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Conte vence votação no Senado italiano, mas só poderá governar em minoria

Primeiro-ministro não consegue maioria absoluta e agora precisa da aprovação do presidente da República em relação à viabilidade de um Executivo tão frágil

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, durante seu discurso nesta terça-feira no Senado.
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, durante seu discurso nesta terça-feira no Senado.Andreas Solaro (AP)
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O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, teve que se contentar em sobreviver à crise aberta nas últimas semanas. Os números do Senado só lhe permitiram obter uma maioria simples para substituir os 18 parlamentares do Itália Viva, partido de Matteo Renzi, que finalmente se absteve. Depois de dias convencido de que poderia fazê-lo com folga, só conseguiu uma prorrogação com uma votação muito apertada (156 votos a favor e 140 contra) que não promete um grande futuro para a coalizão. Agora Conte precisa da aprovação do presidente da República, Sergio Mattarella, e deve avaliar a possibilidade de renunciar. Mas tudo indica que seguirá adiante, pelo menos durante mais alguns dias para aprovar as medidas pendentes e tentar reunir mais parlamentares.

Matteo Renzi sacou o revólver depois das 17h30 (13h30 em Brasília) de terça-feira e desafiou o primeiro-ministro. “O senhor decidiu se agarrar ao poder. Quer jogar a carta do ataque chamando-nos de irresponsáveis. Senhor Conte, vamos ver se chega a 161 senadores”. Sabia que não conseguiria e, se quisesse, poderia derrubar o Executivo. A aposta, no entanto, acabou sendo menor. Porque Renzi ordenou ao mesmo tempo que seu partido se abstivesse em uma votação caótica em que o Forza Itália expulsou ao vivo seus parlamentares traidores e na qual, no cúmulo do surrealismo, foi necessário repetir a contagem para verificar a validade de um dos votos. A estratégia de Renzi permite legalmente que Conte siga em frente sem renunciar, mas deixa que o Executivo se desgaste sozinho nos próximos dias.

A Itália, porém, que governa há anos acendendo uma vela ao sismógrafo de crises, é o lugar menos indicado para um Executivo em minoria: já aconteceu 13 vezes nos 67 Governos que existiram desde a II Guerra Mundial. Desta vez servirá, no mínimo, para aprovar algumas medidas importantes nos próximos dias e ganhar tempo. Depois será necessário pensar em uma solução mais sólida. A oposição, liderada por Matteo Salvini (Liga) e Giorgia Meloni (Irmãos da Itália), anunciou assim que a votação terminou que quer se reunir com o presidente da República.

Conte tentou desesperadamente nas últimas horas formar um grupo de trânsfugas no Senado aos que chamou de “construtores”. Era um pedido expresso do presidente da República. “Um marketing indigno”, criticou Renzi em seu discurso. A maioria absoluta no Senado é de 161 votos e Conte podia contar seguramente com apenas 139 votos: 91 do Movimento Cinco Estrelas (um senador não votou por motivo de doença), 35 do PD, seis do esquerdista Livres e Iguais e sete das Autonomias. O resto precisava ser conquistado.

A ideia era que se convencessem da necessidade de manter o Governo em pé e oferecer-lhes um pacto de legislatura. Dessa forma poderia substituir o partido Itália Viva na coalizão de Governo sem ter que renunciar. Mas a sedução dos parlamentares não chegou a bom porto. Agora Conte precisa ter a aprovação do presidente da República em relação à viabilidade de uma operação altamente instável.

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Conte compareceu ao Senado pela manhã para tentar convencer os parlamentares com dúvidas que lhes dessem seu apoio. O discurso que fez, calcado no do dia anterior, apenas revelou a finalidade destas duas jornadas de solene encenação parlamentar: materializar o trabalho nos corredores para conseguir apoios. Mas logo se viu que Conte intuiu que deveria reduzir suas expectativas. “Os números são importantes, mas a qualidade do projeto é mais importante”, disse, antecipando um possível fracasso em alcançá-los.

Os senadores que mudaram de posição o fizeram por várias razões. A intenção de apoiar Conte foi anunciada pelo ex-primeiro-ministro Mario Monti e pela senadora vitalícia e sobrevivente do Holocausto Liliana Segre. Por responsabilidade, disseram. Outros o fariam também por interesses pessoais. Estão em jogo cargos, maior presença, manter uma cadeira para evitar eleições... A maioria já tinha tomado a decisão antes que o primeiro-ministro empunhasse a pilha de papéis com que repetiu o discurso do dia anterior, quase ponto por ponto. Alguns, como Emma Bonino, líder do +Europa, decidiram votar contra o Executivo apesar de terem sido sondados.

Ganhar tempo

Os números para a maioria absoluta não batiam. Isso já estava muito claro durante a manhã. Mas Conte voltou a fechar a porta para a reconciliação com Renzi com as mesmas palavras da segunda-feira. “É preciso virar a página.” Sabia que, no mínimo, ganharia tempo.

A realidade é que quase ninguém quer as eleições. Nem o Executivo nem o Palácio do Quirinal [residência oficial do presidente da República]. Tampouco todos os que fazem parte dos partidos que a priori poderiam ganhá-las. Muitos parlamentares, principalmente depois da redução do número de cadeiras imposta em ambas as Câmaras por este Executivo, poderiam não se reeleger. Mas Conte, como novidade em relação ao dia anterior, acrescentou o argumento do mal-estar social que pode se transformar em irritação se os acordos não forem alcançados. “Precisamos de forças voluntariosas. Precisamos de pessoas disponíveis para reconhecer a importância da política. Temos urgência de fazer política. Só a política nos oferece a possibilidade de interpretar o mal-estar da sociedade, impedindo que exploda em irritação e em formas destrutivas.”

O recrutamento de trânsfugas, isso foi o mais surpreendente, foi feito à luz do dia e sem complexos. O próprio Conte lhes pediu ajuda. “Quem tiver ideias e projetos, vontade de se tornar construtor, sabe que é o momento certo para contribuir com esta perspectiva”. Mas a crise, com esse resultado, não será encerrada definitivamente.

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