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Trump incendeia o fim de seu mandato com a ameaça de vetar o resgate aprovado pelo Congresso

Presidente surpreende sua Administração e coloca os republicanos diante da alternativa de reiterar sua fidelidade ao mandatário e se alinhar com seus líderes no Capitólio

O presidente Trump, durante uma visita ao monte Rushmore.
O presidente Trump, durante uma visita ao monte Rushmore.Alex Brandon (AP)
Pablo Guimón
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O final de ano em Washington está sendo tão agitado quanto corresponde a um 2020 excepcional. O coronavírus golpeia os Estados Unidos com mais virulência do que nunca; a população sofre a deterioração de uma economia cujos indícios de recuperação são dramaticamente detidos pela pandemia; a complicadíssima campanha de vacinação traz o único esboço de otimismo a Administrações estaduais, com os cofres vazios pela crise econômica causada pela luta contra o vírus, que se aproximam do colapso financeiro. Além disso, o segundo turno das eleições pelos dois senadores da Geórgia, que decidirão a maioria na Câmara alta do Capitólio em 5 de janeiro, enchem de incerteza o campo de manobra da Administração do presidente eleito, Joe Biden, que vai ganhando forma, revelando os colossais desafios que a aguardam.

E, sobrevoando tudo, um mandatário em fim de mandato, Donald Trump, empenhado em enlamear o que for possível com sua insólita e já agonizante batalha para reverter sua derrota eleitoral, enfrentando até mesmo seu partido, majoritariamente ausente da agenda política, em que surge de quando em quando soltando bombas. Como a que lançou na noite de terça-feira em meio a um Capitólio que acabava de fechar um histórico acordo evitando o recesso governamental. O presidente Trump, que precisa assinar a lei aprovada na segunda no Congresso, um macroprojeto de lei de 5.593 páginas que dá 900 bilhões de dólares (4,6 trilhões de reais) em ajudas urgentes a famílias e empresas atingidas pelos efeitos da crise sanitária, insinuou na noite de terça que não irá fazê-lo, pois a considera uma “vergonha”.

Em um curto vídeo divulgado pelo Twitter, após permanecer afastado das negociações frenéticas, Trump pediu aos legisladores que aumentem de 600 a 2.000 dólares (3.080 a 10.200 reais) a quantia “ridiculamente baixa” dos cheques que o projeto de lei prevê entregar à maioria dos adultos norte-americanos. O presidente também atacou outra série de medidas da lei. Os congressistas haviam decidido, para agilizar a tramitação parlamentar do resgate, combiná-lo com um plano mais amplo para financiar o Governo e o Exército durante o próximo mandato. Entregavam assim ao presidente eleito Joe Biden um horizonte econômico de certa estabilidade quando chegar à Casa Branca em 20 de janeiro, com uma injeção de fundos federais que chegará, no total, a um histórico montante de 2,3 trilhões de dólares (12 trilhões de reais), e que inclui envios de ajuda internacional e dotação de fundos a instituições federais, que o presidente chamou de “um esbanjamento desnecessário”.

“Ela se chama lei de Alívio à Covid, mas não tem quase nada a ver com a covid”, disse o presidente. “O Congresso encontrou muito dinheiro para países estrangeiros, grupos de lobby e interesses especiais enquanto envia o mínimo à população norte-americana”, acrescentou.

A líder da maioria democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, não demorou a responder ao mandatário, lembrando que os democratas lutaram até o fim para elevar a quantia dos cheques a ser enviados aos norte-americanos e que, no acordo final, foi estabelecido o montante de 600 dólares, a metade do valor distribuído na primavera. “Os republicanos se negaram reiteradamente a dizer qual montante o presidente queria para os cheques. Por fim, o presidente aceitou que seja de 2.000 dólares. “Os democratas estamos preparados para levar isso ao Congresso nesta semana e que receba um consentimento unânime. Vamos fazer!”, disse Pelosi no Twitter na terça-feira. “Senhor presidente, assine a lei para manter o Governo funcionando. Peça a McConnell e a McCarthy [líderes republicanos no Congresso] que concordem com a solicitação de consentimento unânime dos democratas para os pagamentos diretos de 2.000 dólares! Isso pode ser feito antes do Natal!”, afirmou na quarta-feira.

Entre os republicanos, e entre os cargos de alto escalão da própria Administração Trump, a jogada do presidente chegou de surpresa. A ameaça de bloqueio coloca os legisladores conservadores diante de um dilema, o último dos muitos que enfrentaram nestes quatro anos de uma presidência extraordinária. Devem escolher se alinham-se com seus líderes no Congresso ou se entram novamente no curral criado por Trump que, agora, paradoxalmente, lhes coloca ombro a ombro com os membros mais progressistas do Capitólio.

O golpe foi particularmente duro para o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, que comemorou na própria terça-feira o acordo feito e agradeceu a Trump sua liderança, horas antes de que este fizesse tudo saltar pelos ares. “Estamos completamente comprometidos a assegurar que os norte-americanos que trabalham duro recebam esta ajuda vital o quanto antes e a fortalecer nossa recuperação econômica”, disse Mnuchin em um comunicado.

O detalhe da lei, fruto de um raro consenso bipartidário e da pressa em se agir antes do Natal, não satisfez ninguém totalmente e angariou críticas à direita e à esquerda. Mas a legislação foi aprovada com margens suficientemente amplas (359 a 53 votos na Câmara baixa e 92 a seis no Senado, de maioria republicana) para reverter facilmente um eventual veto do presidente, ainda que este tenha tomado o cuidado de não dizer expressamente se está disposto a bloqueá-lo.

Entre as explicações ao movimento de Trump que a Administração lida está o possível incômodo por não ter podido capitalizar o sucesso das negociações. Também a possibilidade de que o pedido para aumentar os pagamentos diretos à população constitua um último gesto a uma base eleitoral que o ainda presidente continua alimentando, enquanto considera seu futuro político e, pelo menos à plateia, não descarta continuar no poder por um novo mandato. “Peço também ao Congresso que se desfaça imediatamente dos elementos esbanjadores e desnecessários desta legislação, e que me envie um projeto de lei apropriado, caso contrário a próxima Administração terá que criar um pacote de ajuda pela covid, e talvez eu seja essa Administração”, disse.

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