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Biden e Harris lançam as bases de seu Governo nos EUA com guinada sobre medidas de Trump

Primeira ação da presidência democrata eleita será formar, já nesta segunda, um grupo de especialistas para lutar contra a covid-19. Recessão, mudança climática e política migratória são outras prioridades

Kamala Harris e Joe Biden, em seu discurso como nova equipe presidencial eleita, no sábado.
Kamala Harris e Joe Biden, em seu discurso como nova equipe presidencial eleita, no sábado.JIM LO SCALZO (EFE)
María Antonia Sánchez-Vallejo
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People wearing face masks walk by an electronic display on a building showing the Shanghai, Shenzhen and Hengsheng composite index in Shanghai, China, Monday, Nov. 9, 2020. World markets climbed Monday as investors breathed a sigh of relief after days of U.S. presidential limbo ended with Democrat Joe Biden declared the president-elect. (AP Photo)
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People react as they watch the speeches by Democratic 2020 U.S. presidential nominee Joe Biden and vice presidential nominee Kamala Harris after news media announced that they won the 2020 U.S. presidential election, on Times Square in New York City, U.S. November 7, 2020. REUTERS/Jeenah Moon
Biden anuncia força-tarefa para controlar covid-19 já na segunda-feira
Layers of security fencing are seen in front of the White House the day before the U.S. presidential election in Washington, D.C., U.S., November 2, 2020. REUTERS/Erin Scott
O longo caminho da transição nos Estados Unidos até a posse de Biden em 20 de janeiro

O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, lançaram as bases de seu futuro Governo com o objetivo de reverter as medidas mais controversas adotadas por Donald Trump durante quatro anos na Casa Branca, mas, acima de tudo, tirar o país da crise sanitária e econômica provocada pela covid-19. Sob o nome Transition46 (número que corresponde à presidência democrata), uma equipe de assessores e funcionários trabalha intensamente para abordar as quatro prioridades do novo mandato: a crise do coronavírus, a recessão, a mudança climática e o racismo sistêmico. O plano mais definido, relativo ao combate da crise do coronavírus, galopante no país, será concretizado ainda nesta segunda-feira.

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Retomar os laços com a comunidade internacional, rompidos pelo isolacionismo de Trump, através do retorno dos EUA ao Acordo de Paris e à Organização Mundial da Saúde (OMS); reverter restrições migratórias da anterior Administração, além de cortes de impostos do republicano que não favoreceram a classe média; restabelecer 100 medidas de saúde pública e meio ambiente da Administração de Obama que Trump alterou. A lista de tarefas que a nova equipe democrata pretende realizar é extensa, mas nenhuma tarefa é tão decisiva quanto a luta contra a pandemia, que marcará o compasso da mudança de poder antes mesmo da posse de Biden, em 20 de janeiro —e de que Trump aceite sua derrota.

O maior obstáculo que Biden e Harris terão pela frente será o possível obstrucionismo do Congresso. O Senado, onde até o momento o mapa eleitoral indica um empate entre republicanos e democratas, aguarda uma nova eleição parcial na Geórgia em 5 de janeiro. Se a Casa entrar em ponto morto, ou se houver uma mínima vantagem dos republicanos, estes poderiam frear o impulso transformador da nova presidência. Por isso, Biden estuda recorrer a ordens executivas (espécie de decretos) para superar os obstáculos.

Nesta segunda-feira será criado um grupo de trabalho especial sobre a covid-19, formado por 12 especialistas e codirigido por três deles, segundo informou no sábado o site Axios. Dois têm experiência na Administração: Vivek Murthy, que foi cirurgião-geral dos EUA entre 2014 e 2017, durante o Governo de Barack Obama; e David Aaron Kessler, chefe da FDA (agência federal que regula alimentos e remédios) entre 1990 e 1997, sob os presidentes George Bush pai e Bill Clinton. A terceira vice-presidenta da força-tarefa será a médica Marcella Nunez-Smith, da Universidade Yale.

Semana passada, esses mesmos especialistas enviaram a Biden e Harris o primeiro relatório da situação, como destacou o democrata em seu discurso de sexta-feira em Wilmington. O alarmante rumo da pandemia no país, com a doença avançando sem limite no Meio-Oeste e um recorde sustentado de novos casos, óbitos e internações, tira o sono de Biden e Harris, conscientes de que grande parte de seus eleitores o apoiou por oposição à catastrófica gestão da crise sanitária por Trump. Os casos de coronavírus no país se multiplicaram nos últimos dias até atingir o recorde registrado na sexta-feira: 127.021 novos contágios em 24 horas. No total, os EUA têm 9.973.563 de casos confirmados e 237.584 mortos, mais do que qualquer outro país no mundo, segundo o registro da Universidade Johns Hopkins. Biden também pretende se reunir com o médico Anthony Fauci, atual responsável pela luta contra a pandemia sob a Administração de Trump —que o desautorizou em inúmeras ocasiões—, antes de assumir o cargo.

Como Biden não se cansou de repetir nos comícios durante a campanha, seu Executivo estuda um plano nacional de “máscara, distanciamento social, testes e rastreamento”. Portanto, outra medida imediata será criar um comando único federal e um responsável pelo abastecimento de material sanitário, máscaras, aventais e equipamentos de proteção individual, assim como pelos exames diagnósticos e pela distribuição da vacina, quando estiver disponível. Evitar o desabastecimento (como ocorreu no auge da pandemia) e a dependência da produção chinesa é uma medida básica para um presidente eleito que prometeu privilegiar a indústria nacional com seu programa Made in America.

A política migratória também é uma preocupação da nova presidência, que pretende reverter a polêmica restrição à entrada no país de nacionais de algumas nações muçulmanas, assim como conceder novamente a autorização de residência a cerca de 1,8 milhão de dreamers ("sonhadores, os jovens que entraram sem papéis e cresceram nos EUA), com os quais Trump foi especialmente feroz, colocando barreiras ao programa que os protegia da deportação. Biden prometeu na campanha que implementaria a reforma migratória aguardada desde o mandato de Obama, regularizando 11 milhões de migrantes.

Há muita letra miúda pelo caminho —da revisão das salvaguardas aos fabricantes de armas à ampliação do trâmite de verificação de antecedentes dos que desejam adquiri-las, além da definição de novos rumos em diversas agências federais. Mas em linhas gerais, mais do que nos detalhes, o espírito da mudança é profundo e forma o desejo de devolver aos mecanismos de poder da Administração sua essência e suas funções de outrora, antes da irrupção do furacão Trump na Casa Branca. Não ajudou em nada, por exemplo, que o presidente em fim de mandato tenha passado vários meses sem se reunir com a líder da maioria democrata na Câmara de Representantes (deputados), Nancy Pelosi, ou que tenha formado em tempo recorde uma Corte Suprema de maioria conservadora (com a rápida nomeação da juíza Amy Coney Barrett), à qual poderá recorrer se fizer questão de impedir o tradicionalmente eficaz revezamento de poder entre Administrações de diferentes tendências. Biden e Harris também preparam a formação de um Gabinete diverso e inclusivo, segundo fontes próximas à campanha citadas pela imprensa local, que seja representativo dos diversos grupos populacionais, coletivos e minorias étnicas dos EUA. Sua missão será “tirar o país de uma pandemia agravada pela má gestão de Trump, reconstruir a economia de uma maneira mais sustentável e inclusiva e lidar com a divisão e a desigualdade”, nas palavras do senador democrata por Delaware Christopher Coons, muito próximo de Biden, citadas neste domingo pelo jornal The Washington Post.

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