótima para Biden. Mas, ao contrário de outros líderes mundiais desejosos de voltar à relação habitual, o mexicano não escondeu sua sintonia com Trump (que também o elogiou durante seu mandato) e também foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizar Biden por sua vitória. Durante a entrevista telefônica com jornalistas, o funcionário de alto escalão da Administração Biden destacou no domingo os vínculos do presidente com o México, país que já visitou quatro vezes como vice-presidente e onde teve a oportunidade de conhecer López Obrador quando este era candidato em 2012.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, com seu homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, com seu homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden.ALFREDO ESTRELLA SAUL LOEB (AFP)

“O presidente Biden respeita nossa soberania. Trump respeitou e Biden também. Conversamos há dois meses, a primeira vez que nos falamos por telefone, já havíamos nos encontrado, mas oito anos atrás... E fiquei muito satisfeito porque mencionou que eles não enxergam o México como o quintal dos Estados Unidos. Eu o agradeci por ter essa concepção, porque o México é um país livre, independente e soberano”, afirmou López Obrador. Com essas premissas, o mandatário tenta manter uma relação mais ligada aos princípios que, pelo menos no papel, caracterizam seu projeto político.

Atritos em economia e segurança

As relações comerciais e econômica e as políticas de segurança também estão sobre a mesa do encontro, realizado no momento em que o Senado mexicano está prestes a aprovar uma polêmica reforma energética que na prática significa um freio à iniciativa privada e favorável a uma empresa estatal, a Comissão Federal de Eletricidade (CFE). Esta medida, criticada pela Câmera de Comércio dos Estados Unidos, também propõe não cumprir, segundo vários especialistas, o T-MEC, o tratado de livre comércio entre os dois países e o Canadá que entrou em vigor há menos de um ano. López Obrador, entretanto, quis deixar claro que a conversa com Biden não mudará seus planos, apesar do impacto econômico da reforma.

“O presidente dos Estados Unidos respeita a soberania”, frisou o presidente mexicano. A reivindicação de soberania provavelmente é o seu propósito na reunião, o que também ficou refletido nas questões de segurança. No final do ano passado, após a prisão na Califórnia do ex-secretário de Defesa Salvador Cienfuegos, em plena transição de poder nos EUA, o México adotou uma medida que endurecia a regularização dos agentes estrangeiros em seu território, um desafio à DEA que irritou Washington. Biden não previa pedir ações específicas ao México nesse assunto, segundo o funcionário de alto escalão de sua Administração, que disse que “Biden tem uma perspectiva holística sobre a luta contra o tráfico de drogas”.

O caso Cienfuegos, entretanto, mostrou que López Obrador dificilmente admitirá interferências. O general Cienfuegos, acusado de narcotráfico, foi extraditado dos Estados Unidos após uma intensa gestão diplomática, ainda que por fim tenha sido exonerado pela Promotoria. O episódio aumentou a temperatura entre os dois países, que de qualquer modo agora precisarão fixar uma estratégia conjunta de luta contra o narcotráfico.

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