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Argentina imprime pesos 24 horas por dia, mas continuam faltando cédulas

As duas fábricas de dinheiro desaceleraram a produção porque uma parte de seus trabalhadores adoeceu

Enric González
Cédulas de 100 pesos argentinos, numa imagem de arquivo.
Cédulas de 100 pesos argentinos, numa imagem de arquivo.Agustin Marcarian (Reuters)
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A Argentina tem problemas de dinheiro. A maioria deles é grave e geral, como o déficit fiscal e a falta de acesso ao crédito externo. Mas há um muito concreto: faltam cédulas. O Banco Central não para de emitir moeda durante as 24 horas do dia, a fim de financiar a paralisação econômica decorrente da pandemia, mas as duas fábricas de pesos precisaram desacelerar sua produção porque uma parte de seus trabalhadores adoeceu de covid-19. Alguns banqueiros, como Jorge Brito, presidente do Banco Macro, reclamam com urgência notas de valor mais elevado.

A maior cédula em circulação na Argentina é a de 1.000 pesos (75 reais). E não é fácil encontrá-la. Para cobrir a demanda do último fim de semana, com festa da independência e feriado prolongado, o Banco Central teve que distribuir aos bancos 185 bilhões de pesos em notas de cem (7,50 reais), com o que um modesto saque no caixa eletrônico exigia voltar para casa com um maço volumoso.

Desde o começo do ano, o Banco Central já emitiu mais de 1,35 trilhão de pesos (100 bilhões de reais) para cobrir o déficit fiscal ―a arrecadação caiu 20% desde março― e financiar subsídios como a Renda Familiar de Emergência, que será paga pela terceira vez nos próximos dias. Ela beneficia cerca de nove milhões de pessoas, e cada rodada custa mais de 90 bilhões de pesos (6,7 bilhões de reais). Isso implica, além do risco inflacionário, um enorme esforço físico. Em junho, as duas fábricas do Banco Central puseram em circulação 50 milhões de cédulas de mil, dois milhões de cédulas de 500, 12 milhões de cédulas de 200 e 540 milhões de cédulas de cem.

As rotativas trabalham as 24 horas do dia, com turnos de oito horas. Mas a Covid-19 complicou as coisas. Na fábrica que até 2012 pertencia à empresa Ciccone Calcográfica (a estatização não foi capaz de ocultar um caso de corrupção que levou à condenação do ex-vice-presidente Amado Boudou), 31 funcionários contraíram a doença e foi preciso paralisar a produção em duas ocasiões, a segunda por quatro dias. Na fábrica de Retiro houve apenas quatro contagiados. A Casa da Moeda afirma que a situação está normalizada, mas mantém equipes de reserva para suprir possíveis novas baixas.

A necessidade de dinheiro vivo não cessa. O próximo pagamento de subsídios inquieta novamente os bancos, encarregados de sua distribuição. Jorge Brito, do Banco Macro, e outros responsáveis por entidades de crédito consideram urgente o lançamento de uma nova nota de 5.000 pesos, no mínimo, para aliviar a escassez de papel-moeda. Brito afirma que os argentinos “duplicaram a quantidade de efetivo” com o qual lidam e se queixa de que as notas pequenas dificultam o transporte e a armazenagem de dinheiro.

O Banco Central e o presidente Alberto Fernández estão há meses estudando o lançamento de uma nota de 5.000 pesos, mas preferem por enquanto adiá-la, para não suscitar sentimentos inflacionários. Desde o início da pandemia e da paralisação econômica decorrente, a inflação em junho foi de 2,3% (2019 fechou com 53,8% anual) e se espera chegar a dezembro de 2020 com menos de 40%, se a gigantesca massa monetária emitida nos últimos meses não provocar distorções de preços.

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