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França e Alemanha propõem sanções contra a Rússia pelo envenenamento de Navalni

Chanceleres dos dois países afirmam que Governo Putin não dá respostas confiáveis no caso do oposicionista, intoxicado com substância de fabricação militar

O presidente russo, Vladimir Putin, preside desfile em junho em Moscou.
O presidente russo, Vladimir Putin, preside desfile em junho em Moscou.Europa Press
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FILE PHOTO: Russian opposition politician Alexei Navalny takes part in a rally to mark the 5th anniversary of opposition politician Boris Nemtsov's murder and to protest against proposed amendments to the country's constitution, in Moscow, Russia February 29, 2020. REUTERS/Shamil Zhumatov//File Photo
Navalni: “Putin está por trás do crime, não vejo outra explicação”
4/9/2020 Leonid Volkov, opositor ruso, fotografiado frente al parlamento Alemana, este viernes Foto de Ana Carbajosa
“O envenenamento só pode ter sido aprovado pelo Kremlin”
Alexei Navalni en una manifestación
CELESTINO ARCE LAVIN / ZUMA PRES
  (Foto de ARCHIVO)
29/09/2019
O opositor russo Navalni foi envenenado com a mesma substância que o ex-espião Skripal

O eixo franco-alemão se mantém como força motriz das represálias contra a Rússia pelo envenenamento de Alexei Navalni. Paris e Berlim vão propor à União Europeia a adoção de sanções contra a Rússia, a quem acusam de estar por trás da intoxicação do opositor do Governo com o agente nervoso Novichok, segundo informaram os dois países em um comunicado conjunto. Os europeus aguardavam uma resposta de Moscou depois que se soube que político do Kremlin fora envenenado com uma substância de fabricação militar russa.

“A Rússia não forneceu uma explicação confiável até agora. Neste contexto, consideramos que não há outra explicação plausível a não ser o envolvimento e a responsabilidade russa”, afirmam os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, e da França, Jean Yves Le Drian, em nota conjunta. “Houve uma tentativa de assassinato em solo russo, contra um oposicionista russo, usando um agente nervoso desenvolvido pela Rússia”, disseram. “Extraindo as conclusões necessárias desses eventos, a França e a Alemanha compartilharão com seus parceiros europeus propostas de sanções adicionais”, acrescentam.

A nova medida se somaria à série de sanções impostas pela UE contra Moscou desde 2014, após a guerra na Ucrânia e a anexação russa da península da Crimeia. As tentativas de reconciliação com o regime de Vladimir Putin, lideradas até o envenenamento de Navalni pelo presidente francês, Emmanuel Macron, não deram frutos nos últimos seis anos e parece ser cada vez mais difícil mantê-las. O novo choque também pode complicar o difícil equilíbrio mantido pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que, apesar da ocupação unilateral da Crimeia, manteve o acordo da Alemanha com Moscou para construir um novo gasoduto através do Báltico (o chamado Nordstream II).

Berlim e Paris agora sugerem que as sanções sejam dirigidas contra indivíduos “responsáveis pelo crime e a violação da legislação internacional, por sua função, bem como contra a entidade envolvida no programa do Novichok”. Moscou nega envolvimento no envenenamento que levou a uma considerável deterioração das relações entre a Rússia, a Alemanha e a União Europeia. Paris e Berlim afirmam que a tentativa de silenciar o opositor russo constitui uma violação da Convenção de Armas Químicas.

Um laboratório militar alemão e duas instituições independentes na França e na Suécia confirmaram que Navalni foi envenenado com uma substância da família do Novichok. É o mesmo agente nervoso usado em 2018 para tentar liquidar o ex-espião russo Sergei Skripal no Reino Unido. O Governo alemão, porém, havia anunciado que antes de adotar qualquer represália aguardaria a confirmação da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), que chegou nesta terça-feira e que também afirma ter encontrado vestígios do veneno.

Com o aval da OPAQ sobre a mesa, Berlim e Paris defendem a abertura de uma nova via de sanções contra Moscou, com a punição para a Crimeia ainda em vigor. Na semana passada houve uma ampliação dessas represálias: dois cidadãos russos e quatro empresas russas foram adicionados a uma lista de sanções (proibição de entrada na UE e congelamento de seus bens em território comunitário) que já inclui 177 pessoas e 48 empresas. A UE também aprovou penalidades econômicas a vários setores da economia russa (energia, defesa, finanças e bens de dupla utilização), prorrogadas a cada seis meses e válidas pelo menos até janeiro do próximo ano.

As possíveis sanções têm que ser endossadas por unanimidade no Conselho da UE, onde estão representados os 27 Governos da União. A proposta franco-alemã deverá ser exposta na próxima segunda-feira, durante a reunião mensal dos chanceleres da UE. A reunião coincide com a presidência de turno alemã da União neste semestre. A aprovação da nova sanção, entretanto, também pode causar tensões internas na UE. Por um lado, países como Itália e Hungria costumam resistir a agir contra a Rússia. E, por outro, a Polônia e os países bálticos, totalmente contra a construção do gasoduto Nordstream II, podem aproveitar o caso Navalni para tentar abortar definitivamente um projeto que também conta com forte oposição dos Estados Unidos.

Alexei Navalni em foto publicada em seu Instagram de um hospital de Berlim.
Alexei Navalni em foto publicada em seu Instagram de um hospital de Berlim. @navalny (AFP)

Navalni está em Berlim desde 22 de agosto, recuperando-se do envenenamento que quase lhe custou a vida. O oposicionista russo foi transferido para a Alemanha em um avião com equipamento médico dois dias depois de sofrer um colapso em um avião em pleno voo. O aparelho fez um pouso de emergência e Navalni foi inicialmente internado em um hospital na Sibéria, onde os responsáveis pelos exames alegaram não ter sido encontrado nenhum vestígio de substância tóxica.

Os aliados do oposicionista sustentaram desde o primeiro momento que Navalni havia sido envenenado e conseguiram que uma ONG alemã o transferisse para Berlim. Na Alemanha, Navalni foi internado no grande hospital La Charité, onde teve alta no dia 23 de setembro, depois de passar ali mais de um mês, sendo 24 dias em terapia intensiva. Lá, ele recebeu a visita de Merkel. Desde que deixou o hospital, ele faz tratamento de reabilitação na capital alemã, onde sua família o acompanha.

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