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Estudantes sequestrados na Nigéria voltam para casa

“Batiam na gente de manhã e todas as noites. Só nos davam comida uma vez por dia e água duas vezes”, disse um dos mais de 300 jovens mantidos em cativeiro por seis dias no norte do país.

José Naranjo
Alguns dos estudantes nigerianos que ficaram seis dias sequestrados caminham em fila em direção a um prédio do Governo, após serem libertados, nesta sexta-feira, na cidade de Katsina.
Alguns dos estudantes nigerianos que ficaram seis dias sequestrados caminham em fila em direção a um prédio do Governo, após serem libertados, nesta sexta-feira, na cidade de Katsina.Sunday Alamba (AP)
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Com sinais de cansaço, descalços, com o rosto e as roupas sujos de pó, mas contentes. Alguns vestidos com as camisas cáqui e calças verdes da escola, outros enrolados em cobertores cinza. Foi assim que 344 estudantes libertados no dia anterior no norte da Nigéria, após um sequestro de seis dias, chegaram de ônibus à cidade de Katsina. As autoridades dizem que não sabem se outros adolescentes ainda estão em mãos de seus captores e há dúvidas sobre a autoria do sequestro: o grupo terrorista Boko Haram assumiu os fatos no dia seguinte à ação, mas o governador do Estado de Katsina, Aminu Bello Masari, insiste em que os autores eram simplesmente “bandidos”.

Os 344 meninos foram transferidos para um prédio do Governo em Katsina e mais tarde reunidos com seus pais em outro lugar da cidade. O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, expressou satisfação por meio de sua conta no Twitter: “É um grande alívio para todo o país e para a comunidade internacional. Todo o país agradece ao governador Masari, aos órgãos de inteligência, ao Exército e à polícia”. As autoridades negam ter pago resgate e garantem que a liberação foi possível graças a um processo de negociação que não detalharam.

Um dos garotos, que não se identificou, declarou à TV nigeriana Arise que seus captores os espancavam regularmente com varas e que diziam ser membros do Boko Haram, embora ele suspeite que fossem meros bandidos. “Eles batiam na gente de manhã e todas as noites. Só nos davam comida uma vez por dia e água duas vezes”, disse o menino, de acordo com a Reuters.

O retorno dos estudantes se deu apenas 24 horas depois de o Boko Haram divulgar um vídeo no em que mostrava uma dezena de meninos, dos quais um dizia estar nas mãos da “gangue de Abu Shekau”, em referência ao líder deste grupo terrorista. O adolescente afirmava ainda que, no total, 520 estudantes foram sequestrados, mas alguns deles morreram nas tentativas do Exército de libertá-los. A autenticidade do vídeo não foi confirmada.

O sequestro dos mais de 300 adolescentes ocorreu na sexta-feira passada, quando dezenas de homens em motocicletas e armados com fuzis AK-47 atacaram a Escola Secundária de Ciências do Governo, uma instituição masculina localizada na cidade de Kankara, no Estado de Katsina, no norte do país. Depois de uma troca de tiros com as forças de segurança, eles conseguiram levar centenas de estudantes que foram transferidos à força para ônibus e depois seguiram a pé para uma área de floresta no Estado vizinho de Zamfara.

No dia seguinte, o Boko Haram assumiu a autoria do sequestro por meio de um áudio de um homem que afirmava ser o próprio Abubakar Shekau. “O que aconteceu em Katsina foi para promover o Islã e desencorajar práticas anti-islâmicas como a educação ocidental, que não é o tipo de educação permitida por Alá e seu profeta [Maomé]”, disse o líder desse grupo jihadista. Se for verdade, a ação seria uma demonstração da expansão do grupo para novos territórios, já que suas principais bases estão no nordeste do país, a centenas de quilômetros de Katsina.

Segundo a agência France Press, que cita fontes das forças de segurança, o sequestro teria sido coordenado por um traficante de armas chamado Awwalun Daudawa, que contou com a ajuda de dois conhecidos criminosos, Idi Minoriti e Dankarami, líderes de gangues que há anos aterrorizam o noroeste da Nigéria com roubo de gado e sequestros perpetrados com grande violência. As crianças tinham sido separadas em grupos, cada um deles controlado por uma gangue diferente. O referido Daudawa poderia ter algum tipo de aliança com o Boko Haram e agir em seu nome, segundo as mesmas fontes.

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