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UE decide isolar regiões críticas da covid-19 e recomenda preparar hospitais para nova escalada

Autoridade sanitária alerta para o risco trazido pelas novas variantes do coronavírus, entre elas a brasileira, que podem sobrecarregar o sistema de saúde

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na videoconferência desta quinta-feira sobre a covid-19, em Bruxelas.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na videoconferência desta quinta-feira sobre a covid-19, em Bruxelas.Olivier Hoslet (AP)
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Alerta geral. A reunião da União Europeia realizada nesta quinta-feira marcou o início de um endurecimento das restrições à circulação de pessoas dentro do bloco, como forma de tentar frear a propagação das novas variantes do coronavírus. A decisão chegou horas depois de o Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) elevar o nível de alerta contra as novas formas do vírus e recomendar restringir ao máximo a mobilidade, evitar viagens “não essenciais” e pedir aos países que preparem seus sistemas sanitários para uma previsível escalada de casos.

Assim que a cúpula acabou, países como França e Bélgica anunciaram novas medidas para impedir a entrada de viajantes procedentes de zonas de risco máximo. O objetivo do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, ao convocar essa reunião virtual dos chefes de Governo da União Europeia, que terminou por volta de 23h (hora local), era coordenar uma resposta comum à propagação dessas novas variantes e evitar uma situação caótica como a vivida durante a primeira onda.

As capitais europeias se comprometeram a criar uma nova categoria de zonas epidemiológicas especialmente afetadas (marcadas em vermelho-escuro no semáforo do ECDC), onde será possível restringir os deslocamentos não essenciais. A decisão final recairá sobre os Estados-membros, mas caberá à Comissão Europeia elaborar nos próximos dias a arquitetura para poder limitar os movimentos. Isso não afetará necessariamente as fronteiras entre os países, pois poderão ser isoladas zonas com situação epidemiológica semelhante, mesmo que envolvam dois ou mais países, e dentro delas será respeitada a livre circulação de trabalhadores essenciais e o acesso de mercadorias básicas.

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Tanto Michel, na qualidade de presidente do conselho (que reúne os 27 chefes de Estado da UE), quanto a presidenta da Comissão Europeia (poder executivo do bloco), Ursula von der Leyen, expressaram a importância de que as restrições possam “ser reforçadas” com “medidas pontuais” em caso de necessidade perante uma situação que qualificaram como “preocupante” pelo temido avanço das mutações.

Em seu relatório de riscos o ECDC considera “altíssima” a probabilidade de “introdução e de propagação comunitária” das novas variantes britânica, sul-africana e brasileira de coronavírus na UE, “devido à sua maior transmissibilidade”. E alerta para a possibilidade de que cresça o número de infecções, o que poderia sobrecarregar os sistemas de saúde, como já ocorre no Reino Unido.

“Estamos vendo como a situação epidemiológica se deteriora nas áreas onde se encontram as variantes mais transmissíveis do vírus”, advertiu nesta quinta-feira Andrea Ammon, diretora do ECDC. “O aumento do número de infecções provocará um aumento das taxas de hospitalização e mortalidade em todas as faixas etárias, especialmente nos mais idosos ou com comorbidades”.

O aviso do organismo chega num momento de impasse, em que a transmissão é “generalizada”, mas com a maioria dos países “registrando taxas de casos estáveis ou em queda”. Os números absolutos de infecções são elevados e crescem especialmente nos grupos mais idosos, as taxas de mortalidade vêm igualmente aumentando, e também as internações em hospitais e UTIs em um terço dos países, segundo os últimos dados do ECDC, até 17 de janeiro.

Já na semana passada o ECDC alertava que em 13 países as taxas de infecção cresciam mais que o dobro em comparação aos sete dias anteriores. E avisava que subiriam ainda mais nas semanas seguintes.

O relatório sobre as novas variantes reflete essa preocupação, recomenda evitar viagens não essenciais e que países preparem “seus sistemas de saúde para uma nova escalada”, aumentem sua capacidade de sequenciamento de novas mutações e acelerem a vacinação de pessoas vulneráveis e profissionais estratégicos, questões que também os líderes apoiaram na cúpula.

Fechamentos ‘cirúrgicos’

Hans Kluge, diretor da Organização Mundial da Saúde para a Europa, considera acertada uma intervenção cirúrgica nas fronteiras, em lugar de um veto taxativo aos deslocamentos. “O fechamento de fronteiras para frear as novas variantes só faz sentido logo que a variante é identificada e quando sua transmissão é local”, observou.

A reunião virtual desta quinta, a primeira cúpula de 2021 sobre a pandemia, tornou-se um fórum para debater uma leva adicional de medidas que busquem conter a escalada antes que seja tarde demais. Entre elas, os Estados-membros decidiram aceitar a recomendação de reforçar o uso dos testes rápidos de antígenos e o reconhecimento mútuo dos resultados dos exames PCR em todos os países-membros. E os 27 chefes de Governo mostraram-se unânimes quanto à necessidade de acelerar os programas de vacinação. O presidente do Governo (primeiro-ministro) espanhol, Pedro Sánchez, que defendeu manter as fronteiras abertas, apoiou a criação de um certificado de vacinação para os imunizados.

CERTIFICADOS DE VACINAÇÃO E CAMPANHAS MAIS ÁGEIS

Um dos pontos-chaves na pauta dos líderes europeus nesta quinta era a evolução das campanhas de vacinação. Desde que a primeira vacina foi injetada na União Europeia, em 27 de dezembro, mais de 13 milhões de doses foram enviadas aos Estados-membros, e mais de cinco milhões delas foram administradas —embora com notáveis diferenças entre os países—, segundo um comunicado da comissão publicado nesta semana. Mas o Executivo comunitário chegou ao encontro com uma proposta concreta: imunizar 80% dos maiores de 80 anos e 80% dos profissionais de saúde antes de abril, e 70% da população geral até o verão europeu, que termina em setembro.

“A comissão só quis fixar um objetivo ambicioso. Tentaremos cumpri-lo, todos juntos. Mas, ao final, são os ministérios de Saúde de cada Estado membro que precisam determinar seu próprio rumo”, disse uma fonte diplomática antes da reunião. Kluge, da OMS, acha que a prioridade deve ser “manter uma progressão homogênea pan-europeia na cobertura das vacinas, com igual acesso em todos os países”. Esse foi o objetivo da Comissão desde que lançou as compras conjuntas, para evitar que nenhum sócio ficasse para trás. “Que os 27 permaneçam unidos nas vacinas foi a melhor escolha”, comentou na quarta-feira Ursula von der Leyen, presidenta da comissão, que se gabou de ter assegurado a “maior carteira de vacinas do mundo”.

Outro ponto era a uniformização dos certificados de vacinação, uma discussão que vem ganhando terreno em Bruxelas empurrada pelos países que já olham para a temporada de turismo do verão, mas cuja negociação ainda se encontra em fase embrionária. “A intenção é começar a trabalhar nisso”, disse uma fonte da UE. Esse debate, porém, ainda é prematuro, pois é ínfimo o percentual de população já vacinada, e ainda sobram incógnitas: “Não sabemos se a vacinação implica que você não é mais portador do vírus”, exemplificou essa fonte.

Nessa mesma linha, Kluge considera “muito prematura” a possibilidade de instituir uma espécie de passaporte para as pessoas vacinadas, mas considera que, com o tempo, “veremos que esses certificados se tornarão parte da documentação imprescindível para viajar, como o RG ou o passaporte”.

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