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Secretário-geral da ONU: “A pandemia deixou a descoberto as fragilidades do mundo”

Presidente Jair Bolsonaro fará o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, e deve rebater críticas sobre destruição do meio-ambiente

Pablo Guimón
António Guterres, em seu discurso no 75º aniversário da ONU, nesta segunda-feira, em Nova York.
António Guterres, em seu discurso no 75º aniversário da ONU, nesta segunda-feira, em Nova York.Eskinder Debebe (AP)
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Na comemoração do 75º aniversário da Organização das Nações Unidas, seu secretário-geral, António Guterres, pediu nesta segunda-feira a preservação do mais longo período de paz entre as grandes potências mundiais. Guterres lembrou que “foram necessárias duas guerras mundiais, milhões de mortes e os horrores do Holocausto para que os líderes mundiais se comprometessem com a cooperação internacional e o império da lei”. “Uma terceira guerra mundial, que muitos temiam, foi evitada. Esta é uma grande conquista da qual os Estados membros podem se orgulhar e que todos devemos nos esforçar para preservar”, acrescentou.

Nascida após o segundo grande conflito bélico do século XX, com o objetivo de proteger as gerações futuras da devastação de outra grande guerra, a ONU celebra este ano seu 75º aniversário em um mundo politicamente polarizado, abalado por inúmeros conflitos regionais, enfrentando uma emergência climática e uma crise econômica mundial e, acima de tudo, subjugado por uma terrível pandemia que já deixou quase um milhão de mortos em todo o planeta. “Hoje temos um superávit de desafios multilaterais e um déficit de soluções multilaterais”, observou Guterres.

A calamidade climática se aproxima. A biodiversidade está entrando em colapso. A pobreza cresce novamente. O ódio se espalha. As tensões geopolíticas estão em escalada. As armas nucleares permanecem em alerta de gatilho sensível. As tecnologias abriram novas oportunidades, mas também novas ameaças. A pandemia da Covid-19 deixou a descoberto as fragilidades do mundo. Só podemos enfrentá-las juntos ", disse o secretário-geral.

O ato desta segunda-feira serve como um prelúdio para a Assembleia-Geral da ONU, que realizará nesta terça-feira uma de suas mais estranhas sessões anuais, de modo inteiramente virtual. O presidente Jair Bolsonaro irá fazer o tradicional discurso de abertura do encontro. A expectativa é de que ele use este espaço para rebater as acusações de que seu Governo não age para combater as queimadas e a devastação na Amazônia e no Pantanal.

Por causa da pandemia, o ato desta segunda-feira não teve o tom de celebração e se limitou a uma sucessão de breves declarações gravadas, de cerca de três minutos cada uma, de representantes dos Estados-Membros. Na sede da entidade, em Nova York, representantes de cada um dos países estavam encarregados de transmitir os vídeos dos respectivos chefes de Estado.

Em seu discurso, o rei da Espanha, Felipe VI, aderiu ao apelo para o fortalecimento do multilateralismo como resposta aos grandes desafios que o mundo enfrenta. “Por causa da pandemia, a humanidade está vivendo uma crise mundial inédita que põe à prova os nossos países e o sistema das Nações Unidas, mas que também demonstra quão necessária é a cooperação internacional estruturada em um mundo cada vez menor”, disse o chefe de Estado espanhol em seu discurso. “A resposta aos desafios atuais requer um multilateralismo reforçado, mais inclusivo e aprimorado, que facilite a colaboração entre os atores estatais e a sociedade civil e que resulte em um impacto real, positivo e tangível na vida das pessoas.”

Para coincidir com seu 75º aniversário, a ONU lançou este ano um grande estudo demoscópico que foi descrito como “uma conversa mundial”. Por meio de pesquisas e reuniões com mais de um milhão de pessoas dos 193 países membros, o objetivo era determinar as esperanças e medos em relação ao futuro. É o esforço mais ambicioso até agora para compreender as expectativas na cooperação internacional e na ONU em particular e, segundo Guterres, os resultados são “chamativos” e notavelmente homogêneos em todo o mundo.

Em meio à pandemia, a prioridade imediata da maioria dos pesquisados, segundo o estudo, é melhorar o acesso aos serviços básicos, como saúde e educação, seguido pela necessidade de maior solidariedade internacional e maior apoio aos mais desfavorecidos. A crise climática e a destruição do meio ambiente também são, segundo o estudo, “preocupações avassaladoras”. Um total de 87% dos entrevistados considera que a cooperação mundial é “vital para enfrentar os desafios de hoje” e 60% acreditam que a ONU tornou o mundo um lugar melhor.

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