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Fantasma da ingerência eleitoral russa ressurge nos Estados Unidos

Facebook e Twitter eliminam contas falsas vinculadas ao Kremlin que atacavam grupos de esquerda

Exemplo de uma notícia compartilhada pelo suposto site de notícias 'Peace Data'.
Exemplo de uma notícia compartilhada pelo suposto site de notícias 'Peace Data'.Imagen compartida por Ben Nimmo en Twitter
Antonia Laborde
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Brazil's President Jair Bolsonaro holds a paper with a print of the WhatsApp message with former minister Sergio Moro, written below in Portuguese: "This is gossip" as he leaves Alvorada Palace, amid the coronavirus disease (COVID-19) outbreak in Brasilia, Brazil May 4, 2020. REUTERS/Ueslei Marcelino
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O fantasma da ingerência russa volta a assombrar as eleições norte-americanas. Alertados pelo FBI, o Facebook e o Twitter anunciaram o fechamento de várias contas falsas e dedicadas a espalhar desinformação entre eleitores de esquerda. A operação está vinculada à Agência de Pesquisa da Internet, uma empresa com sede em São Petersburgo que foi crucial na ingerência do Kremlin na eleição norte-americanas de 2016, com o objetivo, conforme concluíram os serviços de inteligência dos EUA, de favorecer Donald Trump.

A informação revelada pelas redes sociais é a primeira evidência pública de que a agência respaldada pela Rússia tenta repetir a ingerência de quatro anos atrás. O alcance da operação, pelo que se sabe até o momento, é significativamente menor que o do pleito presidencial anterior, quando as publicações de origem russa chegaram a 126 milhões de usuários do Facebook, e mais de 2.700 contas foram criadas no Twitter para esse fim. As empresas tecnológicas admitiram os fatos quase um ano depois daquela eleição e estão sob escrutínio desde então por sua reação tardia. A operação divulgada na terça-feira detalha que a Agência de Pesquisa da Internet publicou conteúdo com desinformação em 13 contas falsas do Facebook e duas páginas da rede social com 14.000 seguidores onde promoviam o suposto site noticioso Peace Data.

A primeira atividade do Peace Data ocorreu em outubro de 2019, mas apenas compartilhando artigos publicados por outros veículos. Em março, o site passou a postar material próprio, em inglês, o qual era compartilhado em grupos do Facebook como Socialistas Democratas, Partido Progressista e Progressistas Contra Neoliberalismo. Em 14 de agosto, por exemplo, o Peace Data publicou uma reportagem intitulada “A chapa Biden-Harris resume como a esquerda ocidental cederá ao populismo de direita”. Em poucos minutos já havia sido compartilhado em seis grupos do Facebook, seguidos por milhares de pessoas.

Ben Nimmo, da Graphika, uma empresa de análise de redes sociais que trabalhou com o Facebook no relatório sobre essa operação, observou que, embora a maioria dos artigos tratasse dos EUA, apenas 5% estavam relacionados às eleições de novembro, aos candidatos ou às campanhas. “Quando falavam de [Joe] Biden ou [da sua candidata a vice, Kamala] Harris, eram hostis”, relatou no Twitter. Nimmo destacou que esse tipo de conteúdo se assemelha aos difundidos pela empresa em 2016, que atacavam a então candidata democrata, Hillary Clinton.

Conflitos armados

O Peace Data utilizou imagens geradas por computador para criar perfis falsos de seus três supostos editores e aparentar ser uma organização noticiosa legítima. Os conflitos armados eram o principal tema dos artigos em inglês, seguidos por pautas relativas aos direitos humanos, publicadas metade em inglês e metade em árabe, idioma em que esses artigos começaram a sair, em abril. Também compartilharam artigos sobre o capitalismo, o racismo e as intervenções militares do Ocidente, e também sobre o Governo turco, Israel e a intervenção saudita no Iêmen.

Segundo o relatório, os russos contrataram a pessoas reais para que escrevessem em inglês, pagando-lhes 75 dólares (400 reais) por artigo. Publicaram anúncios para contratar jornalistas através do Twitter, onde tinham quase 3.000 seguidores, e em páginas de ofertas de emprego como UpWork.com e Guru.com.

As agências de inteligência passaram meses alertando que a Rússia e outros países estavam tratando ativamente de interferir nas eleições de 3 de novembro. John Ratcliffe, diretor nacional de Inteligência desde maio, disse no domingo na Fox News que a China, e não a Rússia, representa a maior ameaça de ingerência eleitoral.

Trump levou meses para admitir a ingerência russa de 2016, algo que o Kremlin negou em reiteradas ocasiões. O mandatário republicano finalmente cedeu à pressão de seu próprio partido e respaldou as conclusões dos serviços de inteligência norte-americanos, embora alegasse que não tiveram efeito algum no resultado que o levou à Casa Branca.

A segurança do voto por correio

Devido à pandemia do coronavírus, dezenas de Estados flexibilizaram as exigências para votar por correio nas eleições presidenciais de 3 de novembro. O presidente Donald Trump reiterou, sem evidências, que esse sistema pode dar lugar a uma fraude. Historicamente, o voto por correio favorece os candidatos do Partido Democrata. Até mesmo o secretário de Justiça, William Barr, pôs em dúvida a segurança das eleições com o voto postal. Entretanto, o subsecretário Jeffrey A. Rosen disse que seria “extraordinariamente difícil para os adversários estrangeiros alterar a apuração dos votos”. Um agente do FBI ouvido na semana passada pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais concordou que os Governos estrangeiros teriam grandes dificuldades para realizar uma fraude eleitoral que pudesse afetar a eleição.

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Se é ‘fake’, não é ‘news’

Alana Rizzo / Clara Becker

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