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Secretário de Justiça dos EUA pede demissão após divergências com Trump

Presidente anuncia a saída de William Barr poucos minutos depois da confirmação da vitória de Joe Biden pelo Colégio Eleitoral

Donald Trump e William Barr em 1º de setembro, em Maryland.
Donald Trump e William Barr em 1º de setembro, em Maryland.MANDEL NGAN (AFP)
Amanda Mars
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President-elect Joe Biden removes his mask as he arrives to speak after the Electoral College formally elected him as president, Monday, Dec. 14, 2020, at The Queen theater in Wilmington, Del. (AP Photo/Patrick Semansky)
Colégio Eleitoral confirma a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos
FILE PHOTO: Homeless people rest in front of graffiti depicting U.S. President Donald Trump and Brazilian president Jair Bolsonaro underneath Minhocao bridge in Sao Paulo, Brazil July 22, 2019. REUTERS/Nacho Doce/File photo
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O secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, apresentou sua renúncia e deixará o cargo depois de 23 de dezembro, conforme anunciou Donald Trump em sua conta do Twitter poucos minutos depois que o Colégio Eleitoral confirmasse a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais. O atual chefe do Departamento de Justiça – um cargo que equivale simultaneamente ao de ministro da área e procurador-geral da República – havia sido um dos grandes aliados do mandatário republicano em momentos delicados, mas seu relacionamento se turvou nas últimas semanas por causa das infundadas acusações de fraude por parte de Trump e do vazamento de uma investigação contra o Hunter Biden, filho do presidente-eleito, depois das eleições.

“Acabo de ter uma reunião muito agradável com o secretário Bill Barr na Casa Branca, nossa relação foi muito boa e ele fez um trabalho formidável. Segundo sua carta, sairá logo antes do Natal para passar os feriados com sua família”, publicou na rede social, acompanhando o tuíte com uma foto da carta de renúncia de Barr.

Os rumores sobre sua possível saída se multiplicavam nos últimos dias. O secretário, de 70 anos e um veterano em Washington – já havia ocupado o mesmo cargo na Administração de Bush H. Bush –, se indispôs com Trump quando barrou as intenções do presidente de reverter na Justiça a vitória eleitoral de Biden.

Em meio às acusações do republicano, ele declarou que o Departamento de Justiça não havia encontrado nenhum sinal de fraude eleitoral suficiente para alterar o resultado. Além disso, numa entrevista à Associated Press, mostrou-se crítico com as teorias conspiratórias propagadas pelo presidente. “Há uma tendência crescente a usar o sistema de Justiça penal como se servisse para solucionar tudo e, quando as pessoas não gostam de algo, querem que o Departamento de Justiça investigue”, afirmou o chefe do Ministério Público Federal dos EUA. “A maior parte de denúncias de fraude se refere a casos e pessoas concretas, não há acusações generalizadas, e essas estão vindo abaixo”, salientou, desvinculando-se por completo de Trump.

Foi um ponto de inflexão depois de um mandato que começou em fevereiro de 2019, sempre oferecendo um sólido apoio ao presidente. No caso da investigação da trama russa, antes que o relatório do procurador especial Robert S. Mueller se tornasse público, elaborou um resumo tão benévolo com a atuação de Trump que um juiz o chamou de “distorcido” e “enganoso”. Por sugestão de Trump, mandou reduzir o pedido de pena para seu ex-assessor e amigo Roger Stone, uma medida tão polêmica que quatro promotores se desligaram do caso. Também decidiu arquivar as acusações contra o ex-assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn, que tinha se declarado culpado em duas ocasiões de mentir aos investigadores federais no mesmo inquérito da trama russa, mas um juiz o impediu. Trump acabou concedendo o perdão a Flynn.

Todas estas atuações multiplicaram as críticas e receios sobre a independência da Justiça com relação ao poder presidencial, mas desta vez, quando o magnata nova-iorquino tratou de reverter eleições que Biden ganhou por sete milhões de votos de vantagem (mais de quatro pontos percentuais), não encontrou o apoio de Barr. Trump também criticou que o secretário de Justiça não tenha divulgado durante a campanha eleitoral que Hunter Biden estava sendo objeto de investigação fiscal, algo que poderia ter prejudicado seu rival nas urnas.

Apesar desses atritos, em sua carta de despedida Barr também tem palavras de elogio a Trump, celebrando seus “feitos sem precedentes”. Além disso, argumenta que a Administração do republicano se viu desde o primeiro momento prejudicada por um ataque partidarista sem limites. “O ponto mais baixo desta campanha”, diz, “foi o esforço de prejudicar, ou mesmo expulsar, o seu Governo com acusações sem base de conluio com a Rússia”.

O secretário-adjunto de Justiça, Jeff Rosen, assumirá o cargo de Barr como sucessor interino até 20 de janeiro, quando toma posse a nova Administração do democrata Joe Biden. Este não anunciou ainda quem será seu nomeado para chefiar o Departamento de Justiça. Outro que não chegou ao final do mandato de Trump foi Mark Esper, demitido do comando do Pentágono dias depois das eleições. Quando Barr assumiu o cargo, em fevereiro de 2019, substituía Jeff Sessions, que saiu do Governo após também manter fortes desavenças com Trump.

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