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Merkel se despede de sua liderança partidária com um apelo à unidade

A CDU elege neste sábado o sucessor da chanceler, que também poderia se tornar candidato nas eleições presidenciais de setembro

Elena G. Sevillano
A chanceler Angela Merkel faz seu discurso no congresso virtual da CDU, na sexta-feira em Berlim.
A chanceler Angela Merkel faz seu discurso no congresso virtual da CDU, na sexta-feira em Berlim.FILIP SINGER (EFE)
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German Chancellor Angela Merkel addresses participants as shown on a screen at the Chancellery during "Citizen Dialogue" (Buergerdialog) as part of "The Chancellor in Conversation" series in Berlin, Germany November 12, 2020. John Macdougall/Pool via REUTERS
“Aqui é Angela Merkel, o que você tem para me dizer?”
A view of Brandenburg Gate on the first day of a nationwide lockdown amid the coronavirus disease (COVID-19) pandemic in Berlin, Germany, December 16, 2020. REUTERS/Hannibal Hanschke
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German Chancellor Angela Merkel (L) and German government spokesman Steffen Seibert leave after a press conference on the current situation amid the novel coronavirus / COVID-19 pandemic, following a meeting with her so-called Corona-Cabinet, on November 2, 2020 in Berlin. (Photo by Kay Nietfeld / POOL / AFP)
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A crise do coronavírus é “a prova mais dura”, “a pandemia do século” que prejudica a economia e exige o esforço de muitas pessoas, destacou Angela Merkel nesta sexta-feira em seu último discurso como chanceler alemã diante do seu partido, a CDU. A formação conservadora elegerá seu sucessor neste sábado entre três candidatos sobre os quais Merkel evitou expressar suas preferências. Disse apenas que confia que “uma equipe” será eleita e que os 1.001 delegados com direito a voto farão a escolha “adequada pensando no futuro”.

O partido de Angela Merkel enfrenta um dilema de cuja resolução dependerá o futuro da formação e do país, mas também da Europa. O que vai acontecer? Renovação? Guinada à direita? Mais Merkel, mas sem Merkel? Com seus votos, os delegados do partido conservador inauguram uma nova era depois da poderosa liderança que a chanceler exerceu nos últimos 20 anos: como presidenta da CDU desde 2000 e dirigindo o país desde 2005. A renúncia da favorita de Merkel, Annegret Kramp-Karrenbauer, há quase um ano, truncou a transição prevista e abriu uma corrida imprevisível pela sucessão.

A chanceler se dirigiu ao seu partido argumentando que agiu “com responsabilidade” diante dos grandes desafios do país, como a migração e a crise econômica na zona do euro. Depois de todos esses desafios, a pandemia representa agora um desafio “de dimensões desconhecidas” que exige “sacrifícios que não poderíamos ter imaginado antes”.

A liderança será disputada pelo primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestfália, o Estado mais populoso da Alemanha, Armin Laschet; pelo especialista em política externa Norbert Röttgen e pelo advogado e principal crítico da chanceler, Friedrich Merz. Embora Merkel tenha desejado permanecer neutra durante a campanha, é conhecida sua preferência por Laschet, que concorre com a promessa de fazer vice-presidente do partido o ministro da Saúde, Jens Spahn, agora muito popular por sua gestão da pandemia. Talvez seja essa a “equipe” a que Merkel se referiu, ou talvez ela estivesse pensando em integrar Röttgen, o outro candidato que oferece continuidade à sua linha ideológica. Merz, ao contrário, representaria uma guinada à direita e uma ruptura com o centrismo da era Merkel. Sua inimizade para com ela ―substituiu-a como líder do partido no Parlamento em 2002― criaria tensões com a chefa do Governo.

Super ano eleitoral na Alemanha

A eleição do novo líder da CDU inaugura o que os alemães chamam de super ano eleitoral, com seis eleições nos Estados federados e eleições gerais em setembro. E esse é o objetivo que os filiados e delegados da CDU têm em mente. O eleito terá muitos votos para ser também o candidato conservador à Chancelaria, por isso devem ponderar suas possibilidades eleitorais além de suas virtudes para gerir e sinalizar a linha ideológica do partido.

A eleição do presidente da CDU também tem um significado enorme para além das fronteiras alemãs. Em jogo está o legado de Merkel, uma chanceler que de certa forma serviu como líder de toda a Europa, primeiro ditando as receitas de austeridade na Grande Recessão de 2008 e depois transformando a crise dos refugiados de 2015 em um desafio de integração. O perfil do escolhido definirá as relações da Alemanha com Bruxelas e com cada um de seus vizinhos, cientes de que o chefe da maior economia europeia é algo mais do que um líder nacional.

“Vença quem for, terá que buscar um acordo com o primeiro-ministro da Baviera, Markus Söder, que também é o chefe do partido irmão CSU, para decidir quem será o próximo candidato a chanceler”, lembra Uwe Jun, professor de Ciência Política da Universidade de Trier. A popularidade de Söder, há muito tempo o preferido dos eleitores conservadores para ser o candidato à chancelaria, ficou clara: interveio na sessão de abertura do congresso ao lado de Merkel e da presidenta cessante, Annegret Kramp-Karrenbauer. “Merz dá a impressão de que não daria um passo atrás em favor de Söder e se apresentaria como candidato. Laschet e especialmente Röttgen deixaram claro que conversariam com o líder da CSU para escolher um candidato”, acrescenta Jun.

Kramp-Karrenbauer (apelidada de AKK) também aproveitou seu discurso de despedida para pedir unidade ao partido e, como Merkel, afirmou que a CDU é um partido “do centro”. A presidenta cessante falou, em alguns momentos emocionada, de sua renúncia a continuar liderando a formação e se candidatar à chancelaria, que aconteceu em fevereiro do ano passado depois do escândalo da eleição, no Parlamento regional da Turíngia, de um candidato liberal com votos da extrema direita e da CDU. O cordão sanitário que a Alemanha mantinha com o partido extremista foi rompido pela primeira vez quando a CDU regional votou contra as ordens de AKK, e esta ficou sem autoridade. “Não era uma questão regional, era a alma do nosso partido”, disse no congresso. Na ocasião sentiu “que já não tinha autoridade suficiente para tirar o partido ileso da crise”.

Um congresso sem aplausos nem coquetéis

Volker Bouffier, o primeiro-ministro de Hesse, disse em uma entrevista coletiva online anterior que desta vez é especialmente difícil prever quem será o vencedor. O congresso é totalmente virtual por causa da pandemia. Os oradores se dirigem à câmara desde um estúdio e muitos delegados os veem em uma tela em suas casas. Outros estão no centro de convenções Messe Berlin, em um espaço de 10.000 metros quadrados para respeitar o distanciamento social e com pontos para fazer testes rápidos de coronavírus. Por essas razões é complicado sentir a preferência do público diante dos discursos dos candidatos, que, quando chegar o momento, votarão com um frio clique em seus computadores ou tablets. Tampouco foi possível realizar o tradicional coquetel em que candidatos e pesos-pesados do partido se misturam entre si e com os jornalistas em um ambiente mais propício para comentar pesquisas internas.

Líderes importantes da CDU esquentavam a votação na sexta-feira falando sobre suas preferências direta ou indiretamente, como o primeiro-ministro da Saxônia, Michael Kretschmer, que alertou em uma coletiva de imprensa sobre o “grave erro” que seu partido pode cometer se escolher o candidato errado, aquele que, deu como exemplo, pense em se aliar aos Verdes. Sem nomeá-lo, estava falando de Norbert Röttgen, que se manifestou contrário a uma coalizão com os liberais. Para Kretschmer, o aliado natural da CDU não é o SPD e nem os Verdes, mas a FDP, o partido liberal de Christian Lindner. Não mencionou Röttgen, sem dúvida o preferido da esquerda, mas teve boas palavras para Laschet e Merz. Wolfgang Schäuble, presidente do Parlamento alemão, disse que votaria em Merz em uma reunião com delegados de Baden-Württemberg, segundo publicou a agência de notícias DPA.

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