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Trump pressiona seu vice a rejeitar os votos eleitorais democratas e não proclamar Biden vencedor

Manobra ocorre após escândalo de pedido de votos feito por Trump a autoridade eleitoral da Geórgia. Estado votou nesta terça-feira para escolher dois senadores, e apuração deve avançar noite adentro

Cartazes pedindo mais ajudas econômicas, nesta terça-feira, em frente ao Capitólio, em Washington.
Cartazes pedindo mais ajudas econômicas, nesta terça-feira, em frente ao Capitólio, em Washington.ANDREW CABALLERO-REYNOLDS (AFP)
Amanda Mars
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(FILES) In this file photo US President Donald Trump speaks to reporters after participating in a Thanksgiving teleconference with members of the United States Military, at the White House in Washington, DC, on November 26, 2020. - President Donald Trump pressured the Georgia secretary of state in an extraordinary phone conversation Saturday to "find" enough votes to overturn Joe Biden's victory in the Southern state, news media reported on January 3, 2021. The secretly taped conversation with fellow Republican Brad Raffensperger, first reported by the Washington Post, includes threats that Raffensperger and another Georgia official could face "a big risk" if they failed to pursue his request. (Photo by ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)
Trump pressionou alto funcionário da Geórgia para reverter resultados eleitorais: “Só quero achar 11.780 votos”
FILE PHOTO: People wait in line to enter a store that sells products in U.S. dollars in Havana, Cuba, July 20, 2020. REUTERS/Alexandre Meneghini/File Photo
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December 31, 2020 - Washington, DC, United States: President Donald J. Trump and First Lady Melania Trump return on Marine One from their Florida vacation early at the South Lawn of the White House Thursday, December 31, 2020.  *** Local Caption *** .
Trump agora entra em guerra contra o Partido Republicano

Um grupo de senadores e congressistas republicanos planeja torpedear nesta quarta-feira a certificação do democrata Joe Biden como vencedor das eleições presidenciais dos Estados Unidos na sessão bicameral prevista no Capitólio, concedendo mais um assalto à batalha do presidente cessante, Donald Trump, contra a vontade expressa nas urnas. O desafio, materializado desta vez por meio de objeções dos legisladores rebeldes, não tem perspectiva de se traduzir em nada mais do que uma exibição de protesto e divisão dentro do partido de Trump. Este manteve a pressão na terça-feira, desta vez dirigida ao seu número dois, o vice-presidente Mike Pence, que deve presidir a cerimônia. O nova-iorquino pediu que Pence use seu posto para impedir a confirmação de Biden, algo que não pode fazer.

A jornada desta quarta-feira se adivinha wagneriana. Normalmente reduzida a uma formalidade no Congresso, desta vez será palco da intentona por parte de vários representantes de deslegitimar as próprias eleições em que muitos deles foram eleitos. Enquanto isso, nas ruas, espera-se que milhares de trumpistas —muitos pertencentes a grupos de extrema direita como os Proud Boys— se manifestem para exigir a permanência de seu líder na Casa Branca, considerando válidas as acusações de fraude às quais nem os tribunais, nem as autoridades locais nem a Suprema Corte dos EUA encontraram fundamento.

“O vice-presidente tem o poder de rejeitar delegados eleitos de forma fraudulenta”, escreveu Trump na manhã desta terça-feira em sua conta no Twitter. Na verdade, nem os votos eleitorais das presidenciais foram dados de forma fraudulenta nem Pence poderia reverter os resultados já certificados pelos Estados em 14 de dezembro.

A manobra trumpista ocorre em meio ao escândalo do pedido feito pelo mandatário para que o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, “achasse” 11.780 votos a seu favor (ele perdeu para Biden por uma diferença de 11.779 votos no local). Os geórgianos escolhem nesta terça-feira seus dois senadores em segundo turno. Caso um dos republicanos —David Perdue ou Kelly Loeffler— mantenham suas vagas, o partido de Trump manterá o controle do Senado. Os democratas precisam levar os dois assentos para formar maioria. A expectativa é de que a apuração se estenda noite adentro

A cerimônia de quarta-feira de certificação de Biden segue um procedimento previsto na Constituição. O Congresso se reúne em sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado para contar os votos eleitorais de viva voz e certificar a vitória do presidente eleito. O democrata derrotou Trump por 306 votos eleitorais contra 232 do republicano. Para vencer são necessários 270 votos.

A sessão começará por volta das 13h (15h em Brasília) e será presidida pelo vice-presidente do país, no caso, o republicano Pence, que declarará o vencedor. Se este decidir não comparecer —algo que, para evitar se ver na enrascada de ter de declarar Biden vencedor, que ele ainda não reconheceu, não era descartado nesta terça—, seu lugar será ocupado pelo senador mais veterano, Chuck Grassley, republicano de Iowa. Em 2001, quem teve de encarar esse infortúnio foi nem mais nem menos que Al Gore, que era vice-presidente e acabara de perder a eleição de novembro de 2000 por uma margem muito pequena para o republicano George W. Bush, depois de ter passado pela Suprema Corte.

A cerimônia no Congresso

Primeiramente, os líderes de cada partido nomearão escrutinadores (teller, em inglês) de ambas as Casas, que serão os encarregados de contar em voz alta os votos eleitorais que os Estados enviaram selados ao Capitólio em caixas de madeira. Os votos de cada Estado serão lidos em ordem alfabética. É nesse momento do processo que os republicanos que apoiam Trump em sua cruzada contra os resultados aproveitarão para se levantar e apresentar objeções. Estas só são válidas se forem feitas por escrito e contarem com o apoio de pelo menos um legislador de cada Casa.

Há quatro anos, nesta mesma sessão, meia dúzia de deputados democratas protestou contra a vitória de Trump, mas eles não tinham apoio de nenhum senador e o então vice-presidente, que era precisamente o democrata Biden, mandou os deputados se calarem. “Acabou”, disse ele. Se as objeções por escrito tiverem o apoio de um membro do Senado e outro da Câmara Baixa, devem ser votadas por ambas as Casas. Aconteceu em 1969, por um eleitor que tinha mudado seu voto na Carolina do Norte; e em 2005, por objeções em Ohio, mas não foram adiante. Tampouco podem frutificar desta vez, já que a Câmara dos Representantes tem maioria democrata e, no Senado, a maioria dos republicanos se opõe a esta última cartada.

O plano conta com o apoio de uma centena de parlamentares do partido e cerca de uma dúzia de senadores, entre eles o texano Ted Cruz; Ron Johnson, de Wisconsin; Josh Hawley, de Missouri, e Kelly Loeffler, a senadora da Geórgia que nesta terça-feira disputa a eleição para manter sua cadeira.

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