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Protestos voltam às ruas da Colômbia após meses de paralisia pela pandemia

Autoridades dissolvem manifestações em Bogotá, enquanto dois policiais são detidos por envolvimento na morte um homem sob custódia, um crime que reavivou a indignação popular

Sapatos com flores nesta segunda-feira na Praça Bolívar, em Bogotá, durante uma nova jornada de protestos. Vídeo com legendas em espanhol.Foto: EFE | VIDEO: REUTERS
Catalina Oquendo

Os colombianos voltaram às ruas para protestar, encerrando meses de paralisia por causa da pandemia do coronavírus. Após duas chacinas que deixaram 10 mortos neste domingo nos departamentos de Cauca e Nariño, e num ambiente de tensão precedido pela morte de 13 civis supostamente baleados por policiais em Bogotá e Soacha, as manifestações contra o Governo de Iván Duque foram retomadas nesta segunda-feira. Embora longe de serem maciças como em 2019, essas marchas avançaram com tranquilidade em todo o país. Entretanto, em Bogotá, no final da tarde, as concentrações foram dissolvidas após um incidente envolvendo alguns indivíduos que vandalizaram uma instituição financeira.

Bogotá respeita a mobilização pacífica, mas não admite nenhum ato de vandalismo ou violência. Durante todo o dia a mobilização foi pacífica, exceto por um ato de vandalismo no centro às 16h45 que foi controlado”, disse pelo Twitter a prefeita de Bogotá, Claudia López, acrescentando que não houve feridos. No mesmo sentido se pronunciou o presidente Iván Duque em seu programa diário. “Não podemos tolerar o vandalismo, a violência e as agressões sob nenhuma forma de expressão, porque fazê-lo seria premiar a ilegalidade”, afirmou o mandatário conservador. Entretanto, líderes políticos que aderiram à manifestação denunciaram o Esmad (tropa de choque da polícia), que lançou gás lacrimogêneo e atacou manifestantes pacíficos, jornalistas e a deputada Katherine Miranda, do partido Aliança Verde.

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Policiais presos

Há duas semanas, centenas de pessoas vêm se mobilizando para protestar contra a brutalidade das forças de segurança, exposta no incidente em que policiais mataram a golpes e choques elétricos o advogado Javier Ordóñez, que já estava dominado. Na tarde desta segunda-feira, o Ministério Público determinou que os policiais sejam presos e a Procuradoria da República opinou que não se tratou de um uso excessivo da força, e sim de um caso de tortura contra o advogado. Durante dois dias, 9 e 10 de setembro, o alvo da raiva foram os Comandos de Atendimento Imediata da Polícia (CAIs), já que foi numa destas instalações que Ordóñez foi assassinado, mas o caos e a reação dos agentes disparando com armas de fogo deixaram 13 mortos e uma forte tensão política entre o Governo local da capital e o central, presidido por Duque.

Naquele momento, a prefeita da cidade, Claudia López, disse que a Polícia cometeu “um massacre de jovens” e exigiu que o Governo nacional investigue os policiais que atiraram contra os cidadãos; o presidente, por sua vez, vestiu-se de policial e visitou vários CAIs destruídos durante os distúrbios.

Convocadas por centrais sindicais, as mobilizações desta segunda-feira representaram uma prova de fogo para ambos os Governos e especialmente para a Polícia, que está sob os holofotes. O comandante da Polícia Nacional, general Óscar Atehortúa, anunciou que 100 agentes já foram suspensos, incluindo 14 que usaram suas armas nas noites de protesto, assim como policiais que esconderam suas identificações para agredir cidadãos. E afirmou que, nas novas manifestações, os policiais não poderão portar armas, mas que questionado Esmad continuará presente.

O mal-estar social que havia tomado forma desde novembro de 2019 ―apagando-se em seguida com as festas de fim de ano e a pandemia― retornou com novas demandas, enquanto a crise sanitária continua e a Colômbia já soma 765.076 casos da covid-19, com 24.208 mortos. No ano passado, o leque de reivindicações incluía a urgência da implementação dos acordos de paz, maiores recursos para a educação pública, a desigualdade e a proibição do uso de armas não letais por parte do Esmad.

Agora, depois de 60 matanças ocorridas desde o começo do ano em diversas regiões, as passeatas sob o lema “estão nos matando” também exigem que o Governo aja de forma contundente contra a violência no campo; que suspenda o empréstimo de 370 milhões de dólares à companhia aérea Avianca, e em seu lugar destine o dinheiro aos desempregados do país; e, particularmente, que atue contra os abusos policiais, que causaram raiva e indignação nos últimos dias e motivaram críticas de diversos setores políticos do país.

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