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Republicanos defendem a polícia e dizem que eleitores “não estarão seguros na América de Biden”

Protestos antirracismo em Wisconsin marcam a terceira jornada da convenção. O vice-presidente Pence acusa o candidato democrata de ignorar a violência nas cidades

Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, em Baltimore (Maryland), nesta quarta-feira. Em vídeo, o discurso do vice-presidente contra Joe Biden.
Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, em Baltimore (Maryland), nesta quarta-feira. Em vídeo, o discurso do vice-presidente contra Joe Biden.SAUL LOEB (AFP)
Amanda Mars

Os paralelismos entre o ano de 2020 e o turbulento 1968 voltaram a aflorar na noite passada nos Estados Unidos. A escalada violenta dos protestos contra a brutalidade policial em Wisconsin, onde duas pessoas morreram, marcaram a terceira jornada da convenção republicana. O partido do presidente lançou uma mensagem simples e crucial: Donald Trump ou o desastre. O encarregado de pintar esse panorama sombrio foi o vice-presidente Mike Pence, que prestou seu apoio às forças de segurança e afirmou aos eleitores: “Vocês não estarão seguros na América de Biden”.

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Police stand near a department of corrections building that was on fire during protests, Monday, Aug. 24, 2020, in Kenosha, Wis., sparked by the shooting of Jacob Blake by a Kenosha Police officer a day earlier. (AP Photo/Morry Gash)
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Democratic presidential candidate former Vice President Joe Biden speaks during the fourth day of the Democratic National Convention, Thursday, Aug. 20, 2020, at the Chase Center in Wilmington, Del. (AP Photo/Andrew Harnik)
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Como fez Richard Nixon na convenção que abriu caminho ao seu primeiro mandato, 52 anos atrás, quando o país era um barril de pólvora, Trump procura se alçar como o presidente “da lei e da ordem”. Funcionou para Nixon, que venceu as eleições. O trumpismo repete a receita, embora com notáveis diferenças: já acumula um mandato de desgaste e enfrenta a pior pandemia em um século.

“Na semana passada, Joe Biden disse que a democracia seria votada nas urnas, mas a verdade é que o que vai se decidir nas urnas é a nossa recuperação econômica, a lei e a ordem”, afirmou Pence em seu discurso de aceitação da candidatura a vice-presidente. “A violência deve parar, seja em Minneapolis, Portland ou Kenosha”, enfatizou Pence.

O conclave republicano se reuniu em um dia acalorado, horas depois de a polícia deter um adolescente branco de 17 anos como suspeito dos disparos contra manifestantes na madrugada de terça para quarta-feira em Kenosha, a cidade de 100.000 habitantes no centro desta nova erupção social. Os disparos pelas costas feitos pela polícia contra um homem negro desataram manifestações, saques e incêndios. O boicote dos jogadores do Milwaukee Bucks (Wisconsin), que se negaram a entrar em quadra contra o racismo, obrigou a NBA (liga de basquete) a suspender a rodada dos playoffs.

Pence aproveitou seu discurso para manifestar seu respaldo às forças de segurança, submetidas a duras críticas nestes últimos meses de históricas mobilizações contra o racismo: “O presidente e eu sabemos que a cada dia, quando vocês saem para trabalhar, põem nossas vidas acima das suas”, disse, e recordou ao agente federal Dave Patrick Underwood, morto em maio passado na Califórnia, supostamente por um ativista de extrema direita. Não mencionou Jacob Blake, o afro-americano em estado grave por causa do tiroteio de domingo, nem George Floyd, cuja morte em uma detenção brutal gravada em vídeo desencadeou a maior onda de mobilizações desde justamente esse 1968 em que Martin Luther King foi assassinado.

Tampouco admitiu nenhum problema de racismo no país e atacou o candidato presidencial democrata de ter ignorado a violência nas cidades. “Joe Biden disse que os Estados Unidos são sistematicamente racistas. E que as forças de segurança têm um ‘viés implícito’ contra as minorias. A verdade é que vocês não estarão seguros na América de Joe Biden”, afirmou Pence. “Com o presidente Trump, sempre apoiaremos a polícia e não vamos reduzir seus recursos nem agora nem nunca [...]. Apoiamos as manifestações, mas os saques não são direitos de manifestação, e derrubar estátuas não é liberdade de expressão, e a lei será aplicada a quem faz isso”, acrescentou.

Uns minutos antes tinha tomado a palavra o presidente da Associação Nacional de Organizações Policiais dos Estados Unidos, Mick McHale, para apontar as críticas à polícia como motivo do aumento da violência e do uso de armas de fogo registrado em várias grandes cidades nas últimas semanas. “Infelizmente, o caos acontece quando as autoridades em cidades como Portland, Minneapolis, Chicago e Nova York tomam a decisão consciente e pública de não apoiar os agentes.”

Lara Trump, esposa de Eric, segundo filho homem do presidente, somou-se à tarefa e assegurou que “descapitalizar a polícia” é o novo lema do “radical Partido Democrata” e que Biden “não fará o necessário para manter a ordem”. O candidato democrata apontou o racismo como um problema estrutural nos Estados Unidos e apoiou medidas para evitar os abusos policiais, mas não se uniu às vozes de ativistas que exigem menos recursos para as forças de segurança. “A maior parte de agentes é boa, mas a questão é que os maus devem ser identificados e processados”, disse o vice-presidente da era Obama após a morte de George Floyd por policiais em Minneapolis.

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