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O último drinque em Madri, de novo sob confinamento contra o coronavírus

Novas regras de isolamento social começaram na sexta na capital espanhola, pior foco da covid-19 na Europa, para tentar conter segunda onda de contágios. Donos de bares são obrigados a fechar

Garçons no bar La Bodega de la Ardosa, em Madri.
Garçons no bar La Bodega de la Ardosa, em Madri.INMA FLORES
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No pequeno bar La Isla, no bairro madrilenho de Ibiza, Javier Pino, 60 anos, aguardava ansiosamente o começo do segundo confinamento da cidade. Desde às 22h desta sexta (17h em Brasília), protestando e com ameaça de caos, a capital da Espanha voltou a fechar, ainda que não duramente como em março, para tentar conter o avanço da segunda onda da pandemia, que já provoca 80% de ocupação das UTIs da cidade. A região de Madri é, neste momento, a mais afetada pelo vírus na Europa e a capital é a primeira da Europa a voltar a funcionar sob restrições mais severas desde o auge do golpe do coronavírus, no primeiro semestre. De acordo com as novas normas do Ministério da Saúde espanhol, os estabelecimentos de alimentação deverão reduzir sua capacidade para 50% no interior e deixar de servir nos balcões. Para os lugares pequenos, como o La Isla de Pino, sem nenhuma mesa, não há escolha a não ser fechar as portas. “Entendo que a saúde é importante, mas a economia também é”, se lamentava nesta sexta-feira.

Não muito longe dali, El Espín, um dos clientes habituais, David, 30 anos, critica que o deixem sem bar. Ele acredita que suspender o serviço de balcão não só é pouco eficaz, como também pune os mais vulneráveis. Para ele, nos pequenos negócios, cujo faturamento depende do serviço de balcão, pode-se garantir ventilação constante e a distância de um metro e meio. “É mais perigoso viajar em transporte público”, afirma. Em junho, 22% dos profissionais deste setor (28.000 pessoas) estavam sob o regime especial de emprego, com redução de horas e de salário, por causa da crise. Diante da situação esse porcentual não vai cair.

O confinamento já em vigor vetará mais de 3,2 milhões de pessoas de deixar a capital madrilenha, a não ser por motivos justificados. As novas restrições vão vigorar, em princípio, por até 14 dias, prazo estabelecido pela administração local para revisar as restrições conforme a situação epidemiológica. É o tempo necessário para que as medidas surtam efeito, já que em média há um período de pelo menos 10 dias entre a incubação do vírus, os sintomas, o diagnóstico e a inclusão nas estatísticas oficiais. No entanto, a Justiça pode interromper as restrições antes, já que há uma disputa em torno das medidas entre o Governo nacional de esquerda, liderado por Pedro Sánchez, e o Executivo regional conservador de Isabel Díaz Ayuso. O coronavírus já matou mais de 32.000 pessoas na Espanha e, na região de Madri, voltou a fazer vítimas, ainda que os números de óbitos estejam longe dos quase 1.000 por dia no auge da primeira onda.

Em outro bar, o La bodega de Ardosa, no bairro de Malasaña, dos 12 funcionários que havia agora só restam seis. “Em um dia normal, poderíamos atender cerca de 500 pessoas”, comenta Juan Cambeiro, 49 anos, que trabalha aqui há dois anos. As novas restrições podem ser a gota d'água para o negócio. "O faturamento caiu muito. Imagine que das 100 tortilhas que fazíamos antes, agora não saem mais de 30″, diz ele com a tristeza escondida atrás da máscara.

As caras de funeral não são muito diferentes na Casa Camacho, cujo faturamento atual corresponde a 20% do de um ano atrás. O dono deste lugar mítico da cidade, Miguel Ángel González Pérez, 50 anos, tem mais sorte que outros porque, além do balcão, dentro do recinto há algumas mesas onde os frequentadores degustam o seu drinque. Mesmo assim, este pequeno espaço pode acomodar no máximo 16 pessoas. E não tem um ambiente ao ar livre. Para Alberto, 51 anos, este provavelmente é o último aperitivo antes de o balcão deixar de estar disponível a partir do fim de semana. Segundo ele, graças à solidariedade das pessoas e à fama do local, a Casa Camacho seguirá em frente, apesar das restrições. Enquanto isso, os últimos clientes abandonam o local e se dirigem à porta, onde um aviso lembra da obrigatoriedade de usar máscara. Ao saírem, o bar mergulha em um silêncio quase absoluto.

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