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Polícia da província de Buenos Aires se amotina para exigir aumento de salário

Força de segurança exige aumento salarial próximo de 60% e direito de sindicalização

Enric González
Policiais da província de Buenos Aires protestam em frente à sede da força em La Matanza.
Policiais da província de Buenos Aires protestam em frente à sede da força em La Matanza.Telam
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A polícia da província de Buenos Aires se rebelou. Em plena crise econômica e sanitária, com a província submetida a uma quarentena severa, há três dias os agentes reclamam um aumento salarial próximo de 60% e direito de sindicalização. Na quarta-feira os policiais decidiram aumentar a tensão e cercar a residência presidencial de Olivos, o que provocou o repúdio tanto do Governo quanto da oposição. A polícia da província de Buenos Aires é uma força numerosa, com cerca de 130.000 membros (90.000 deles em serviço), e mal paga: os salários básicos não chegam a 40.000 pesos, equivalentes a 2.123 reais no câmbio oficial e 1.630 no câmbio real.

Os problemas se alastram para o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof. Além de administrar uma província superpovoada com altos índices de pobreza, principal foco da pandemia na Argentina, de não saber o que fazer com as ocupações de terrenos por famílias desesperadas (e por grupos mais ou menos mafiosos) e de estar em plena renegociação da dívida, agora tem de enfrentar um levante difícil de controlar porque não existem líderes ou estruturas representativas.

Tanto ele quanto seu ministro da Segurança, Sergio Berni, estão sendo criticados pelo Governo nacional por não terem previsto que a polícia estava prestes a entrar em ebulição. Kicillof e Berni, dois fiéis à vice-presidenta Cristina Kirchner, atravessam o pior momento desde que assumiram seus cargos em dezembro.

Os prefeitos peronistas da província também se queixam de Berni, pois estão cansados de seu desejo de protagonismo e de seu estilo autoritário. Em conflito com a ministra da Segurança do Governo nacional, Sabina Frederic, e não especialmente próximo do presidente Alberto Fernández, Sergio Berni poderia ser a vítima ideal caso se decida que alguém tem de pagar pelo estrago da polícia.

A polícia de Buenos Aires tem uma história problemática. Abundam os casos de corrupção e violência injustificada. Neste momento está sendo investigada a morte de um jovem, Facundo Astudillo, e protagonizou vários tiroteios causados por simples desobediências de jovens ao respeito à quarentena. A partir de 2016, a cidade de Buenos Aires optou por ter sua própria força policial (muito mais bem paga) e prescindir da polícia da província de Buenos Aires.

A paralisação das atividades por causa da quarentena reduziu substancialmente os ganhos dos agentes, acostumados a receber uma remuneração extraordinária pela manutenção da segurança em eventos de grande porte, como jogos de futebol, ou por serviços privados durante os dias de folga, como proteção ocasional de joalherias ou outros negócios. As invasões de terras, o controle do cumprimento da quarentena e o aumento da criminalidade, devido à crise e ao esvaziamento parcial das prisões por conta da pandemia, mantêm os agentes em tensão permanente há meses.

O ministro provincial Sergio Berni se reuniu no início da manhã com vários representantes da polícia em seu quartel-general em Puente 12, em La Matanza, e lembrou que o Governo de Kicillof havia se comprometido a fazer uma “melhora importante” nos salários, estimada em 30%. Mas não houve acordo. Os agentes exigem um aumento de 60% sobre o salário líquido, direito à sindicalização, horas extras mais bem pagas e mais de 2.000 pesos mensais para a manutenção do uniforme e do equipamento, entre outras reivindicações.

Depois do fracasso da reunião com Berni, um suboficial da polícia cujo filho foi assassinado em 2018 subiu na torre de vigia do quartel de Puente 12 e ameaçou se suicidar. Outro policial conseguiu subir com arneses e o convenceu a desistir. Pouco depois, centenas de agentes cercaram com suas viaturas a residência presidencial de Olivos, cuja proteção teve de ser reforçada com forças da Prefeitura e da Polícia Federal. O presidente Alberto Fernández se ofereceu para receber uma delegação, mas a proposta foi rejeitada. Fernández expressou seu total apoio a Kicillof e disse que o problema não seria resolvido com os policiais “escondidos em viaturas e buzinando”.

Os principais líderes da oposição também criticaram os agentes por cercar Olivos, embora tenham dito que entendiam os motivos do protesto. O principal sindicato argentino, a Confederação Geral do Trabalho, ligada ao peronismo, qualificou os protestos da polícia de “insubordinação”.

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