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Navio humanitário financiado por Banksy pede ajuda com 219 migrantes a bordo

O ‘Louise Michel’ está com o máximo de capacidade e não pode se mover devido ao excesso de peso

Migrantes resgatados no convés do ‘Louise Michel’, na quinta-feira.
Migrantes resgatados no convés do ‘Louise Michel’, na quinta-feira.Santi Palacios (AP)
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GRAFCAN8060. ARGUINEGUÍN (GRAN CANARIA) (ESPAÑA), 02/08/2020.- Los ocupantes de la segunda patera llegada a las costas de Gran Canaria en las últimas horas desembarcan de la salvamar Menkalinan, cuando aún aguardan en el muelle los llegados durante la madrugada en otra patera. EFE/Ángel Medina G.
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Venezuelan migrants stand in line at a health care centre at the border between Colombia and Venezuela, as they wait to return to Venezuela, amidst the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, in Cucuta, Colombia June 16, 2020. REUTERS/Ferley Ospina  NO RESALES. NO ARCHIVES
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O navio humanitário Louise Michel, financiado pelo artista de rua britânico Banksy, precisa de “assistência imediata” depois de ter resgatado mais de 200 imigrantes em perigo no Mediterrâneo Central. Na quinta-feira, a missão salvou 89 náufragos e na madrugada de sábado ajudou outras 130 pessoas que estavam em uma barcaça que afundava. A embarcação, que tem capacidade para transportar no máximo 120 pessoas, navega ao sul da ilha italiana de Lampedusa com excesso de peso e necessita de ajuda, conforme avisou através das suas redes sociais. A tripulação denunciou a falta de resposta aos pedidos de socorro por parte das autoridades europeias, em particular da Guarda Costeira italiana e das Forças Armadas de Malta. “A embarcação não consegue navegar com segurança, está com o convés lotado e um dos botes salva-vidas foi colocado sobre a água em um de seus lados”, dizia um dos tuítes. “União Europeia, faça algo já!”, acrescenta.

A tripulação relatou que, no último resgate, encontrou um migrante morto na barca e o resto das pessoas, que estavam no mar havia vários dias, sofreu queimaduras com o combustível. Além disso, afirmou que na sexta-feira à noite recebeu uma mensagem de ajuda do helicóptero humanitário Moonbird, que voa sobre o Mediterrâneo Central para dar apoio aos resgates marítimos e é administrado pela ONG alemã Sea Watch e pela organização suíça Humanitarian Pilot Initiative ( HPI). A mensagem indicava a posição de uma barca cheia de gente que não se movia e na qual estava entrando água. Os ativistas afirmam que nem as autoridades maltesas nem as italianas deram ouvidos ao alarme e que o Louise Michel foi a única embarcação que veio fazer o resgate. Depois de quase seis horas sem resposta, a tripulação começou a colocar os náufragos a bordo. “Estamos próximos do estado de emergência e ninguém está nos ajudando”, denunciaram no Twitter.

O navio, batizado em homenagem à anarquista e feminista francesa do século XIX, zarpou em segredo há poucos dias do porto de Burriana (Comunidade Valenciana) graças a uma doação de Banksy, que também pintou o navio com a imagem de uma menina com um colete salva-vidas segurando uma boia em forma de coração.

Este navio se junta a outros barcos humanitários que estão na área em missão de salvamento. Depois de alguns meses de paralisação devido à pandemia de coronavírus e apesar do bloqueio burocrático das autoridades italianas, as ONGs voltaram este mês a patrulhar o Mediterrâneo Central. O Sea-Watch 4, da ONG alemã homônima e da ONG Médicos Sem Fronteiras, resgatou 201 migrantes há cinco dias e ainda está esperando que lhe seja designado um porto seguro. O veleiro Astral, da ONG espanhola Open Arms, também realiza trabalhos de busca e resgate na região e, de fato, nesta sexta-feira se aproximou do Louise Michel para entregar alimentos em sinal de solidariedade. O navio mercante Etienne espera há 22 dias nas águas maltesas uma autorização para desembarcar as 27 pessoas resgatadas que leva a bordo.

A retomada das operações de resgate no mar coincide com o aumento das saídas das costas africanas, que não pararam nos últimos meses. Na Itália foi registrado um crescimento acentuado do número de embarcações com migrantes que chegaram diretamente à costa de Lampedusa, vindas principalmente da Tunísia, devido, entre outras coisas, à crise econômica que o país africano atravessa. Na sexta-feira, quatro barcas chegaram à ilha com 74 imigrantes tunisianos a bordo. O centro de primeira acolhida, com capacidade para cerca de 200 pessoas, está colapsado há dias, com mais de 1.000 hóspedes.

A ministra italiana do Interior, Luciana Lamorgerse, explicou em entrevista publicada neste sábado no jornal La Repubblica que, embora haja uma tendência de crescimento dos desembarques em relação a 2019, os números atuais não representam uma emergência. “Basta fazer uma comparação com 2011, o ano das primaveras árabes, em que cerca de 30.000 tunisinos chegaram à Itália enquanto agora chegaram 8.000 desde o início do ano”, esclareceu, acrescentando que “as dificuldades logísticas estão ligadas às medidas de prevenção sanitária estabelecidas para enfrentar a covid-19”. Até esta sexta-feira, 17.985 migrantes desembarcaram na Itália, dos quais 7.067 em julho e 3.968 neste mês, segundo dados do Ministério do Interior.

De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), até agora mais de 7.000 migrantes que tentavam chegar à Europa foram interceptados pela Guarda Costeira da Líbia e devolvidos àquele país africano, que se tornou um Estado falido no qual todo tipo de abusos e torturas de migrantes foram documentados. Além disso, desde o começo deste ano pelo menos 500 migrantes morreram na perigosa rota do Mediterrâneo, de acordo com a contagem das Nações Unidas, embora a estimativa do número real seja consideravelmente maior.

Há 10 dias, 45 migrantes morreram afogados nas águas do Mediterrâneo Central enquanto tentavam chegar à Europa a partir das praias da Líbia no maior naufrágio ocorrido na costa deste país neste ano. A OIM e a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) pediram aos Estados europeus que entrem em ação. “Existe uma necessidade urgente de fortalecer a capacidade atual de busca e resgate para responder às chamadas de socorro”, apontaram. E denunciaram que continua havendo uma ausência constante de um “programa específico de busca e salvamento dirigido pela UE”. Além disso, alertaram que se não forem tomadas medidas imediatas existe um alto risco de outro desastre semelhante.

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