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Sonho democrata, Geórgia caminha para a recontagem

Vantagem mínima de Biden sobre Trump abre as portas à impugnação do escrutínio, mesmo após a vitória nacional do candidato democrata

Elecciones EE UU
Morador de Atlanta em uma manifestação contra Donald Trump, nesta sexta-feira.DUSTIN CHAMBERS (Reuters)
David Marcial Pérez
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Poll workers count ballots inside the Maricopa County Election Department in Phoenix, Arizona on November 5, 2020 - Former vice president Joe Biden, making his third run at the White House, was tantalizingly close to victory on Thursday as President Donald Trump sought to stave off defeat with scattershot legal challenges and his campaign insisted he would be reelected. (Photo by OLIVIER  TOURON / AFP)
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A aura da Casa Branca envolve Biden
U.S Democratic presidential nominee Joe Biden speaks about election results in Wilmington, Delaware, U.S., November 6, 2020. REUTERS/Kevin Lamarque     TPX IMAGES OF THE DAY
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O Estado da Geórgia se encaminha para uma quase inevitável recontagem de votos nas eleições presidenciais. Os últimos dados da agônica apuração ―mais de 98% dos votos haviam sido contados até a manhã de sábado― dão a vitória a Joe Biden, mas com uma margem mínima: apenas pouco mais. de 7.000 votos, uma diferença menor que 0,5 ponto percentual, que leva o resultado final a uma revisão. “Com uma margem tão reduzida, nos encaminhamos para uma recontagem de votos”, anunciou Brad Raffensperger, secretário de Estado da Geórgia. Como essa recontagem se deve à uma lei estadual, ela deve ocorrer mesmo após a confirmação da vitória nacional de Biden.

Os primeiros resultados da jornada eleitoral da terça-feira colocaram Trump na frente no Estado, mas Biden conseguiu uma virada épica, e de última hora, graças à maciça participação antecipada, já que essas cédulas só foram apuradas depois dos votos depositados presencialmente na terça-feira, dia oficial da votação. Faltando ainda a confirmação da recontagem, o resultado representaria um grande golpe simbólico para os democratas no Estado sulista ―onde seus candidatos presidenciais não venciam desde 1992.

Com a equipe de Trump engalfinhada em uma desesperada campanha para judicializar qualquer brecha do processo eleitoral ―já moveu ações em quase 10 Estados―, é praticamente certeza que os republicanos farão valer seu direito a solicitar uma recontagem, conforme previsto na lei do Estado quando a margem entre os candidatos é inferior a meio ponto. Isso poderia dilatar ainda mais o final do processo eleitoral, pois será preciso esperar que a autoridade eleitoral certifique os votos, algo previsto para meados deste mês, antes de recomeçar a apuração. Em todo caso, os prazos poderiam ser reduzidos se a Secretaria de Estado solicitar a recontagem por iniciativa própria, o que pode fazer a qualquer momento ―e já deixou entrever nesta sexta-feira que de fato fará.

Embora fosse um dos feudos sulistas menos inexpugnáveis, como já vinham indicando as pesquisas, a campanha de Biden não mostrou muito interesse até quase o último minuto, mais preocupada que estava em recuperar os Estados pós-industriais do norte e Meio-Oeste. O candidato democrata visitou Atlanta uma semana antes das eleições, enquanto Trump passou por lá em quatro ocasiões. Na noite de terça-feira, dia da eleição, o republicano o superava por uma margem superior a 370.000 votos, mais de quatro pontos percentuais. Na noite de sexta, Joe Biden disse com confiança que se tornará o primeiro democrata a ganhar no Estado desde Bill Clinton.

A maciça participação antecipada e pelo correio, principal opção do eleitorado democrata, permitiu a virada de Biden. Depois de reduzir a distância dia após dia à medida que a apuração avançava, a virada definitiva chegou na manhã desta sexta-feira. As zonas metropolitanas, populares e majoritariamente negras de Atlanta, a capital, empurraram o candidato. Entre elas, o condado de Clayton, de grande carga simbólica por ter sido durante mais de 30 anos o distrito representado pelo congressista John Lewis. Morto em julho aos 80 anos, Lewis era o último símbolo da geração de líderes negros na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Figura monumental do Partido Democrata, tinha sido um dos mais firmes opositores de Trump desde sua chegada ao poder ―declarou abertamente que não o considerava um presidente legítimo― e participou ativamente no movimento Black Lives Matter.

Recuperar a Geórgia foi, desde as eleições passadas, um dos sonhos democratas. Apesar de conservar uma maioria de população branca, a progressiva mudança demográfica ampliou o segmento de eleitores jovens e afro-americanos, reduto do voto democrata e muito sensibilizados pela onda de protestos reivindicando justiça racial, depois das mortes de cidadãos negros por policiais neste ano. Um desses casos foi o de Rayshard Brooks, 27 anos, abatido a tiros nas ruas do condado de Fulton (Atlanta), outro dos bastiões democratas na cidade.

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