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Trump sobre o coronavírus: “Sempre busquei minimizar sua importância”

Livro do jornalista Bob Woodward revela que o presidente dos EUA já sabia que a covid-19 era mais mortal que uma gripe enquanto publicamente rebaixava sua gravidade

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em maio passado em Ypsilanti (Michigan).
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em maio passado em Ypsilanti (Michigan).The Detroit News/TNS/ABACA (GTRES)
Antonia Laborde
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Donald Trump sabia.” Essa é a frase que os adversários do presidente norte-americano repetem depois que o The Washington Post publicou nesta quarta-feira um áudio em que o republicano admite que minimizou deliberadamente a importância da pandemia do coronavírus. Trump reconheceu isso, ainda no início da pandemia, ao jornalista Bob Woodward, que o entrevistou quase 20 vezes para seu livro Rage (“raiva”), que começa a ser vendido na semana que vem, mas já teve trechos divulgados. O Post, que teve acesso a várias conversas entre o mandatário e o jornalista, revela que, embora o republicano informasse à população que a covid-19 não era pior que uma gripe, ele sabia que a taxa de mortalidade era várias vezes superior à de gripes graves. “É mais mortal inclusive que uma gripe intensa. Isto é algo fatal”, advertiu o presidente no começo de fevereiro ao repórter, duas vezes ganhador do Pulitzer.

Os Estados Unidos são o país com mais contágios no mundo, mais de seis milhões de casos, e beira os 200.000 mortos. Metade do país continua fechada, e a crise econômica levou a um desemprego com cifras inéditas desde a Grande Depressão. “Sempre quis minimizar sua importância. Ainda gosto de minimizar porque não quero criar pânico”, disse Trump a Woodward em 19 de março, numa gravação compartilhada pela CNN. Uma semana depois, ele falava em reabrir o país no domingo de Páscoa, e 10 dias antes dessa data ainda insistia em que não era mais que uma gripe qualquer.

Depois da bomba informativa, a menos de 60 dias das eleições presidenciais, a Casa Branca atrasou em meia hora a sua entrevista coletiva. “O presidente nunca minimizou a importância do vírus. O presidente expressou calma”, alegou a porta-voz Kayleigh McEnany. Uma das perguntas feitas a ela estava relacionada às declarações do mandatário no fim de fevereiro, quando disse que o coronavírus “um dia, como por milagre, desaparecerá”. McEnany respondeu: “Ninguém está mentindo às pessoas. Um dia a covid-19 vai desaparecer. É um fato”. Horas mais tarde, foi o presidente que precisou responder às perguntas. Diferentemente das negações taxativas da sua porta-voz, não descartou ter minimizado a ameaça. “Amo o nosso país e não quero que as pessoas se assustem. Não quero criar pânico. Temos que nos encarregar da situação”, defendeu-se.

“Donald Trump sabia. Mentiu-nos durante meses. E, embora uma doença mortal tenha arrasado a nossa nação, ele não fez seu trabalho... de propósito. Foi uma traição de vida ou morte ao povo norte-americano”, tuitou o candidato democrata, Joe Biden, após escutar os áudios. Sua candidata a vice, Kamala Harris, reiterou sua mensagem e acrescentou: “Não está apto a ser presidente. É preciso tirá-lo em novembro”. Por sua vez, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, o senador republicano pelo Texas Ted Cruz e o governador da Flórida, Rick Scott, também desse partido, responderam o mesmo ao serem consultados sobre o tema: “Não li o livro”.

Segundo o novo trabalho de Woodward, citado pelo Post, Trump participou em 28 de janeiro de uma reunião sobre o coronavírus em que foi informado de que o mundo enfrentaria uma emergência sanitária similar à pandemia de gripe de 1918. “Isto será a maior ameaça à segurança nacional que o senhor enfrentará na sua presidência”, disse-lhe na reunião o seu assessor de Segurança Nacional, Robert O’Brien, segundo os trechos do livro de Woodward antecipados pelo jornal.

O jornalista, que em 2018 publicou Medo - Trump na Casa Branca, em que descrevia a Administração como um “manicômio”, entrevistou 18 vezes o mandatário republicano entre dezembro passado e julho. Um dos grandes temas abordados, além da pandemia, foi o abuso policial em relação a pessoas negras nos Estados Unidos. O país enfrentou a maior onda de protestos raciais em meio século depois da morte de George Floyd por agentes da polícia de Minneapolis, no final de maio.

Em 19 de junho, Woodward sugeriu ao mandatário que, como homens brancos da mesma geração, tinham a responsabilidade de “compreender melhor a ira e a dor” da comunidade negra. “Não”, respondeu-lhe Trump, com uma voz descrita no livro como zombeteira. “Você tomou realmente foi Kool-Aid [refrigerante de frutas], né? Ouça o que está dizendo. Uau! Não, não sinto isso absolutamente”, respondeu o presidente. E esquivou-se de responder sobre se existia um racismo sistêmico ou institucional no país, alegando que existe “em toda parte”, e que provavelmente nos Estados Unidos é menor que “na maioria dos lugares”.

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