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Forças de segurança da Alemanha enfrentam escândalo de infiltrados ultradireitistas

Um grupo anônimo enviou ameaças graças aos dados obtidos em computadores da polícia de Hesse

Comício do partido ultradireitista alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) em Berlim, em 2018.
Comício do partido ultradireitista alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) em Berlim, em 2018.OMER MESSINGER (EFE)

Frankfurt, a capital financeira da Alemanha e sede do Banco Central Europeu, tem um problema com sua polícia que começou em 2018 e ganhou uma perigosa atualidade nas últimas semanas. No último episódio da polêmica, que já custou o cargo do chefe da polícia do Estado de Hesse, Udo Münch, um misterioso grupo enviou, em intervalos irregulares, ameaça a vários ativistas cujos dados pessoais foram consultados várias vezes nos computadores da polícia de Hesse.

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Em todas as ameaças, os responsáveis anônimos pelos e-mails, que se identificavam como NSU 2.0, mencionam uma série de homicídios cometidos pelo grupo Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão), que matou 10 pessoas entre 2000 e 2007. As autoridades regionais, assim como políticos e a imprensa, acreditam que exista dentro da polícia do Land uma perigosa rede de militantes da extrema direita responsável por ameaças de morte contra políticos de esquerda, advogados, artistas e jornalistas.

A primeira delas, dirigida à advogada Seda Besay-Yildiz, de Frankfurt, em agosto de 2018, foi enviada de um fax de uma delegacia de polícia de Frankfurt. “Mataremos a sua filha, em represália por uma multa de 10.000 euros [cerca de 60.000 reais pelo câmbio atual]”, dizia a carta que mencionava corretamente o nome da filha da advogada e seu endereço. “Você é uma turca porca que deveria ir à merda”, escreveram os militantes do NSU 2.0 à advogada, que havia defendido familiares de vítimas do grupo terrorista em um julgamento em Munique.

A advogada recebeu ao todo seis ameaças, a última delas três dias depois do assassinato de Walter Lübcke, político democrata-cristão e ex-presidente do distrito de Kassel. O remetente anônimo a ameaçou com o mesmo destino dada ao político assassinado, do partido centro-direitista CDU.

Em fevereiro passado, os ativistas anônimos arremeteram contra Janine Wissler, líder da bancada do partido Die Linke (A Esquerda) no Parlamento estadual de Hesse. Ela recebeu dois e-mails que continham dados que não eram de domínio público e que foram obtidos em um computador da polícia de Wiesbaden, a capital do Land.

Na semana passada, duas políticas do Die Linke, a deputada federal Martina Renner e a parlamentar estadual Anne Helm, de Berlim, receberam ameaças assinadas pelo grupo. Na quinta-feira, o site da revista Der Spiegel revelou que isso ocorreu também com a conhecida jornalista Maybrit Illner e um colega dela do jornal Die Tageszeitung.

As ameaças e a certeza de que muitos e-mails foram enviados graças às informações obtidas na base de dados da polícia de Hesse acenderam todas as luzes vermelhas no Governo estadual. Seu ministro (secretário) de Interior, Peter Beuth, já não descarta a possibilidade de que exista uma rede de ultradireita infiltrada na polícia. “Espero que a polícia de Hesse não deixe pedra sobre pedra em seus esforços para dissipar esta suspeita”, afirmou o ministro, anunciando a nomeação de um investigador especial para acabar com as suspeitas e identificar se existe de fato uma rede de ultradireita dentro da polícia de Hesse.

O uso dos computadores está provado, mas as investigações não conseguiram identificar o autor ou autores desses e-mails. O jornal Frankfurter Rundschau informou que Idiul Baydar, uma atriz e artista de cabaré de origem turca, tinha sido ameaçada, e que todos os correios que ela recebeu provinham de um computador da polícia de Hesse.

O escândalo que está arruinando a imagem da polícia estadual eclodiu pouco depois de a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciar no fim de junho a dissolução da segunda companhia de combate do Comando de Forças Especiais (KSK) por causa dos vínculos de alguns de seus membros com a extrema direita.

Pouco depois, o ministro federal do Interior, Horst Seehofer, afirmou que o extremismo de direita, o antissemitismo e o racismo continuavam sendo “a maior ameaça para a segurança na Alemanha”. “O número de crimes, o número de familiares, o número de extremistas de direita dispostos a usar a violência continuou aumentando”, disse ao apresentar o relatório anual do Gabinete Federal para a Proteção da Constituição.

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