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Extremistas falavam em ataque ao Capitólio nas redes sociais semanas antes de invasão

Apoiadores de Trump publicaram em sites e fóruns como Parler, Gab e thedonald.win as ameaças e planos de levar armas a Washington

Seguidores de Donald Trump dentro do Capitólio.
Seguidores de Donald Trump dentro do Capitólio.Saul Loeb (AFP)
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TOPSHOT - Supporters of US President Donald Trump enter the US Capitol on January 6, 2021, in Washington, DC. - Demonstrators breeched security and entered the Capitol as Congress debated the a 2020 presidential election Electoral Vote Certification. (Photo by Saul LOEB / AFP)
As pessoas “muito especiais” de Trump
Vice President Mike Pence hands the West Virginia certification to staff as Speaker of the House Nancy Pelosi, D-Calif., listens during a joint session of Congress after working through the night, at the Capitol in Washington, Thursday, Jan. 7, 2021. Violent protesters loyal to President Donald Trump stormed the Capitol Wednesday, disrupting the process. (AP Photo/J. Scott Applewhite, Pool)
Congresso dos EUA confirma vitória de Biden após revolta instigada por Trump

Ninguém pode acusá-los de secretismo: fazia semanas que os partidários extremistas de Trump prometiam violência em fóruns e redes sociais se a Câmara dos Representantes e o Senado não derrubassem o resultado das eleições de 3 de novembro, vencidas pelo democrata Joe Biden. Enquanto isso, o presidente Donald Trump continuava usando sua conta no Twitter para espalhar teorias de conspiração e acusações sem nenhuma prova.

Nesta quarta-feira, uma turba de extremistas invadiu o Capitólio, transformando essas ameaças em realidade, em uma revolta que durou quatro horas e terminou com a morte de quatro pessoas. Um dia antes, The Washington Post já havia publicado um artigo no qual reunia ameaças de violência postadas nesses fóruns de extrema direita, com mensagens encorajando as pessoas a levarem armas para a capital no dia em que o Congresso planejava ratificar a vitória eleitoral de Biden.

Uma dessas plataformas é o site thedonald.win, que surgiu há um ano. Sua origem está no fórum Reddit, onde se hospedava o subfórum TheDonald, criado em 2015 para comentar a campanha eleitoral de Trump. Pouco depois, ele se tornou um amplificador de teorias da conspiração e uma das fontes que alimentaram as manifestações dos supremacistas em Charlottesville em 2017, que culminaram com três mortes. Mensagens racistas, misóginas e antissemitas também eram frequentes. Em novembro de 2019, o Reddit colocou este fórum em quarentena: não haveria publicidade nem apareceria nos resultados dos buscadores. Em junho de 2020 o fechou definitivamente.

Segundo o Post, havia mensagens no thedonald.win encorajando-os a levar armas para Washington (“sim, é ilegal, mas estamos em guerra e claramente numa fase pós-legal da nossa sociedade”) e a não aceitar os resultados eleitorais: “Nós, o povo, não toleramos um roubo. Não vamos recuar, não nos renderemos. Devolvam ao nosso presidente o que vocês roubaram ou arquem com as consequências”.

Os usuários deste site também postaram conversas sobre como entrar no Capitólio, “e até mesmo matar todos os traidores de D.C. e recuperar o país”, em uma ameaça relatada por diversos meios de comunicação norte-americanos. Algumas dessas conversas falavam em aproveitar os túneis que há debaixo do edifício, embora no final muito menos já foi suficiente.

Apesar dessas postagens e do que aconteceu nesta quarta-feira, o thedonald.win atualmente traz mensagens afirmando que a manifestação foi pacífica e outras culpando a polícia pela morte de uma das manifestantes. Eles se autodenominam “patriotas” e afirmam que Pence é um “traidor”. Há publicações que acusam o vice-presidente pelo que aconteceu, já que esperavam que Pence impedisse a confirmação de Biden na sessão no Congresso, embora a função dele fosse apenas a de certificar o resultado eleitoral. Há também mensagens que garantem que havia “antifas” infiltrados na manifestação. Na realidade, o homem que aparece nas fotos com o rosto pintado, chifres e peles, por exemplo, é um conhecido divulgador das teorias desses fóruns.

Os extremistas compartilharam postagens semelhantes em grupos do Telegram e também no Parler, uma rede social lançada em 2018. Essa plataforma ganhou popularidade nos últimos meses entre os apoiadores mais radicais do Trump, depois que o Twitter intensificou sua política contra as notícias falsas. Um exemplo, e conforme publicado pelo Buzzfeed, é uma mensagem no Parler que perguntava quem deveria ser enforcado primeiro, sugerindo entre as opções Nancy Pelosi, presidente da Câmara, ou o próprio Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos.

Outra rede usada pelos extremistas é a Gab, também alternativa ao Twitter. De acordo com a Bloomberg, muitos invasores postaram nessa rede fotos e selfies do interior do Capitólio. O fundador do Gab publicou nesta quarta-feira um texto no qual explica que criou e reservou uma conta para o presidente caso queira usá-la depois de ter seus perfis bloqueados no Twitter, Facebook, Instagram e Snapchat. Este perfil no Gab está replicando os tuítes do presidente e já tem mais de 400.000 seguidores. Mensagens promovendo atos violentos como os de ontem também foram compartilhadas no Facebook, Tik Tok e Twitter, usando hashtags como #StopTheSteal (pare o roubo).

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As contas de Trump bloqueadas

O ainda presidente Donald Trump vem compartilhando todos os tipos de teorias da conspiração e acusações infundadas há semanas, embora os tribunais tenham rejeitado 61 demandas da equipe de Trump. O Twitter, o Facebook, o Instagram e o Snapchat bloquearam as contas do presidente dos Estados Unidos na noite desta quarta-feira. No caso do Twitter, o bloqueio vai durar até 12 horas após o presidente deletar três mensagens que a plataforma considerou enganosas e perigosas. Nessas mensagens, Trump pedia aos invasores que respeitassem a polícia, mas continuava sem admitir que havia perdido a eleição. Em uma mensagem de vídeo compartilhada nas redes, ele pedia às pessoas que fossem para casa e finalizava dizendo: “Nós te amamos. Vocês são muito especiais”.

Algumas dessas teorias eleitorais sem fundamento e refutadas foram comentadas por Trump no telefonema em que pressionou altos funcionários na Geórgia para que “encontrassem” os votos de que precisava para ganhar naquele Estado. Trump também retuitou contas ligadas ao QAnon, um movimento que espalha teorias que parecem quase piadas, como a de que alguns modelos de armários têm nomes de meninas desaparecidas, o que supostamente provaria que existe uma rede de tráfico de crianças da qual participam pessoas populares e poderosas.

Na verdade, essa teoria está diretamente relacionada ao Pizzagate. No segundo semestre de 2016, um homem com um fuzil de assalto invadiu uma pizzaria em Washington convencido de que iria desmontar um prostíbulo de menores (claro, inexistente). As mensagens haviam sido espalhadas por redes como YouTube e também Reddit.

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