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EUA manobram para reduzir dependência da China em setores-chave da economia

Biden assina decreto com medidas para garantir o fornecimento nas áreas de defesa, saúde pública, biotecnologia e energia

Estados Unidos
O presidente dos EUA, Joe Biden, nesta segunda-feira em Washington.ALEX WONG (AFP)
María Antonia Sánchez-Vallejo
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Lila Blanks reacts next to the casket of her husband, Gregory Blanks, 50, who died from complications from the coronavirus disease (COVID-19), ahead of his funeral in San Felipe, Texas, U.S., January 26, 2021. Blanks ran a heating and air conditioning business in the Houston area. He was a huge fan of the Dallas Cowboys football team. In keeping with current restrictions to prevent infections, only a limited number of family and friends were able to attend the burial at San Felipe Community Cemetery. Clad in a face mask sporting the logo of her husband's company, Blanks' wife Lila solemnly watched as some of Pryor's workers lowered the casket into the ground. "We need to all do what we need to do to get over it," she said. "So it'll be over and we don't keep burying our husbands, our children, our mothers, our fathers." REUTERS/Callaghan O'Hare     SEARCH "FUNERALS O'HARE" FOR THIS STORY. SEARCH "WIDER IMAGE" FOR ALL STORIES
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Os Estados Unidos levantam a bandeira da autonomia estratégica para reduzir a dependência da China e de outros concorrentes fortalecendo as cadeias de fornecimento de bens essenciais ou críticos, de equipamento sanitário a microchips ou minerais. A pandemia deixou clara a dependência do Ocidente em relação à produção chinesa e o presidente Joe Biden, em seu ímpeto de estimular a indústria local, assinou uma ordem executiva na quarta-feira para garantir que, em caso de novas crises, o país seja capaz de responder às necessidades. A interrupção da produção em várias fábricas de automóveis por falta de componentes demonstra a urgência da medida.

O velho protecionismo, revestido do caso de Donald Trump por um inflamado nacionalpopulismo econômico, levou Biden a usar como mantra durante a campanha eleitoral o lema Made in America (feito nos EUA), em apoio à indústria local. Também promove seu último decreto, que prevê a avaliação em 100 dias das cadeias de fornecimento de semicondutores, princípios ativos de medicamentos, baterias de veículos elétricos —outra aposta da Administração democrata, que com eles renovará parte da frota oficial— e minerais extraídos de terras raras que são usados na fabricação de automóveis ou armas, e nos quais a dependência da China é enorme. Estes são os quatro objetivos urgentes.

Mas a reafirmação dos EUA de Biden contra a China vai além do meramente econômico. William Burns, o veterano diplomata nomeado como novo diretor da CIA, afirmou na quarta-feira durante a audiência de confirmação no Senado que o sucesso em deter o gigante asiático será fundamental para a segurança estratégica dos EUA. A guerra comercial desatada por Trump contra Pequim, e vice-versa, está longe de acabar, os dois países apenas embainharam as espadas, e o regime chinês propôs um novo tipo de relação bilateral unicamente se Washington suspender as sanções comerciais e parar de interferir em assuntos internos, como a repressão à minoria uigur ou aos protestos contra o Governo em Hong Kong.

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A ordem executiva também contempla a revisão anual da cadeia produtiva e de fornecimento em seis setores: defesa, saúde pública e biotecnologia, tecnologias de telecomunicações, energia, transporte e produção de alimentos e fornecimento de matérias-primas agrícolas. Seis áreas que representam o núcleo da segurança estratégica a que Burns aludiu no Senado; para evitar não apenas um fato “inaceitável” —o termo utilizado pela Casa Branca— como a falta de equipamentos de proteção individual e máscaras para o pessoal sanitário no início da pandemia, mas também “a recente escassez de chips semicondutores [para a indústria automobilística], que desacelerou o ritmo de produção das fábricas, uma diminuição que pode acabar afetando os trabalhadores”, segundo a Casa Branca.

Várias fábricas, incluindo as operadas pela Ford e General Motors, foram obrigadas recentemente a interromper a produção por falta de componentes, com uma redução de 20% no volume de trabalho neste trimestre na primeira e a suspensão temporária nas fábricas dos EUA, Canadá e México na segunda. Um grupo de fabricantes de semicondutores solicitou a Biden no início deste mês incentivos para aumentar a produção, no contexto de seus planos de recuperação econômica. As empresas norte-americanas do setor vendem 47% dos chips no mundo, mas representam apenas 12% da produção global, em função da deslocalização em vigor desde os anos noventa.

Depois de se reunir na Casa Branca com um grupo de parlamentares de ambos os partidos, o presidente se manifestou a favor da promoção de uma legislação específica que incentive a produção e o fornecimento adequado desses componentes, no âmbito da Lei de Autorização da Defesa Nacional, uma lei federal que especifica o orçamento, os gastos e as políticas do Departamento de Defesa, onde se inscrevem os setores estratégicos que a Administração Biden deseja reforçar.

A intenção do decreto-lei é ambiciosa: a resposta reativa acabou, esta é a mensagem; a aposta, a mil por cento, é antecipar as crises e remediar a vulnerabilidade que ficou clara com o vendaval do coronavírus. Mas também supõe um recuo nas deslocalizações, como as que retiraram 70% da produção de princípios ativos medicamentosos do país nas últimas décadas, cálculo em que a Casa Branca se baseia para considerar prioritário esse mercado. Não existe uma fórmula mágica que resolva as deficiências no curto prazo, mas, de acordo com um alto funcionário da Casa Branca citado pela agência Reuters, “não se trata apenas de solicitar relatórios, mas de fechar os buracos à medida que os identificarmos”.

Para cortar as amarras com a China e outros competidores econômicos, os EUA buscarão desenvolver localmente parte dessa produção agora deficitária e se associar a outros países da Ásia e da América Latina quando não puderem fazê-lo em casa, acrescentou a fonte. A revisão dos setores estratégicos também pretende reduzir o número de importações ao estritamente necessário.

A ordem executiva de Biden se junta à assinada em janeiro para aproveitar o poder aquisitivo do Governo dos Estados Unidos, o maior comprador de bens e serviços no país, para incentivar a produção local e criar mercados para novas tecnologias através da obrigatoriedade de recorrer a empresas nacionais para os contratos.

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