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Candidato de Rafael Correa vai para o segundo turno das eleições no Equador. Adversário segue indefinido

Andrés Arauz sai na frente no pleito presidencial que terá seu desfecho em abril e no qual a ascensão do movimento indígena surpreendeu

Apoiadores do candidato Andrés Arauz festejam os resultados em Quito, na madrugada desta segunda-feira.
Apoiadores do candidato Andrés Arauz festejam os resultados em Quito, na madrugada desta segunda-feira.SANTIAGO ARCOS (Reuters)
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Ecuadorean presidential candidate Andres Arauz addresses supporters during his closing campaign rally ahead of the February 7 presidential vote, in Quito, Ecuador February 4, 2021.  REUTERS/Johanna Alarcon NO RESALES. NO ARCHIVES
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A apuração das eleições presidenciais no Equador deixa somente duas certezas: que Andrés Arauz, o candidato da esquerda, apadrinhado pelo ex-presidente Rafael Correa, irá ao segundo turno para ver se consolida a vantagem nas urnas e que a disputa pelo segundo lugar está tão apertada que só será conhecida quando for concluída a contagem de 100% dos votos. A decisão dos equatorianos, expressa na votação deste domingo, também mostrou um surpreendente salto no apoio ao movimento indígena, que partia nas pesquisas como uma terceira opção sem grandes chances de chegar ao segundo turno.

Uma nova figura chegou ao primeiro escalão da política no Equador. Yaku Pérez, progressista e ambientalista, se aproxima de um confronto direto com Arauz. Com quase 98% das seções eleitorais apuradas, o candidato do Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik está às portas do desempate de 11 de abril, o que deixaria o conservador Guillermo Lasso, do CREO, fora da corrida presidencial naquela que é sua terceira tentativa. Faltando pouco para a finalização da contagem de votos, Arauz conseguiu convencer 32,20% dos eleitores equatorianos; Yaku Pérez, 19,80%; e Guillermo Lasso, 19,60%. Outra surpresa da noite, que reforça a percepção de que a esquerda continua sendo a opção preferida do país andino, é a aparição em quarto lugar de Xavier Hervas, da Esquerda Democrática, com inesperados 16,02% dos votos. As pesquisas não lhe davam mais de 5%, após uma intensa campanha nas redes sociais apelando à renovação da classe política.

A fragmentação do voto —os eleitores podiam escolher entre 16 candidatos— e o mapa resultante do primeiro turno deixam várias lições. Em primeiro lugar, o correísmo mantém seu ímpeto após quatro anos de Governo de Lenín Moreno. O presidente que está deixando o cargo ganhou as eleições de 2017 como candidato de Correa, mas ao assumir o poder se distanciou de seu mentor até romper com ele e dar origem a uma disputa acirrada que marcou o último mandato. Em segundo lugar, a oposição ao correísmo se manifestou por diferentes canais. A opção da direita tradicional representada por Lasso se mostrou insuficiente. As alternativas buscadas pelos cidadãos foram, de alguma forma, novos perfis que englobem valores como o ambientalismo e a regeneração da democracia, defendidos, respectivamente, por Pérez e Hervas.

Mais de 13 milhões de equatorianos estavam aptos a ir às urnas para decidir o sucessor de Moreno. A campanha eleitoral, no entanto, inicialmente teve uma linha mais vinculada ao passado do que ao futuro. A votação implicava uma decisão de fundo sobre o capítulo da história do país aberto pelo ex-presidente Correa. De acordo com as sondagens pré-eleitorais, a batalha para chegar ao Palácio de Carondelet limitava-se na prática a duas tendências antagônicas: o regresso do correísmo e a opção de mudança para um modelo neoliberal. Mas, entre os três movimentos de esquerda, incluindo o movimento indígena com a candidatura ambientalista de Yaku Pérez, essa corrente ideológica beira os 70% do apoio dos eleitores.

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“Meus parabéns ao povo equatoriano que, por mais de 65%, o equivalente a dois terços, disse não ao modelo totalitário e populista que pretende voltar”, declarou Guillermo Lasso em uma entrevista coletiva tardia, após rápida contagem do Conselho Nacional Eleitoral que apontou os primeiros números que o deixavam fora do segundo turno. “Digo-lhes com absoluta transparência: nós respeitamos a lei e os resultados serão reconhecidos quando 100% das urnas tiverem sido apuradas”, exclamou com raiva. Andrés Arauz havia aparecido uma hora antes, sorridente e relaxado, ao saber com certeza que estava em primeiro lugar. “Estou pronto para trabalhar pelo país depois da vitória contundente”, disse quando somente tinham sido divulgadas pesquisas de boca de urna. “A margem será muito maior. Nossa vantagem é praticamente de 2 a 1 em relação ao candidato banqueiro”, previa.

Com o avanço da apuração, sua vitória se consolidou, mas não o suficiente para vencer no primeiro turno. Yaku Pérez, desconfiado dos décimos que o colocavam à frente de Lasso, anunciou na noite de domingo uma jornada de vigília. “Esta noite, se necessário, dormiremos nos arredores do CNE para garantir que a decisão dos equatorianos seja respeitada. O povo nos deu seu respaldo e isso ficou mais que demonstrado nos resultados oficiais. Venceu a candidatura do ambientalismo, da defesa da água”, proclamou. O movimento indígena já mostrava sua projeção no Equador no final de 2019, quando uma onda de protestos motivados pela liberalização dos preços da gasolina pôs em xeque o Governo de Lenín Moreno. Aconteça o que acontecer, o resultado de Pérez reflete uma nova ascensão desse movimento.

De qualquer forma, o capital político que o ex-presidente ainda conserva colocou Arauz no segundo turno. Mas se a aliança União pela Esperança, as novas siglas que o correísmo agrupa, não receber em abril o apoio da maioria dos eleitores, seu líder terá de esperar outros quatro anos para tentar reverter esses dois aspectos fundamentais. Nem poderá entrar em território equatoriano sem correr o risco de ser preso nem poderá “recuperar a pátria” —como a candidatura de Arauz se proclama— da “traição” de Lenín Moreno.

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